Deception Circus Escreveu:Frozen Nature Escreveu:Saudações ao novo lançamento de Corpus Christii. E também à sua carreira longa e consistente.
Quanto ao resto que se tem debatido neste tópico: há uma questão importante, que é pouco debatida, talvez por ser menos conhecida, por assim dizer. Há muita gente, como eu, por exemplo, que se afastou progressivamente dos festivais ditos underground, ao longo dos anos. O ambiente social é muito pouco recomendável. Sejamos sinceros: aquela gente estaria ali se não houvesse cerveja? Duvido muito. Quem diz festivais, diz recintos dedicados à subcultura metálica, que desde há vários anos, são de qualidade muito duvidosa. E quem conhece o resto da Europa Civilizada e Ocidental, sabe bem a diferença que eu refiro.
Criou-se, em Portugal (pelo menos no Norte. Já vivi em Lisboa há uns anos, e realmente senti uma certa diferença.), a ideia de que o apreciador de metal é um alcoólico, ou consumidor de estupefacientes, degenerado social, que não se sabe comportar em público. Tem cabelo comprido (ou rapado), anda sempre uniformizado com a sua camisola de banda, e restantes adereços metálicos, (comprar álbuns é que não, mas pavonear-se para o resto da tribo, qual comportamento adolescente, isso é factor indispensável) e tem um conhecimento musical a roçar a nulidade. E uma colecção de álbuns de Metal tão rica como o frigorífico de um Etíope.
Que é que acontece, o Metal do Underground, como se diz, que deveria ser um acontecimento cultural digno desse nome, fica ao mesmo nível de um qualquer festival de hip-hop na Cova da Moura, ou outro sítio engraçado do género. Onde escrevem a giz, por cima da barraca "Discoteca." Em alguns casos só falta isso, infelizmente.
Isto afasta a maioria silenciosa. Tipos que realmente se interessam pela música (a que vale a pena, claro.), que até podem não ter cabelo comprido nem barba à Jesus Cristo (sim, porque quando se trabalha há certo tipo de exigencias), mas que andam nisto há muitos anos, já compraram centenas de álbuns originais, e pronto, não são "da cena", como já foi dito, mas simplesmente gostam de Metal.
Esses promotores sabem isso. Ou seja, uma vez que a maioria dos festivaleiros está "na cena", porque é "fixe", é uma subcultura, é do contra, etc, de facto talvez compense mais contratar uns tipos estrangeiros (se forem do Norte Europeu ou do Leste, melhor ainda. Os gajos até são altos e loiros, e o paganismo nórdico anda na moda outra vez, entre as hostes).
A malta está-se bem a marimbar para a música (bom, em certos casos, chamar-lhe música é figura de estilo.), e interessa-se, isso sim, por toda a cerimónia "social" envolvente. E claro, beber uns canecos com força. Devem contar-se pelos dedos das mãos, a quantidade de indivíduos que assiste aos concertos sóbrio. Portanto, cientificamente, acaba mesmo por ser irrelevante, para o festivaleiro, as bandas que estão a actuar.
Bem, cada um tem o que merece. Este "um", leia-se o povo português.
Não te imaginava tão esclarecido e consciente do estado do panorama metálico nacional. Aplaudo-te pela lúcida descrição desta triste realidade.
E não, desta vez não estou a ser sarcástico.
De resto, no seguimento dos assuntos que têm sido abordados - nomeadamente a questão dos promotores que tentam sempre cravar uma borla às bandas -, a minha opinião é de que este caminhar para a mediocridade se deve exactamente às bandas que aceitam tocar (festivais, abertura de grupos estrangeiros, etc) em condições míseras.
Mas a malta quer é ter muitos concertos agendados no MySpace e poder dizer que já abriu para as bandas X e Y. Os promotores agradecem.
Afinal,
Metal 2010.
CultOfTheDead Escreveu:Concordo totalmente com o que foi dito.
Realmente essa é a triste realidade que o nosso metal vive. É mais que certo que se a cerveja e o bar não existissem em grande parte dos fest/concertos a pouca assistência já habitual reduzia-me a uma assistência que quase se podia contar pelos dedos.
No meu caso não é assim, se quiser ir ao bar vou no intervalo entre as bandas, vejo sempre os concertos de inicio a fim.
Mesmo quando são 2 ou 3 bandas que nem sequer conheço a abrir para um grande nome internacional vou para lá cedo para ver as bandas (normalmente nacionais), posso dizer que já fiquei a conhecer excelentes bandas dessa forma.
Não tenho cabelo comprido nem rapado, não faço questão de dizer que sou TVRE ao usar uma shirt de uma banda Black Metal Norueguês dos anos 80 ou 90, aliás, acho ridiculo que usa só para se mostrar.
O estado do metal em Portugal é estranho, cada vez aparecem mais e melhores bandas.. e em "compensação" têm gente deprimente para os "apoiar".
Sou novo, tenho apenas 19 anos mas não me considero metaleiro por considerar... gosto de metal, acompanha-me em qualquer hora, sinto o metal como parte de mim, gosto de ter os álbuns das bandas que gosto, do Mainstream ao underground, do recente ao mais old-school.
é uma pena esta realidade que vivemos, não só no metal mas também noutros estilos, há pessoal que se veste todo fashion e vai para a discoteca deitar umas vodkas abaixo porque sim, é bom e com sorte ainda engatam uma miuda ou duas.
Espero sinceramente que um dia tenhamo gente que mereça "saborear" o excelente trabalho das bandas que andam por aí, nem precisam ir muito longe, que há vários excelentes exemplos.
Claro que ainda há gente que vive o metal, que acha que o metal é mais que cerveja, ser mauzão, andar de preto e sempre com cara de mau, e ainda bem.
E pronto, é isto.
Vulto Escreveu:Tudo o que foi dito aqui em relação ao nosso metal já é habitual - infelizmente -, no entanto também já cansa estar sempre a ler as mesmas coisas, entendo o vosso descontentamento, mas pouco há a fazer.
Sinceramente, era deixar de existir concertos por um tempo indeterminado para ver se as pessoas abriam finalmente os olhos, e já estivemos mais longe de isto vir a acontecer, acredito que existam bastantes organizadores que já perderam e/ou continuam a perder bastante dinheiro por querer apoiar o "nosso metal".
De resto, este tópico pertence a Corpus Christii e a questões relacionadas com.
Tratando-se de um assunto interessantíssimo, não há necessidade de inundar a thread de Corpus Christii com off-topics. Por isso, sugiro que continuemos aqui.