Poesia

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Mensagempor Visitante » terça mar 11, 2008 10:35 pm

Creio que me lembro de haver um antigo tópico dedicado a inserir poesia,mas acho que apagaram.Sendo o caso (acho),vou inserir aqui alguma poesia da minha autoria,e peço a quem queira que contribua com a sua.Estes que eu vou inserir já datam de 2004 até 2007,creio.

Podem usar o formato que quiserem,narrativa,prosa,etc.

Caso queiram,podem dar críticas (de preferência constructivas,eu sei que algumas minhas são foleiras mas... ;__; ).

Destruição Lenta

Sento-me na madeira fria de um banco velho,meio apodrecido.
O alívio percorre-me o corpo,e recupero o fôlego.
Fujo daqueles que me desejam roubar o que me ainda me deixa de pé.
Desejam ver-me morto,arrastado para as portas da sua ganância.

Porquê? Há razão de existirem sanguessugas na minha mente?
Será que fui eu que as atraí? Porque razão cometeria eu tal erro?
Despejo a minha vida para o lazer dos outros,perdendo sequer noção da minha história.
Eles anseiam ver-me atravessar o mar da sua vingança.

A cada segundo existem sombras nos confins mais profundos arrastando-me para o seu inferno.
Bem fundo nos cantos dos seus próprios mundos,onde ardem pensamentos maléficos.



Vida através da serenada gelada

Sou o bardo que narra contos aos oprimidos,deixando restos de esperança nas suas mentes frágeis.Percorri o meu mundo,nada encontrei...procuro agora um novo onde possa aprender.

Há quem diga que viver na ignorância preserva a felicidade humana.Eu digo que o conhecimento implica a perda da inocência.É a pura verdade.Procuro nestas ideias elucidamento.

Terei que viver eternamente percorrendo vales de memórias,procurando a inocência perdida que há muito tenho saudades? A pequena criança em mim,que vivia livre do mundo.

Sinto-me perdido.Porque tenho eu este destino que me prende? Quero acabar com este tipo de vida.Sou um ser humano.O tempo escasseia,e sinto-me extremamente fraco.

Por vezes penso que a ignorância me teria deixado bem.Mas arrisquei e decidi aventurar-me no mar da verdade.Há uma foice que ceifa a sanidade a cada segundo.

Posso agora dizer que o mundo desvenda os seus segredos para mim,gradualmente,à medida que o tempo avança.Pago caro por estas acções,e tornou-se um vício.

Perco-me na imensidão das vidas que me correm pelos olhos,procurando alguma réstia de felicidade que me possam devolver em troca da que dou aos outros.

Egoísmo?Talvez,mas os erros foram meus por ter escolhido esta estrada,e agora não vejo outra alternativa.Gostava de voltar a ter aquele sentimento.

Passo ínumeros momentos parado,com o nevoeiro batendo-me na face.Traz-me saudades do passado.Nostalgia...E também,felizmente,de bom conforto.

Procuro outros rumos no vento.Resta-me a esperança que exista outro melhor algures,e que me deixem voar até lá.É uma jornada longuínqua.

São todos frios.A cada passo que dou,todos os caminhos tentam negar-me o seu travesso.Vivem com medo de que lhes sejam roubados algo.

No entanto,não sou ladrão.Aliás,quem fui roubado fui eu.E no entanto,não é vingança que procuro.Não me existe esse mal no coração.

Todos nascemos com a noção do bem e do mal no coração.Ambos lutam num campo gelado chamado "alma",presente em quase todos nós.

A tentação para cair para cada lado,não sei se depende de nós,ou de alguma força superior.Apenas sabemos que ambos existem.

Só podemos realmente saber o que ambos significam passando por eles.É o meu caso.Vi que o meu ódio,a mim,nada me deu.

Apenas angústia e o desejo de eliminar todas as advertências.Descobri que não era suficientemente forte para ele.

Não existe controlo no mal...apenas raiva pura e descontrolada.Acabamos nós mais magoados do que os próximos.

Tive que mudar de lado e trair um passado obscuro.Deixou-me um desgosto enganador (ainda hoje me puxa).

Esse lado de mim deseja que eu volte.E continua a consumir-me restos.Mas não irei voltar para lá.

Conheci seres como eu.Perdidos,mas que procuraram por objectivo e finalmente o encontraram.

