Quereis rescaldo? Tomai rescaldo.
Este ano o Vagos pôs-me à prova: aguentaria eu 4 dias de rambóia seguidos, sem pausas entre concertos (ou mais ou menos isso)? Bem... A ideia assustava um pouco, que uma pessoa já não tem 20 anos, mas no final de tudo, creio que ainda aguentaria mais um par de dias. Acho que fui feita para ir naqueles cruzeiros tipo 70.000 tons of Metal.
Resumir esses dias todos em meia dúzia de linhas não vai ser fácil, mas vamos lá.
5ªf.
Chegar a Vagos às 19:30, estacionar longe para carai porque na rua já estava tudo cheio, trocar papel por pulseira em 5 minutos e começar a fazer o reconhecimento do recinto. Aquela rampa assassina ainda se mantém como acesso principal, pqp; bar do Origens cá em cima junto à entrada, uma boa ideia apesar de parecer redundante, com tanto café e esplanadas ali mesmo ao lado, na vila; campismo mais espalhado pela área arborizada do que pelo descampado adjacente ao recinto em si, nice; beer garden um pouco escondido e menos oferta do que aquela com que eu contava; bancas de merch mais organizadinhas e muito mais oferta de comes e bebes, mais integrada com o espaço dos concertos; o hidromel desde que passou a ser servido em copos de papel perdeu gás e tornou-se enjoativo, para grande pena minha; sangria tinta e branca do Origens, ai jazus.
Terem detectores de metal à entrada arrancou-me uma gargalhada, mas a menina da segurança não percebeu porquê. Vidas. Eu também não percebi porque é que este ano foi o primeiro em que o festival não fez t-shirts de senhora, mas acabei por me orientar com um tamanho S de homem. Já não vestia um S fosse do que fosse desde os meus 12 anos, portanto obrigada, VMF!!
Primeiros reencontros, primeiros copos, primeiras fotos... Os Trinta e Um estavam a tocar mas com tudo isso passaram-me ao lado. O recinto já estava muito bem composto, porém, o que foi uma agradável surpresa.
Desse dia, o que eu mais queria ver era Analepsy, e a seguir, Theriomorphic. De
Orphaned Land só queria ver a All is One, que felizmente foi para aí a segunda do set. Coro, palminhas, união ideológica de harmonia entre povos celebrada e pronto, assunto arrumado. O resto do concerto foi uma mesmice igual àquela da outra vez que estiveram em Vagos.
Quando
Analepsy começaram, começou também a saga dos problemas de som que se arrastaram um pouco por todo o festival. Tudo muito embrulhado e desequilibrado, problemas técnicos, falhas em palco... Se os concertos desta banda já normalmente são curtos, este então foi-o ainda mais. Uma verdadeira pena, mas tendo os temas dentro da cabeça, pude fazer a festa à mesma.
Theriomorphic deram também um excelente concerto, e
Dust Bolt puseram toda a gente a mexer no final da noite do palco 1.
6ªf.
Só lá fui porque me convidaram para uma festa de anos e havia bolo e espumante - uma gaja dos Serrabulho, ao que parece. Acho que do rancho folclórico que colaborou com a banda no novo registo. Acho eu. Toca ferrinhos, ou o caraças.
É fixe a sensação de se entrar no recinto à 6ªf já com um dia (ou meio dia, no meu caso) no bucho. Vi finalmente
In Vein como deve ser, depois de em Famalicão não lhes ter podido prestar a devida atenção. Promissores, estes miúdos.
Lá mais para trás (e não no meio do pessoal, como poderão 'mostrar' algumas fotos) andava o grupo de idosos da Gafanha com os media atrás, à frente e dos lados. Um circo que admito que possa ajudar a divulgar o evento e que não incomode especialmente os visados... mas um bocadinho constrangedor de se ver 'cá de fora', há que dizê-lo.
Passei Blame Zeus à frente para hidratar a garganta no Origens e voltei para
Invoke. Só aí é que eu soube que era o mesmo gajo de Gwydion e foi porque me disseram, pois com as pinturas todas, nunca adivinharia. Talvez fizesse alguma ligação entre as bandas depois de ver a Muffy dos Karbonsoul a ser chamada ao palco numa e noutra (e em mais outra banda pelo caminho).
Regressei à sangria em Dollar Llama e voltei para ver
João Gordo e Cª. Uma bonita festa se formou logo desde o início, com a malta a rodar no circle pit, forte e feio.
