Wyatt E. - vi menos de metade da atuação, o restante apenas ouvi, enquanto estava na fila para trocar o bilhete impresso da unkind pelo bilhete propriamente dito do festival... Ainda assim, do que vi e principalmente do que ouvi, fiquei com pena de não ter podido ver o concerto todo. Banda instrumental, criam uma atmosfera com muitas paisagens sonoras, desde o drone ao post-rock, que me agradou de sobremaneira. O aparato cénico, embora hoje em dia um pouco gasto, ajudou a criar um ambiente cerimonial que caracterizou a atuação da banda.
The Wounded - provavelmente não será o maior elogio para uma banda que deambula pelo doom/gothic e que se apresenta com um nome destes, mas realmente o adjetivo que me vem à cabeça é mesmo...agradável (sem qualquer ironia). Banda que já anda nisto há muitos anos e que mostrou muita competência, bons temas, e principalmente um excelente vocalista. No último tema, particularmente, o vocalista mostrou todos os seus atributos e fechou uma atuação bem conseguida. Antes, foi interessante ouvir a cover de Smells Like Teen Spirit, com uma abordagem muito própria da banda.
Desire - única banda nacional do primeiro dia, foi mais que justificado e merecido terem um lugar de maior relevo no alinhamento. Desde logo, é bom saber que uma das principais bandas de doom nacional se encontram no ativo e a gravar material novo. Apresentaram-se com dois convidados, a vocalista de Enchantya e um músico dos Corvos, que ainda mais valorizaram mais um excelente concerto da banda. É certo que não atingiu os patamares do concerto do RCA de há cerca de um ano (não seria fácil, convenhamos), mas foi bastante bom. Atmosfera bem negra e pesada, como um bom concerto de doom deve criar.
While Heaven Wept - não sendo seguidor da banda (apenas ouvi alguns temas na semana anterior ao evento), não sabia propriamente com o que contar, apesar de já ter ouvido e lido muitos elogios à banda. Pois bem, deram um concerto fabuloso, mostrando uma musicalidade e virtuosismo (sem cairem em exercícios masturbatórios desnecessários) dignos de registo. A dupla de vocalistas (o frontman principal e a teclista) estiveram também em muito bom plano. Não tendo sido um concerto curto, soube a pouco. Foi um dos melhores concertos de todo o fest.
Draconian - banda que já ouvi muito, nomeadamente os dois primeiros álbuns, que são de indiscutível qualidade. Entretanto, perdi-lhes um pouco o rasto e não sabia, até há pouco tempo, que tinham mudado de female singer (felizmente o Johan mantém-se, gosto muito dos seus growls). Esta pequena introdução serve apenas para justificar porque, tendo estado bem, acabaram por não ter tanto impacto como teriam tido noutra altura da sua carreira. O facto de não terem tocado os seus dois melhores temas, como me lembrou o Peixoto, Death Come Near Me e The Cry of Silence, também não ajudou. De qualquer modo, foi uma atuação sólida de um dos melhores nomes do gothic/doom.
Arcturus - a razão da minha presença no primeiro dia do festival. Depois do verdadeiro fiasco que foi o seu concerto em Vagos, queria ver se finalmente poderia ver uma banda, que gosto imenso, a fazer jus aos seus pergaminhos. E, felizmente, foi mesmo isso que aconteceu. Com aquela atitude muito peculiar e um pouco alienada, o ICS Vortex teve uma boa prestação vocal (sou grande apreciador da sua voz), e o público presente (menos que em bandas anteriores, talvez pelo adantar da hora e também porque Arcturus ou se gosta mesmo, ou não vale a pena) respondeu bem. A setlist passou pelos temas incontornáveis (um outro outro ficou de fora), como Kinetic, Collapse Generation, Chaos Path, Master of Disguise, Alone, Hibernation Sickness e alguns do último álbum, como a Crashland, Game Over e Arcturian Sign. Para o final a banda reservou dois temas do primeiro álbum - The Bodkin & the Quietus e Naar Kulda Tar (honestamente, teria preferido que tocassem mais um ou outro tema dos segundo ou terceiros álbuns, sem dúvida a melhor fase da banda e aquela em que adquiriram a sua identidade) e encerrou o concerto com a Of Nails and Sinners. Acima de tudo, fiquei com o sentimento de dever cumprido (da banda). A banda também me pareceu satisfeita com o concerto e com o público, tendo o Sver, o baixista e guitarrista ficado mais um pouco em palco a cumprimentar os presentes, ao contrário do Hellhammer que saiu logo do palco, como é seu hábito. Excelente final do primeiro dia do fest.