Será que há realmente razão para continuar a ser como sou,se não existe algum progresso?



Resta-me esperar...e manter a esperança.

Mas até quando irei conseguir aguentar?



São dos mais expressivos que tenho registo de ter feito. :)

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Ju-On
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Re: Poesia

Mensagempor Ju-On » quarta mar 12, 2008 9:36 pm

:beer:

Ermo [RIP]

Re: Poesia

Mensagempor Ermo [RIP] » sexta mar 14, 2008 11:33 pm

Dedico as seguintes palavras a uma pessoa que me é muito especial ...

Amanhã vou para Tilburg
Espero não chegar tarde
Mas também ... que se lixe!
Não vou ver Electric Wizárde ...

Miguel Quinto
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Miguel Quinto

Mensagempor Miguel Quinto » segunda mar 17, 2008 4:42 pm

Hedonia do pensar

Com um silvo disperto...
liberto, abro os olhos do ser,
com o corpo dormente, pes e maos feridas,
sinto o sangue da superficie secar,
dos estigmas que estão a fechar.

Ter a certeza de que o acaso,
é um conjunto de leves,pesados,
quentes e humidos dançarinos.
todos dentro do mesmo vaso.

Compreender por fim a palavra amar..
compreender por fim o instinto procriar..
conseguir por fim a alma elevar..
conseguir por fim um filho gerar..

Vontade de amar

sinto que as feridas da alma
são diferentes... apenas se calam.
e consigo ouvir por fim, que o tempo
segue, como o rio segue tambem

E como todo o peixe, gosto de nadar
e como todo o homem de pensar
por isso prefiro construir um barco
para que o rio o leve até baco

é então tempo de amar, mergulhar..
ser amado, lubridiado e enganado.
por mim mesmo... gosto de efeitos
por isso faço as causas.

Mas é isto a vida?
se amo tenho de contribuir.
volto então para a minha solidão
procurar uma naco de pão.


Hedonia do pensar

Quero o prazer imediato..
ora silvo como uma serpente,
ora hiberno no sentimento.
Disperto vejo uma estrela cadente

é então hora de me levantar.
meter o barco ao rio
ora sigo o curso a remar
ora deixo a corrente me levar..

Gosto de remar...
para boas margens ou miragens
ajoelhar me na areia, beijar
o sagrado chão e profundamente adormcer

Miguel Quinto 17/3/2008

Somos livres embora tenhamos algemas com duas chaves

Liberdade de expressão

Vejo uma nuvem a passar..
e todo o paraiso desabou,
tenho liberdade de expressão
para um mascara formar

a liberdade de expressão
gosto do sentido dela
é ai que deixo de ser Deus
é ai que deixo de amar

sois uns venosos, cobardes e rasteiros
toda essa vossa filosofia de padre
mete meio mundo a rezar
mete meio mundo a trabalhar

vamos rapido dizer a todo o mundo
vamos rapido mataram um Deus
eu sou um pecador mas digote
reza meu filho e serás abençoado

precioso tempo que perdeste
tavas melhor a trabalhar
metias a enchada na terra
concerteza algum fruto ia dar

Não tenho culpa..
apenas vi multidão e igreja,
no salvador nem me deixaram pensar..
meti fé em orações até delirar.

instinto de poeta

Quero saude e prazer,
quero isto para meu corpo,
para isso tenho de me mascarar..
ah.. agradavel tarefa..

Dizer uma piada sem crer nada em troca
mas ja com o discurso pre planeado
para o grande orgasmo desejado.
Sem remorsos tecemos na roca..

Quero te.. até a tua alma,
por isso me ofereço em tudo
menos a minha liberdade
essa é minha até que fique mudo

apenas foram.. miragens!
ainda não podiam decidir
apenas podiam mentir
foram.. doces paisagens!

17/3/2008

O liricista

Senhores da igualdade e justiça
senhores da guerra e chacina
precisam de um inimigo
como o ladrão de cobiça

vem da falta de ignorancia
esses tão belos ideais
aumentam a vontade de trabalhar
daqueles quem não os querem procurar

igualdade só para nosso povo
mas não lhes podemos dizer isso
logo morreriam de compaixão
daqueles que morreram em serviço

ja não se usa o termo
apenas porque este mudou
deixou de ser pilha
passou a ser economia


Não sou artista

Não sei construir as pontes.
pontes necessarias para o sentimento,
voei nas asas do conhecimento
só ganhei o esclarecimento.