Durante Masterplan fiz questão de deixar o recinto (vivam os slots para ir buscar casacos e jantar), e quando voltei já
Moonspell estavam em palco, a debitar um set que, tendo começado muitíssimo bem com a Em Nome do Medo, continuou de forma bastante previsível. Mas eis que a meio da Ruínas a luz foi abaixo. Depois de alguns penosos minutos, conseguiram restabelecê-la e a banda retomou o set com a Breathe. Lá mais para o fim, nova falha técnica que 'apagou' a guitarra por momentos. Haja azar. Mas o (muito) público presente para os ver gostou na mesma e até crowdsurf se fez.
Findo o concerto e descolada a alcateia da grade, lá me posicionei eu para não perder pitada de
Cradle of Filth. Sim, sim, queria genuinamente ver Cradle of Filth. A última vez que lhes tinha posto a vista em cima foi em 2008, num concerto de má memória que terminou perto das 5 da matina e com um Dani muito mal disposto. Estava curiosa.
E foi do. Car. Alho.
Com excepção do baterista e do próprio Dani Filth, a banda está toda mudada desde 2008, e os senhores tocam para caraças. Contava que a voz já não estivesse em forma, mas... está. Boa setlist e boa interacção com o público. Humor britânico ftw - que nem quando a luz foi novamente abaixo a meio de um tema esmoreceu. Referências à ligação jurássica a Portugal e ao concerto em Penafiel, temas dedicados aos amigos de Moonspell... Enfim, foi um regresso em grande ao nosso país.
Quanto a Converge e a Attic, vi de longe, não tenho muito a apontar a nenhum deles.
Para encerrar a noite, nada melhor que uma presença já há muito esperada em Vagos. Nunca percebi a demora em levarem lá a
Serrabulho Rave Party, precisamente para isto: fechar o dia em grande festa e embadalhocar o chão todo.

Procurai vídeos, porque não dá para descrever por palavras a belezura que foi a luta de almofadas, os insufláveis, bolas de praia e os esparguetes, o dinossauro crowdsurfer e o pufe voador. E o comboio até à tenda VIP, de onde uma senhora da segurança algo alarmada nos fez vigorosamente sinal com as mãos de "NÃO, NÃO, AQUI NÃO!!"
Ah, sim, e também subiu ao palco a nossa aetheria para sangrar um bocadinho dos ouvidos e corar das bochechas, com a banda e todo o público a cantarem-lhe os parabéns a você, moshpit incluído.
Sábado.
Muito resumidamente, tinha interesse em ver Bolzer, Gwydion e Enslaved, dar uma perninha em Holocausto Canibal e fugir para bem longe em Sonata Artica e em Kamelot. Mais uma vez, as dificuldades técnicas estragaram o esquema a
Enslaved que se não fosse por isso teria sido um dos concertos do festival... Bom, que caraças, e foi-o na mesma, que os gajos nem assim desiludem. Tão bom! Melhor, só se tivessem incluído uma Giants e uma Fusion of Sense and Earth na listinha.
Gwydion foi o bailarico total,
Bolzer foi uma cena estranha (pode ter sido da sangria, não digo que não, o certo foi que no Domingo já não abusei tanto dela) e em
Holocausto Canibal parecia que o público já estava estoirado, a pedir para ir para casa porque se tinha esquecido de que este ano o fest tinha 4 dias. Bonita a menção do Orca ao Nando Man, várias vezes lembrado por muitos nestes dias.
Domingo.
Dia de ouvir Manowar em Vagos, finalmente, ainda que 'apenas' pela mão do
Ross the Boss. Foi TÃO LINDO!! Ninguém gosta, ninguém gosta, "ah e tal, azeite do caraças...", mas toda a gente se esgoela quando ouve tocar uma Battle Hymns, não é, meus meninos? Pooooois.
É sempre uma sensação do caraças ver um histórico da banda à nossa frente, é o mais próximo de Manowar que alguma vez estaremos, especialmente agora que resolveram arrumar as botas e cagar para Portugal nesta última tour.
É que foi mesmo lindo. Havia gente arrepiada e não era do frio.
Mas antes do Ross the Boss, foi a vez de ver
Schammasch, que à última hora vieram substituir Sinister. Se é certo e unânime que tocarem de dia com todo o cuidado cénico que levam a palco não é a melhor opção para eles, também é certo que não foi um espectáculo fraco lá por isso. Não conhecia e gostei bastante.
