opositivo Escreveu:Se considerarmos a música como uma arte de maior relevo, acreditamos que o apelido de compositor, instrumentista ou vocalista venha sempre acompanhado de alguma competência ou de alguma forma de talento que permite distinguir o artista do simples ouvinte. Mas esta expressão artística tem vindo a sofrer uma degradação qualitativa, alimentada por vários factores :
Para simplificar, podemos dizer que a democratização da musica foi possível logo que baixaram os preços dos instrumentos e que aumentaram o número de canais de televisão temáticos dedicados á nobre arte. Isto criou uma ambiguidade equacional nas mentes de um público viciado por Karaoke e de programas idiotas onde a grande maioria dos participantes canta desafinana. A antropologia ou a Musicologia vão desvendar nos proximos 1000 anos este fenómeno de sociedade, mas sem poder esperar tanto tempo, digamos que, espelhou-se a ideia fantasmagórica que a fortuna e o reconhecimento esperavam todos aqueles que estavam dispostos a formar uma banda de música. Bastava para isso passar algumas semanas enclausurados numa garagem, decorar 3 acordes á pressa, vestir roupas extravagantes, e subir finalmente para cima de um palco para abraçar a tão desejada gloria!
Essa finalidade é alimentada pelo o desejo de reconhecimento que o ser humano procura através da aprovação dos outros. Isto leva-nos a assistir a um espectáculo degradante que mais se parece com uma psicose colectiva.
Para estes grupos cantantes, a musica só serve de suporte para alcançar o minuto de fama. Umas décadas atrás, esse reconhecimento era o resultado possível de um esforço continuo; Um Autor podia,ou não, conquistar um público atento e exigente...
Nos nossos dias acontece precisamente o contrário: Se eram precisos vários anos para um músico fidelizar um grupo de seres humanos e construir uma carreira, hoje alguns segundos de fama no youtube ou num concurso qualquer, catapultam um desconhecido eufórico para a luz dos projectores !!
( http://www.youtube.com/watch?feature=pl ... AE1Dz7SG8#! )
Uns tantos aplaudem, encorajados pelo o histerismo de uma apresentadora formosa mas, logo a seguir ao genérico patrocinado pelo o bacalhau « Pascoal», esta nova estrela recai em chamas na sombra do anonimato com o dobro da velocidade. Cuidado ! As vertigens dessa popularidade artificial podem levar outro Ze-maria a simular mais um suicídio...
Normalmente, era isso que podíamos esperar de outro que tal que vindo das Américas, onde namorava nos clubes de terceira idade nova-iorquinos, aterrou em Lisboa, de nariz empinado, para alimentar o fluxo de excrementos televisivos servido diariamente pelos canais nacionais. Meio homem, meio vison, também ele apelidava-se de «Artista» com suposto renome internacional. A sua especialidade nas plateias era de divulgar o bom gosto e a boa forma de estar a todos nós, broncos e mal cheirosos, que, por termos sido educados numa estrumeira, nunca alcançaríamos os alicerçares e a elegância de sua majestade. « Noblesse oblige ! »
O panorama dos anómalos da música Portuguesa já tinha atingido uma profundidade vertiginosa com as letras do Toy e os bramidos do Zé cabra. Mas uma notícia nunca é totalmente má quando logo de seguida não surge outra pior: Infelizmente para os nossos ouvidos, depois de ter gesticulado em frente ás câmaras da TVI numa quinta repleta de anónimos do mesmo calibre, o nosso profeta da boa postura decidiu "cantar" !! (Não encontrei um verbo para quem pratica tal coisa em Play back ).Receio que um novo patamar do caricato seja atingido com a chegada do conde na família já debilitada, dos trovadores Portugueses.