Arte é para aqueles.
nasceram inteligentes,
inteligencia sem sibilares
fazem musica sem estrofes.

esses completam o corpo.
o que nos fazemos é..
remendar o ferido porco.
que saiu da pocilga

Somos os barulhos da selva
o rastejar de uma cobra amiga.
a visão de uma águia amestrada
que te guiam até à inocencia perdida

Miguel Quinto 18/3/2008
Última edição por Miguel Quinto em terça mar 18, 2008 4:31 pm, editado 4 vezes no total.

Neburis [RIP 2010/07/17]

Re: Poesia

Mensagempor Neburis [RIP 2010/07/17] » terça mar 18, 2008 7:30 pm

Não sei se deva fazer edit ao primeiro post e adicionar mais,mas caso seja preciso,informem-me sff.

Outro que data entre 2004 e 2007...

Espiral

Quando olho para ti, vejo silêncio em mim.

Nenhuma palavra escapa. Mas o sentimento transborda.

As mãos tremem. As defesas morrem.

A dúvida e espectativa existem.



A saudade reina,O tempo pára,

O pesar do coração faz-me cair.



Subo os degraus novamente,

Bengala de espinhos presa na mão.

Como um velho olho para trás,

Revejo inúmeras experiências.



Muitas memórias. Algumas boas,muitas más.

Mas não é a altura.

O sangue escorre da mão,o tempo urge.

Antes que seja tarde.



Tudo porque o que quero está no topo da torre.

Torre essa,feita de degraus ensanguentados.

Percorri cada racha da pedra fria.

Sou o mestre,este é o meu lar.



Só desejo o descanso que nunca tive,

A felicidade que nunca esteve presente.

Sou humano.

Quanto mais possuo,mais quero.



Que dizes tu?

Tu,cujos lábios são selados de gelo cristalino,

Dona das memórias presentes nas ondas,

Cantarias sequer para um velho?



"Enfim".



Não existe começo nem fim nesta palavra/história.

Esforço-me para viver um conto de fadas.



Para quê,diz-me.

É assim tão preciosa a luz no fundo do túnel?



Diz-me.

Tens a chave da minha alma.


subathory [RIP]

Re: Poesia

Mensagempor subathory [RIP] » terça mar 18, 2008 8:04 pm

Anarchy Escreveu:Vida através da serenada gelada

Sou o bardo que narra contos aos oprimidos,deixando restos de esperança nas suas mentes frágeis.Percorri o meu mundo,nada encontrei...procuro agora um novo onde possa aprender.

Há quem diga que viver na ignorância preserva a felicidade humana.Eu digo que o conhecimento implica a perda da inocência.É a pura verdade.Procuro nestas ideias elucidamento.

Terei que viver eternamente percorrendo vales de memórias,procurando a inocência perdida que há muito tenho saudades? A pequena criança em mim,que vivia livre do mundo.

Sinto-me perdido.Porque tenho eu este destino que me prende? Quero acabar com este tipo de vida.Sou um ser humano.O tempo escasseia,e sinto-me extremamente fraco.

Por vezes penso que a ignorância me teria deixado bem.Mas arrisquei e decidi aventurar-me no mar da verdade.Há uma foice que ceifa a sanidade a cada segundo.

Posso agora dizer que o mundo desvenda os seus segredos para mim,gradualmente,à medida que o tempo avança.Pago caro por estas acções,e tornou-se um vício.

Perco-me na imensidão das vidas que me correm pelos olhos,procurando alguma réstia de felicidade que me possam devolver em troca da que dou aos outros.

Egoísmo?Talvez,mas os erros foram meus por ter escolhido esta estrada,e agora não vejo outra alternativa.Gostava de voltar a ter aquele sentimento.

Passo ínumeros momentos parado,com o nevoeiro batendo-me na face.Traz-me saudades do passado.Nostalgia...E também,felizmente,de bom conforto.

Procuro outros rumos no vento.Resta-me a esperança que exista outro melhor algures,e que me deixem voar até lá.É uma jornada longuínqua.

