
"O primado de unificação de todos os paradigmas religiosos cedo fez dos israelitas Orphaned Land uma banda especial, conseguindo cativar uma vasta legião de fãs com a sua doutrina humanitária e fraterna. Certamente que nenhuma mensagem deste género seria possível dentro da música, se esta não possuísse qualidade assinalável, e ouvindo álbuns como «Mabool» e «The Neverending Way of the ORWarriOR», percebia-se que para além de uma mensagem pertinente, os Orphaned Land também exibiam grande qualidade musical, num metal progressivo de contornos góticos, folk e death metal. O exotismo arábico das suas canções, assim como dinâmica assinalável em composições por norma extensas, compunham o lote de dotes musicais que faziam deles uma das mais carismáticas bandas da actualidade, facto por mim distinguido em 2010, quando coloquei «The Neverending Way of the ORWarriOR» como o melhor álbum desse ano.
A distinção mediática geral veio a confirmar-se mais tarde. As aparições em media um pouco por todo o mundo e abertura de espectáculos para os Metallica por convite destes, trouxe-lhes o nível de reconhecimento que faltava e nem a desnecessária manobra de marketing que pretendia candidatar os Orphaned Land ao prémio Nobel da Paz, abonou em desfavor. «All Is One» é assim naturalmente um álbum extremamente aguardado, para se perceber o caminho que Kobi Farhi e companhia iriam trilhar na sua demanda espiritual.
O primeiro traço a destacar foi adiantado pelo próprio vocalista, que avisou há já algum tempo que este seria um disco mais directo e mais virado para vocalizações limpas. De facto, apenas um tema do álbum tem growls, trata-se de «Fail» que até é dos melhores temas do disco. O outro pormenor também é evidente desde logo no tamanho das músicas, bem menores do que o habitual.
«All Is One» parece assim ter sido composto para ser mais imediato, com níveis de catchiness apurados e menos interessado em explorar as estruturas labirínticas dos álbuns anteriores. Este aspecto fica provado logo nas primeiras duas músicas, «All Is One» e «The Simple Man», temas despidos baseados em riffs minimalistas e complementados com as já habituais ambiências e coros orientais. Este minimalismo só a espaços abre lugar a composições mais elaboradas, como são os casos de «Let the Truce Be Known», uma semi-balada com teclados e violinos sublimes, «Fail» a mais aproximada do universo «Mabool», e «Children» que fecha o disco em tom antémico e melancólico.
Os restantes primam por uma simplicidade que chega a ser confrangedora, sobretudo em comparação com os discos anteriores, que apesar de serem bastante longos, exibiam a tal riqueza de conteúdo que não encontramos aqui. Deste lote, várias músicas podiam até figurar num festival da canção sem problemas, pois aproximam-se mais do world music e do folk rock do que do metal, ouvir «Shama’im», «All Is One» e «Freedom».
Compreendo que a ideia seria aproximar este ideal unificador religioso que os Orphaned Land tão bem representam de uma maior audiência, mas sacrificar a riqueza da sua sonoridade em detrimento de uma maior aceitação geral nunca foi boa solução para ninguém. Quem gostar essencialmente do exotismo dos israelitas patente no passado em «Sapari», deverá certamente adorar esta nova abordagem, mas se como eu preferiam as composições mais progressivas e ricas dos álbuns anteriores, receio que «All Is One» possa ser uma relativa desilusão."
7/10
in http://eventhorizon-space.blogspot.pt/2013/06/orphaned-land-all-is-one.html