
Dito isto, e porque o evento merece umas palavras, deixo aqui algumas.
A qualidade das bandas e do som em palco (que é tão essencial) esteve em alta. Aliás, tenho alguma dificuldade em eleger o concerto do fest. Foram vários. E a impressão não é apenas minha, outras pessoas disseram-me o mesmo. Num lote de tão boas prestações, só o gosto pessoal poderá destacar umas em detrimento de outras.
Assim, destaco o pelotão austríaco: Alruna, Kringa e Hagzissa. Já era fã do trabalho em estúdio - ao vivo, arrasaram. Juntei num lote, pois estas três bandas partilham praticamente os mesmos músicos... Alruna e Kringa têm a mesma formação (só não posso garantir no caso do baixo, mas julgo que seja o mesmo... Kringa atua de "cara limpa", Alruna, com corpse paint e capuz, por isso já não tenho presente o baixista). Hagzissa, tem como vocalista o baixista das bandas anteriores e inclui um baixista novo (e desaparece o vocalista de Kringa e Alruna que andou a provocar o caos - saudável - no meio do público durante a atuação dos seus compatriotas). O pequeno grande e jovem baterista é um colosso, tal a fúria que imprime no desempenho - e nas três bandas.
Hagzissa cresceu (para mim) em palco. Fiquei arrebatada. Um intensidade imensa, aliada ao tipo de sonoridade da banda, um misto de black/rock psicadélico, a somar ainda ao modo como se apresentam em palco, até subvertendo as rígidas (

Aliás, no terceiro dia, sensatamente, já nem havia altar montado. Não porque houvesse mosh ou circle pit, digamos que o desempenho deste vocalista foi como um massivo buraco negro que sugava tudo... Por isso, Kringa levou esse frenesi ainda mais longe. E foi maravilhoso, uma experiência total! Quem conhece/gosta dos álbuns poderá já imaginar o potencial que aquelas composições poderá ter... guitarras e cordas de guitarra também sofreram com a fúria do vocalista e do lead guitar. Na Eroding Passage o guitarrista e o vocalista (e tb guitarrista) entraram público adentro a semear tempestade... duvido que até quem os não conhecesse conseguisse ficar indiferente. A setlist (que não posso precisar) centrou-se mais no último álbum, como é natural, alternando (tal como no álbum) entre os momentos de grande intensidade e outros em que prima mais a viagem instrumental (e digo "viagem" intensionalmente, pois é isso que proprocionam).
Noutra toada... Void Prayer, outro grupo que destaco e que já no ano passado me tinha surpreendido e arrebatado. E sem contar!... é esta outra mais-valia deste festival... várias das bandas convidadas caraterizam-se por uma produção lo-fi, que ao vivo (graças ao trabalho do Hugo, que não me canso de louvar), fica minorado, sendo que toda a beleza do trabalho de composição ganha. Claro que este é um ponto de vvista pessoal, pois quem gosta precisamente dessa componente muito crua e raw pode apreciar menos. No ano passado, aconteceu isso com Void Prayer (e não só). Este ano, a banda bósnia apresentou-se com trabalhos de última promo e outros que ainda não foram lançados... e mal posso esperar pelo álbum, pois é fantástico. Não só os temas deste ano foram todos novos, mas o vocalista também. Quem os acompanhava era o vocalista da banda holandesa Master's Voice, mas que deixou de acompanhar a banda há pouco, e quem fez as vezes, ao vivo, foi o vocalista de Lux Ferre, Devath. Destaque ainda a ser feito, precisamente, a estes músicos bósnios, pela sua grande grande qualidade. Especialmente, a de um dos guitarristas (lead). Não só o seu desempenho na Fender (que som maravilhoso!) o coloca num patamar muito elevado, como a própria composição musical (dele conheço uma composição própria, a piano, fantástica). E o bom desempenho, e natural entrosamento, dos quatro músicos possibilitou um outro belo concerto de um projeto que em estúdio não me seduz muito (por ter uma produção excessivamente raw...): Sanguine Relic. Os bósnios acompanharam o mentor do projeto (já que é uma one man's band) e a atmosfera, que em vários momentos raia o DSBM, passando por um noise burzumniano, foi esmagadora. A casa, neste momento, estava a abarrotar e ninguém arredava pé, "ajudando" a tornar o ambiente mais asfixiante. Outro grande concerto. Lá vou voltar a dar uma hipótese a este material, em estúdio...
Outra one band's band e que não precisou de se fazer acompanhar por outros músicos (usou pedais e samplers) foi a do finlandês Hail Conjurer. Estava bastante renitente, pois tinha ouvido umas coisas previamente que me tinham deixado de pé atrás... mais pronta para me rir (shame on me!) do que outra coisa. Pois bem... concertão! Foi algo diferente (até pela presença de tanta pré-gravação), uma autêntica viagem no tempo (para um tempo que não vivi, saliente-se), para uma sonoridade lá dos inícios do BM. A própria apresentação em palco assim o sugeria (faltou o corpo oleado)... mas foi mais do que isso. Difícil de classificar, vai pescar muita influência do BM dos primórdios, com heavy à mistura, e rock, e BM da segunda vaga, com noise e dissonâncias, enfim, uma geringonça (pun intended) que resultou muito bem.
Quanto aos portugueses: Mons Veneris (e já são várias as vezes que os vi, por diversas razões, sendo que foi sempre completamente diferente de todas as vezes) não são muito a minha praia, por isso escuso-me a comentar. Atuou duas vezes, quinta e sábado, na quinta com formação a dois (com "pedra do altar"... não me perguntem) e no sábado, julgo que eram cinco ou seis... mas só vi a parte final. Uns amigos que viram (e nem são grandes fãs) comentaram que tinha sido o melhor concerto que tinham visto da banda.
Degredo - também já tinha visto, e este ano apresentou uma formação diferente, mais alargada: eram sete. Também não sendo a sonoridade que mais me cativa, gradualmente fui-me deixando levar pela ambiência ritualista que procuram imprimir no seu trabalho.
Voemmr - já tinha gostado muito no ano passado e, mais uma vez, deram um belo concerto. Teve uma novidade, Deris a fazer as vozes, na vez de Nefastus, que não pôde estar presente. É natural que a fasquia, para o Deris, estivesse elevadíssima, pois quem conhece a prestação do Nefastus (então, no concerto do ano passado...!!!) sabe da intensidade e negritude que alia à poderosa voz, mas saiu-se mesmo mesmo muito bem. Agora só falta vê-lo na bateria

Acabei por escrever muito mais do que esperava, peço perdão... deixei-me levar e não disse um quarto das minhas impressões

Notas finais: o espaço do Metalpoint não é o mais belo ou arejado, mas no caso adequa-se bem ao ambiente de um verdadeiro festival underground, mais ainda, de BM; manteve-se uma enorme presença de estrangeiros, certamente acima dos 50% dos presentes... torna-se habitual pedirmos desculpa em inglês, just in case


Não falei de todas as bandas, mas acabei já por escrever muito, e destaquei aquilo que mais me tocou.
Cheers!