São todos frios.A cada passo que dou,todos os caminhos tentam negar-me o seu travesso.Vivem com medo de que lhes sejam roubados algo.

No entanto,não sou ladrão.Aliás,quem fui roubado fui eu.E no entanto,não é vingança que procuro.Não me existe esse mal no coração.

Todos nascemos com a noção do bem e do mal no coração.Ambos lutam num campo gelado chamado "alma",presente em quase todos nós.

A tentação para cair para cada lado,não sei se depende de nós,ou de alguma força superior.Apenas sabemos que ambos existem.

Só podemos realmente saber o que ambos significam passando por eles.É o meu caso.Vi que o meu ódio,a mim,nada me deu.

Apenas angústia e o desejo de eliminar todas as advertências.Descobri que não era suficientemente forte para ele.

Não existe controlo no mal...apenas raiva pura e descontrolada.Acabamos nós mais magoados do que os próximos.

Tive que mudar de lado e trair um passado obscuro.Deixou-me um desgosto enganador (ainda hoje me puxa).

Esse lado de mim deseja que eu volte.E continua a consumir-me restos.Mas não irei voltar para lá.

Conheci seres como eu.Perdidos,mas que procuraram por objectivo e finalmente o encontraram.

Será que há realmente razão para continuar a ser como sou,se não existe algum progresso?



Resta-me esperar...e manter a esperança.

Mas até quando irei conseguir aguentar?



São dos mais expressivos que tenho registo de ter feito. :)



Bal-Sagoth :metal:

Neburis [RIP 2010/07/17]

Re: Poesia

Mensagempor Neburis [RIP 2010/07/17] » sábado abr 05, 2008 8:26 pm

Tenho aqui uma letra para uma música que me ocorreu há uns dias,creio que ficou porreira até...

Carpe Diem


The sun is already gone
Yet work is all but done
Failed to fulfill your promise
Now you must drown in remorse

Jealousy invades the spirit
Of the one who did not win
The daily bread of life
So alas,he must hunger

Is there no fire in your eyes?
No passion in your mind?
Destined to see dreams fall
And it’s all because of you

Carpe Diem,my friend
Life has come to an end
Left with the guilt of misdeeds
No crop growed from rotten seeds

Carpe Diem,my friend
Your will should not have bend
A parasite among the hive
Where gluttony will strive

Wicked temptations
Blinding the honest choice
Climbing the wicked tower
Only to fall again

Carpe Diem,my friend...


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Armageddon
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Re: Poesia

Mensagempor Armageddon » quarta ago 19, 2009 10:34 pm

Ó Lua, se fosses minha
Poderia ouvir todas as tuas histórias
Ver tudo o que viste, saber o que sentis te
Nos primórdios agonizantes da tua existência
Quando, agora, apenas mostras frias cicatrizes
Marcas que guardarás para sempre
Sobre a tua fina pele cor de prata
Ó Lua, quanto já viste
Quanta alegria e tristeza já presencias te
Quanta dor e angústia já choras te
Um aterrorizante passado
Escrito na rocha
Uma história que nos escondes
Como a tua mais bela face
Ó Lua, porque nos olhas
Com os teus olhos sangrentos?
E porque nos acompanhas
Naquelas noites em que tudo se esconde
Serves de espelho para a luz que partiu
Aquela luz que não sabemos se voltaremos a ver
A luz que sempre reflectes e que ilumina a nossa alma
Quando tudo é tão frio e sombrio
Ó Lua, estarás aí para sempre,
Ou desaparecerás para sempre como um falso amor?

Quando apenas o eco do teu choro
Ecoar no ar gelado,
Aí serás só minha...

---------------------------------------------------------

A tua pele está fria
O relógio congelado num eterno minuto
Os teu lábios estão roxos,
Pálidos, sem qualquer sinal de vida
No entanto conservam aquele teu sorriso
Que tantas vezes me tranquilizou
Pareces tão serena...No entanto
É impossível ver qualquer sentimento em ti
Partis te para um lugar
Onde não existem emoções nem tempo...
Onde as palavras não magoam
Em que não há dor nem prazer
Nem tristeza nem alegria
Se pelo menos me pudesses dizer
Para onde foste...
Se pelo menos me pudesses levar contigo...
Agarro as tuas mãos
Enquanto um tremendo arrepio
Me percorre o corpo
Será que as sentes?
E queres mesmo muito agarrá-las
Mas algo mais forte te impede...
O teu coração não bate
Jamais voltará a fazê-lo
É algo que custa a aceitar
Ver-te assim, petrificada
Sem vida, morta...