Depois do Boss, só vi
Municipal Waste, e foi mais para testemunhar a maior movimentação de gente e poeira de todo o fest, creio eu. Os seguranças da frente de palco não tiveram descanso um minuto, e a banda inclusive pediu reforço para algo a que chamaram a "wave of death" - que consiste basicamente em ter gente a fazer crowdsurf ininterruptamente, todos ao mesmo tempo.
Já
Ensiferum foram a surpresa da noite, para mim. Acontece que tendo perdido os instrumentos a caminho de cá, propuseram-se a brindar-nos com um set acústico (que já tinham experimentado na Finlândia e há 3 semanas em França, segundo disseram). Ora, para mim, que já os tinha visto 2 vezes em modo normal e não me tinham despertado grande interesse, foi uma lufada de ar fresco e passei a tê-los em maior consideração. Com o seu set acústico conseguiram pôr toda a gente a mexer em frente ao palco 2. Foi uma espécie de festa de grind mas sem as bóias. O espírito era um bocadito o mesmo, diria eu. Fenomenal, mesmo.
Sentei-me um bocadinho a descansar para ver
Suicidal Tendencies, os cabeças de cartaz do dia, que levaram bastante gente a Vagos só para os ver. Eu, que já não os via há 25 anos, tinha curiosidade em perceber se de lá para cá o meu interesse seria o mesmo... e descobri que não. A nostalgia não foi suficiente para me manter agarrada a vê-los, preferi descansar os ossos encostada à outra grade. No entanto, uma vénia para a maneira como encerraram o concerto. Quando dei por ela, o palco estava cheio de gente aos saltos, e continuavam a subir mais. Eu só pensava "aquela merda vai cair.... Aquilo não aguenta!" Lembrei-me da vez em que Serrabulho fizeram o mesmo em Barroselas e aquilo partiu. Estive num mix de coração nas mãos e admiração até começarem a sair de lá. Mas tudo correu bem e foi um final bonito, que encheu a alma dos fãs.
Depois de ST, a recta final do festival e aquele sentimentozinho de "fds, está a acabar, queria mais". Sobravam
Memoriam, que também perderam os instrumentos, adereços de palco, etc, e tiveram que se desenrascar com material emprestado por outras bandas. Tocaram um par de músicas sem baixista, mas o vocalista aguentou a situação com humor e mestria. Nem a chuva miudinha que entretanto começou a cair os/nos desmoralizou. Tocam tanto que fiquei colada a vê-los do princípio ao fim.
E coube aos
Rasgo as honras de encerramento do VMF. Foi a primeira vez que os vi, conhecendo ainda pouco do seu trabalho, mas ficaram aprovados.
Posto isto, resta-me dizer que a equipa de segurança este ano esteve fantástica. Trazer de volta malta que já nos conhece, que gosta deste modo que o pessoal do metal tem de viver os concertos e que, sobretudo, sabe como lidar com isso, faz TODA a diferença. Gajos que sabem estar ali a fazer o seu trabalho bem ao mesmo tempo que se divertem, que se escangalham a rir depois de recolherem um T-Rex insuflável de 2m do crowdsurf, que aguentam como heróis a wave of death dos Municipal Waste (pelo menos um deles magoou-se a sério nesse momento), depois de já terem aguentado com várias toneladas de gente (sim, incluindo o Chichas) ao longo de 3 dias e tal... não é para todos. Faço votos de que mantenham a mesma equipa para o próximo ano, é uma confirmação pela qual vou fazer figas.

E é isto.
Houve muitos problemas de som que apenas melhoraram no último dia, e que não são normais para um festival já com provas mais do que dadas nesse aspecto - não sei que raio de erro de casting terá havido ali, muito sinceramente, mas estimo que não se torne a repetir. Mas mesmo assim, o VMF continua a merecer o meu voto de confiança, e algo teria que correr mesmo muito mal no anúncio do cartaz de 2019 para que eu me arrependesse de comprar os passes gerais mal sejam postos à venda, como tenciono fazer.
Voltar anualmente a Vagos é como voltar a casa. Já são muitos anos, esta foi a 10ª vez. Já se conhecem os cantos à casa e sabe-se que se é bem recebido. Encontra-se gente que já não se via há colh... tomates, e trava-se conhecimento com outros tantos. Há coisas que nunca mudam, como o set do DJ Freitas, e a dificuldade de se decidir por qual caminho voltar à vila no final da noite, se pela rampa assassina ou pelo mais longo que sai abaixo da bomba de gasolina e que depois obriga a subir a estrada toda.
Abraços a todos daqui com quem estive (sim, incluindo os voyeurs anónimos).
Venha o próximo!