Um artista, entre outras vocações, tem um papel implícito de comunicador, até mesmo de embaixador da cultura de um Povo. Ao actuar, ele vai influenciar um conjunto de outros seres humanos que por sua vez, vão influenciar outros tantos. Assim, a cultura de uma nação transmite-se, ganha visibilidade e distingue as pessoas que a preservam. Um grupo é inconfundível de outro porque cada um tem uma identidade própria. Com o passar dos séculos e dado a importância da actividade artística que marca a suposta evolução da espécie humana, nós Portugueses, deveríamos ter já alcançado o respeito do resto do mundo com o nosso talento nesta disciplina. A Marisa, Os Madredeus e a Dulce Pontes já conseguiram, num registo académico, mostrar ao mundo um Portugal moderno onde foi possível fazer o luto de uma tradição que já cheirava a naftalina, cortando uma vez por todas o cordão umbilical com a grande Amália. Mas tirando o Fado e seus derivados, que estilo ou que banda poderíamos nós apresentar num festival como tendo uma sonoridade lusófona genuína e inconfundível quando á partida 95 % da nova geração já optou por cantar em inglês ?
Para afundar mais o barco , estamos a assistir, desta vez na Música ligeira, ao espectáculo cómico-mediático da comercialização e promoção do primeiro trabalho musical do maior maneiroso que as noites de cabaré jamais expeliram. Ele já mostrou no Portugal dos pequeninos, as suas habilidades de cabide humano multicolorido mas será que as maravilhas de uma propaganda ajustada nos canais de TV irão facilitar a venda de uns tantos milhares de cópias de mais um atentado musical lusófono na quadra natalícia?
Acredito que sim !
Os dólares da esposa e ás competências do seu agente desenvolto, vão fascinar o nosso povinho. Hipnotizado por marcas de luxo que não pode comprar e ávido de cultura nacional pré-mastigada, o Zé Povo encontrará o dito invólucro com facilidade, exposto numa grande superfície entre os pacotes de batata frita com sabor e as fraldas descartáveis.
Aqui não se trata de definir quem é ou não é um Artista. Sem dúvida que o cidadão Castelo tem desempenhado, com mestria, o papel de bobo da corte. O preocupante é que essa figura proto-humana alega possuir uma filosofia de vida,herdada provavelmente de uma Diva cor de rosa e, acredita que tem a nobre missão, a capacidade e até mesmo o dever de transmitir esses valores éticos aos resto dos seus conterrâneos como se de uma profecia se tratasse. Mas a única coisa que conseguiu foi difundir, com os meios de comunicação social da especialidade, uma imagem deplorável de um Portugal com androginia. Até os nossos vizinhos espanhóis já não vão esquecer as revelações do conde durante um programa da Antena 3, onde este confessa ter sofrido uma adolescência dolorosa. Não quero ouvir pormenores...
Este texto é dedicado aos ditos « famosos» que , num vai e vem nocturno delirante, assumem sem pestanejar, uma postura de guias do bom gosto. Arrogantes e sem complexos, acreditam possuir um talento especial que lhes da o direito de se assumirem como estrelas nacionais. Auto promovendo-se pelos piores motivos, numa ronda patética nas noites da capital, vão passando de uma discoteca para outra na esperança de serem fotografados ou vistos num programa qualquer. Estão convencidos que todos nós, sepultados no nosso anonimato vamos ficar cheios de inveja. Imaginaram que o mundo gira á suas voltas só por que num curto instante, foram imortalizados na companhia deste ou daquele cantante ou jogador lesionado, sorrindo com um copo de espumante morno na mão, expondo ao mundo a aura das suas felicidades!!
Quero lembrar a estas vedetas de terceira que essa visibilidade catódica tem efeitos colaterais regulados pelo o capricho do nosso telecomando.
Sente-se incomodado por tanta mediocridade e futilidade ?
Faça como eu : Desligue o televisor e o radio e compre livros...
Johnny Dos Passos
Vocalista e letrista dos Opositivo : http://palcoprincipal.sapo.pt/o_positivo
TLDR