Cheguei ao Another Place pouco antes das 16h30, hora marcada para o início da primeira banda e, qual não é a minha surpresa, quando me apercebo que a banda que está em palco, a fazer o soundcheck são os italianos Dark Quarterer, penúltima banda a atuar. Não faço ideia se a responsabilidade do atraso se deveu unicamente à organização, ou se foi a banda italiana que se atrasou. Seja como for, a responsabilidade final cabe sempre à organização. Arrumo já este assunto, pois foi o único aspeto negativo de todo o dia/noite. FIquei bastante satisfeito por não terem encurtado o set das bandas para recuperar o atraso (teria sido pior a emenda que o soneto).
Speedemon - começaram com mais de uma hora de atraso, o que não foi nada bom para envolver o público na sua atuação, pois estava tudo bastante entediado por esta altura. Se já não é fácil à primeira banda de um qualquer evento puxar pelo público, menos ainda quando o atraso é tão grande. Apesar disso, deram um bom concerto e, aos poucos, o pessoal lá se foi chegando mais à frente, criando uma melhor atmosfera mais para a parte final da sua atuação.
Lizzies - desconhecia por completo esta female heavy metal band (excetua-se o baterista mas, ao que julgo saber, a anterior baterista saiu recentemente e este é apenos membro temporário), vinda de Madrid. Demonstraram uma energia e "boa onda" contagiantes que, em muito pouco tempo, agarrou o público e não mais o largou até ao final do concerto. Com temas facilmente memorizáveis (aquela Night in Tokyo ficou-me na cabeça!) e com uma excelente atitude em palco (e também com uma vocalista com um excelente registo vocal), deixaram uma ótima impressão.
Ravensire - já são algumas as vezes que os vi ao vivo e nunca desapontaram. Também não foi desta vez que o fizeram, bem antes pelo contrário. Mostraram muito bem o seu heavy metal de contornos épicos e temas como Facing the Wind ou a final Drawing the Sword são sempre grandes momentos, dada a sua, lá está, "epicidade". Com uma formação renovada recentemente (Alex de Midnight Priest na bateria e Mário Figueira de Bleeding Display na guitarra), mas sempre sob a batuta do Rick e do Nuno, continuam a ser uma das propostas de heavy metal nacional mais competentes.
Leather Heart - segunda banda madrilena do cartaz a atuar e, tal como a anterior, traziam uma abordagem ao hard n´heavy bastante 80's (dúvidas houvesse, bastaria olhar para a indumentária e corte de cabelo de um dos guitarristas.

Midnight Priest - o melhor elogio que lhes posso fazer é dizer que, sendo já muitas as vezes que os vi (tanto com o Padre como agora como agora com o Lex Thunder na voz), este foi dos melhores concertos deles a que já assisti (e com o Lex na voz foi mesmo o melhor). Se num concerto de Midnight Priest já se espera uma grande entrega e energia da banda, desta vez teve-a em doses redobradas e, com o público também bastante entusiasmado para esta atuação (este foi daqueles felizes casos em que a banda puxa pelo público e vice-versa), deram um verdadeiro recital de heavy metal. A setlist continua, e bem, a ter os clássicos do primeiro EP e álbum - Rainha da Magia Negra e O Conde são incontornáveis e são sempre dos melhores momentos, assim como Ferro em Brasa e À Boleia com o Diabo - e em que os temas mais recentes (cantados em inglês), como Hellbreaker e Into the Nightmare fluem muito bem e já não se nota (talvez por habituação, provavelmente) a discrepância entre temas mais antigos e recentes. O Lex também cada vez está mais confortável em palco e a cantar melhor. Muito bom!
Ironsword - tendo-os visto há muito pouco tempo, a abrir para Omen, era previsível que a sua atuação não me trouxesse grandes novidades e soasse um pouco a deja-vu. Mas quando a banda é boa e a presença em palco também, rapidamente se esquece que se ouviram os mesmos temas ao vivo há um par de semanas. Continuam em grande forma e provaram-no mais uma vez. Foi a única atuação em que me pareceu que o set foi um pouco encurtado ao que estava inicialmente previsto (mas posso estar enganado).
Dark Quarterer - tendo em conta a semelhança de estilo entre as várias bandas que já tinham atuado, e que é prefeitamente natural num festival dedicado a uma sonoridade específica, foi bastante refrescante ter uma banda com uma abordagem ao heavy metal completamente diferente das restantes, com grande influência do prog. Mostraram que são excelentes músicos e conseguiram, apesar da hora bastante tardia em que atuaram, cativar os presentes com temas bastante diversificados e com uma grande abrangência musical (desde partes mais heavy, passando por outras mais doomy e alguns momentos prog bem interessantes), finalizando com o tema magistral que dá nome à banda.
Manilla Road - eram cerca das 2h15 quando os headliners subiram ao palco para o concerto que toda a gente mais aguardava. Mesmo considerando a longa carreira - não é por acaso que esta tour se destina a comemorar os seus 40 anos - não devem ter sido assim tantas as vezes que começaram uma atuação a estas horas da madrugada. Se estou a bater novamente nesta tecla, é mesmo porque foi o único aspeto negativo do fest. Quando ao concerto, que terminou pouco antes das 4h, foi (a exemplo do que se tinha verificado o ano passado no RCA) um concerto estrondoso de uma banda mítica do heavy metal. A setlist consistiu unicamente (se excetuarmos a também excelente Truth in the Ash do The Blessed Curse) em tocar clássicos atrás de clássicos de álbuns memoráveis como Crystal Logic, Open the Gates, The Deluge e Mystification. Por isso, falar de momentos de maior destaque seria fastidioso porque...foram todos! Apesar dos pequenos problemas técnicos nos dois primeiros temas (que incomodaram principalmente o Hellroadie, que continua a ser, para além de excelente vocalista, de extrema simpatia e boa disposição em palco), nada faltou para que esta atuação fosse mesmo bastante especial. Muito respeito e admiração pelo Mark Shelton que continua, ano após ano, a dedicar e demonstrar a mesma paixão de sempre pelo heavy metal.

Nota final para o fest: excetuando o problema do longo atraso, tudo o resto decorreu muito bem. Desde logo, das 8 atuações, não houve uma única que fosse fraquita, o som esteve em bom plano (os problemas técnicos, quando os houve, foram corrigidos), o espaço também é razoável (e incomparavelmente melhor que os Nirvana Studios e o Stairway Club!), e todos os restantes aspetos organizativos foram cumpridos. A adesão de público foi razoável embora, verdade se diga, esperava um pouco mais. Em suma, objetivos plenamente cumpridos de um festival que, espero, tenha vindo para ficar.
