
Sem me alongar muito, penso que um dos sistemas de gestão mais reveladores dos problemas que o entrevistado apresenta, é o sistema utilizado nos call centers. Quem teve a oportunidade de trabalhar num call center encontrou de certeza parecenças com o dispositivo Panóptico de Michel Foucault, descrito no livro Vigiar e Punir.
É um sistema de vigilância, hoje aplicado em muitas empresas, que implementam um conjunto apertado de regras baseadas precisamente numa "produção total", que colocam os funcionários numa posição em que, por um lado, estão permanentemente focados em atingir os objectivos propostos (nos call centers istos é chamado de "formação contínua"), leia-se percentagens, números, TMA's (tempo médio de atendimento) e por outro, implicitamente ligado a estes objectivos, está a precariedade dos contratos de trabalho temporário (renovados mensalmente e com base nos objectivos atingidos).
É óbvio que em todos os trabalhos a avaliação é feita com base na produção do trabalhador, contudo, o que me parece que acontece actualmente, é que as empresas exigem máxima e perfeita produtividade aos seus funcionários, levando-os muitas vezes ao limite, com condições de trabalho que os mantêem focados em:
1º alcançar os objectivos traçados
2º para manter os seus postos de trabalho, tendo ainda por cima a consciência da sua própria precariedade, do crescente desemprego e da situação económica global, que ainda pode ser usada como pretexto para cortar despesas.
Isto para não falar da natureza do própria trabalho, das condições, funções, etc..
O resultado deste tipo de sistema, implementado pelas empresas, para extraír do trabalhador o máximo ao mínimo custo, ameaçando-o subtilmente (ou não) com o desemprego através da sempre presente precariedade, podem ser precisamente patologias crónicas (depressões, etc...) e em situações extremas como o suícidio, como o entrevistado esclarece.
Penso que actualmente não se trata bem da forma como o sistema é implementado, trata-se das próprias condições externas, leia-se economia, às empresas que as condicionam e claro, dos próprios objectivos das mesmas: fazer dinheiro. Aliem a necessidade de uma grande empresa fazer dinheiro, a uma clima economicamente desfavorável, e adivinhem o resultado..
Reforço que vejam o filme Nas Nuvens do Jason Reitman que está a agora no cinema, que foca o desemprego e a implementação de despedimentos por call center (o quão desumano é isto??) nos EUA.