À noite sento-me à beira mar
Procuro a tua voz
No rebentar das ondas
Olho o céu em busca de uma estrela
Em que viva o brilho do teu sorriso
Procuro paz no silencio
Tento encontrar te em alguém
Em cada rua, em cada quarto
E aprendo, a pouco e pouco,
Que a morte é irreversível
Gostaria de acreditar
Que um dia nos voltaremos a ver
Mas, por agora
Limito-me a secar as lágrimas
E a sobreviver...
Out there someone's dying...hopefully

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darkiske
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Re: Poesia

Mensagempor darkiske » quarta ago 19, 2009 10:40 pm

(que bacano! nem sabia deste tópico!)
Última edição por darkiske em segunda jan 24, 2011 8:23 pm, editado 1 vez no total.
I’m an ice sculptor. Last night I made a cube.

REG [RIP 2011/01/28]

Re: Poesia

Mensagempor REG [RIP 2011/01/28] » quarta ago 19, 2009 10:43 pm

...
Última edição por REG [RIP 2011/01/28] em segunda jan 24, 2011 12:32 am, editado 1 vez no total.

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Re: Poesia

Mensagempor darkiske » quarta ago 19, 2009 10:51 pm

Sou fã do surreal e do abstracto. Constrói mini-prosa e aldraba o fórum. Chama-lhes Prosa Poética e posta. Vou fazer isso.
I’m an ice sculptor. Last night I made a cube.

Neburis [RIP 2010/07/17]

Re: Poesia

Mensagempor Neburis [RIP 2010/07/17] » quarta ago 19, 2009 11:00 pm

Fruto Negro

Cambaleando por negrumes, pelas estrelas do céu interior
envolto num confinamento subliminar, que me navega à origem
de tudo o que foi e tudo o que será!...E tudo, levará.

Desço da montanha onde a névoa toca a pedra.
Estou sóbrio, mas fraco...e tropeço.
Dorme a meu lado esta sombra, reflexo inerte
das minha decadência e frieza.

Mergulho neste amor odioso e sufocante,
conforta-me nesta viagem carnal e luxuriosa.
A alma treme. E nada te devo, nada te tiro.
Apenas me entrego ao prazer que me dás e que me deste.

A cada grito, um passo mais próximo da morte.
Mas tu delicias-te. E gritas! E gritas...
Perdes-te nessa cacofonia melosa, vergonhosa.
Doce fim, o teu.

Diz-me, viste a luz?
Ou viste-me a mim?


Olhando agora para os meus antigos, nota-se algum progresso. :)

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Re: Poesia

Mensagempor darkiske » quarta ago 19, 2009 11:04 pm

a escrita é isso: progressão. Está mais melódico este que cenas anteriores, encaixa melhor.
I’m an ice sculptor. Last night I made a cube.

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Re: Poesia

Mensagempor pantufa » quinta ago 20, 2009 12:28 am

.
Última edição por pantufa em domingo set 18, 2011 1:10 pm, editado 3 vezes no total.

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Re: Poesia

Mensagempor Old_Skull » quinta ago 20, 2009 2:48 am

P'ra quem tiver paciência... Poesia é PHODA!

FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimor do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attaché-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico hara-kiri
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, VIM na cozinha, VIM na casa-de-banho, VIM no Politeama, VIM no Águia D'ouro, VIM em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te arrulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Moshe Dayan que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o Astro, não é filho? O cabrão do Astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus zodíacos: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? A-ni-ki-bé-bé, a-ni-ki-bó-bó, tu és Sepúlveda, tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! 'Camóne' Luís Vaz, amanda-lhe com os decassílabos que eles já vão saber o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal,zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr o marfil, homem, andas numa alta, pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer-se dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas é sempre o mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes! Fora o arbitro, gatuno! Qual gatuno, qual caralho! Razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Vão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, afinfa-lhe o Bruce Lee, afinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o hoscópio, dois ou três ovniologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-chula, pop-chula pop-chula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, desopila o fígado, arreda, T'arrenego Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI


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