Empate possível entre o Hamas e o Fatah nas eleições palestinianas.
Trata-se da primeira eleição desde 1996, e também desde a morte do líder palestiniano Yasser Arafat, há mais de um ano. As sondagens indicam a possibilidade de uma partilha do poder entre o partido Fatah actualmente no Governo e o movimento Hamas altamente controverso.
O Movimento Islâmico de Resistência, Hamas, participa nas eleições legislativas pela primeira vez. A sua campanha intitula-se “Mudança e Reforma” e caracteriza-se por um tom de moderação. O candidato principal da lista da Hamas é Ismail Hania, um político culto e reservado. Um provocador como Mahmoud Zahar foi colocado em nona posição. E enquanto os candidatos do Fatah concorrem uns contra os outros, o Hamas apresenta-se mais disciplinado, melhor organizado e incorrupto. A maioria dos seus candidatos é activa em várias obras de caridade. Mahmud Ramahi, é médico num hospital particular de Ramallah, estudou na Itália e não esconde a sua simpatia crescente pelo Hamas: «Primeiro, somos pessoas educadas. Vivemos em países diferentes, falamos línguas diferentes e temos civilizações diferentes. Para nós conta, em primeiro lugar, a ideia religiosa, a ideologia. E temos toda a prática e experiência de outras civilizações. E podemos misturar esta experiência com a nossa religião», diz o médico.
O movimento islamista é especialmente forte na Faixa de Gaza onde ganhou 76 do total de 118 mandatos nas primeiras autárquicas. Um cooperante britânico que trabalha na Faixa de Gaza, e pediu para não ser identificado por razões de segurança, afirma que os palestinianos aqui não consideram o Hamas uma organização terrorista, mas um partido político, que aspira a um governo isento de corrupção: «O que fizeram quando ganharam foi limpar as ruas, pôr a funcionar a iluminação pública e operar transportes gratuitos para as crianças irem à escola». Os cidadãos da Faixa de Gaza por vezes têm que gastar 70 ou 80% dos seus rendimentos mensais no transporte dos filhos para a escola, de modo que transportes gratuitos assumem uma grande importância. É assim que o Hamas ganha as simpatias, tanto mais que a administração anterior era extremamente corrupta em muitas áreas «e as pessoas não estavam a receber os benefícios a que tinham direito»
«Israel não tem alternativa senão aceitar a decisão do povo palestiniano, seja ela qual for». Ramahi recorda que, pouco antes do seu colapso, o primeiro-ministro Sharon, secundado pelo seu ministro da defesa, Shaul Mofaz, deu a entender que estaria na disposição de dialogar com o Hamas, em certas condições. Acho que se trata de um desenvolvimento natural e positivo. Diz lembrar-se bem dos tempos em que era a única pessoa em Israel que exigia negociações com a OLP: «Na altura todos diziam que a OLP era terrorista e que Israel nunca negociaria com terroristas. Poucos anos mais tarde fechámos um acordo oficial com a OLP. O Hamas está hoje praticamente na mesma posição. Israel acabará por negociar com o Hamas, disso não tenho a menor dúvida».
in: Deutsche Welle
Será o fim das negociações e o inicio de uma nova guerra surda ou o renascer de uma esperança?