Dia 2:
Collapse of Light - nova banda nacional ou, pelo menos, com álbum lançado muito recentemente, que conta com a Natalie Koskinen como a voz feminina da banda. E foi precisamente a sua presença e excelente voz que mais marcaram a diferença neste concerto, aliás aqui a dupla vocal funcionou bastante bem, pois o Carlos também é dono de uns bons guturais. Espero que esta banda seja projeto para ficar, porque por aquilo que mostraram, têm todos os condimentos do death/doom (e com uma das melhores vocalistas no género).
Kontinuum - banda islandesa que tem algumas influências de Sólstafir, com uma abordagem mais rockeira mas perdendo muia atmosfera, que tão bem caracteriza os headliners deste dia. Deram um concerto pujante e enérgico, num registo um pouco diferente do line-up do fest, o que até foi refrescante.
Sinistro - nova oportunidade para re(ver uma das grandes bandas do panorama nacional, mais ainda com o excelente Sangue Cássia saído este ano. Ao contrário da maioria dos concertos, este teve um problema técnico numa das guitarras, que se prolongou praticamente por uma música inteira. No entanto, a maior falha que tenho a apontar nem é essa, mas sim a distorção exageradíssima (mesmo para os patamares de Sinistro) que abafou muitas vezes a voz da Patrícia Tavares, facto ainda mais irritante e notório em passagens relativamente mais calmas e introspetivas. Mesmo assim, deram um bom concerto e provaram estar a atravessar um momento excecional. E a Patrícia é uma vocalista tremenda! Mais que vocalista, que o é, é uma performer como não há muitas, o que aumenta, e de que maneira, a intensidade e envolvência de todo o concerto.
Antimatter - era, provavelmente, a banda de todo o cartaz com que menos me identifico musicalmente. Não é, definitivamente, my cup of tea. Reconheço-lhes talento e competência (e também uma considerável legião de fãs femininas, que foram bem audíveis durante a atuação.

Shining - já fazia algum tempo desde que os vi no SWR, já há alguns anos. Como já é hábito, desde aí a banda sofreu algumas alterações na formação. Penso que desde esse concerto só um dos guitarristas e o baixista se mantêm. Apesar de algumas provocações ao público e algumas interações com os fotógrafos de serviço, o Niklas apareceu mais contido, o que é positivo, pois o que interessa é mesmo a música e não algum "circo". Não sendo grande seguidor da banda, parece-me que atualmente têm uma abordagem mais black n´roll, com alguns apontamentos prog pelo meio, que até não me desagradam. Curiosamente encerraram com a For a God Below, que é um dos seus temas mais proggy. Foi um bom concerto, embora tenha gostado mais do de SWR.
Sólstafir - se Arcturus justificou a minha presença no primeiro dia do fest, Sólstafir foi a principal razão de também ter marcado presença no segundo dia. Bem, e que dizer? Deram, para mim, o concerto do fest. Foi simplesmente sublime. É impressionante ver a forma como a banda tem, paulatinamente, ganho estatuto e notoriedade (mais que merecidos), subindo bastantes posições nos alinhamentos dos festivais (a primeira vez que os vi, já há uns bons anos, foi a abrir para Swallow the Sun, no Music Box). Falo de estatuto, porque muito antes desse reconhecimento, que surgiu com o Ótta, a qualidade já lá estava bem vincada, em álbuns como Köld e Svartir Sandar. Começo de concerto com um tema instrumental do melhor que já fizeram, - a 78 Days in the Desert, seguida da Köld. Este arranque agarrou logo o público, que não mais largou até aos últimos acordes. A postura da banda, de deixar falar a música, interagindo apenas com o público quando se justifica (como aconteceu quando o vocalista andou pela grade, com a ajuda do público, enquanto cantava a Bláfjall), só a beneficia, evitando os lugares comum e os clichés habituais. A setlist foi muito bem escolhida, passando pelos grandes temas da banda (e mostrando-me que o último álbum é bem melhor do que, na altura, eu pensei). Destaques, para além dos dois temas iniciais e a para a mencionada Bláfjall, Ótta, Svartir sandar, Fjara, e a fantástica Goddess of the Ages, que encerrou a atuação. Muito, mas mesmo muito bom!

Para mim, esta foi a melhor edição do fest, que tem tudo para se consolidar (e até crescer) no panorama nacional. Pontos muito positivos para o som, para o cumprimento dos horários (excetuando para os 30 minutos de atraso do segundo dia, mas que eu até dou de barato, pois a partir daí os horários foram cumpridos) e para as boas condições da venue.
A rever a questão das entradas no recinto, especialmente no primeiro dia. Não é aceitável que se tenha de aguardar numa fila meia hora para entrar, para algo tão simples quanto levantar o bilhete.