Já no ano passado destaquei o facto de que este fest se destaca pelo cuidado dado aos pormenores, à escolha das bandas (que poderão não agradar em toda a latitude, pois tanto se encontra o Black mais "tradicional" como o Post ou o minimalismo ritualista), à coexistência de outras linguagens artísticas,como fotografia, apresentação de livros, exposições...
ALiás, procurou deslocalizar-se, com apresentações e exposições na Louie Louie Porto e na Bunker Store. Lamentavelmente, não fui a nenhum destes espaços.
De saudar, mais uma vez, a oferta de uma tape com um tema de cada banda. Fica bem na minha (pequeníssima) coleção e saúda-se o gesto.
Quantos às noites... Dia 1
- Tendagruta: André Coelho (bem conhecido, seja do desenho seja de projetos como Sektor 304) e Sara Gomes. Não é inteiramente a "minha praia", com a sua cacofonia de sintetizadores e vozes, mas achei uma boa maneira de arrancar uma noite dissonante. De destacar: a intensidade. Ponto muito positivo.
- Turia: também não são banda de minha eleição. AO vivo, confirmou-se o facto de não me agradar aquele registo bocal, mas os músicos!... senhores! não é por acaso que os redescubro em Lubbert Das. A energia insana daquele baterista, a fúria do guitarrista. Fiquei muito impressionada e, não sendo amante da banda, agarraram-me o tempo todo.
- Dolentia: grande concerto da banda. Juntamente com a seguinte, era a banda que mais queria ver e arrancaram-me sorrisos de satisfação (sim, pode-se sorrir no BM... sempre que uma banda que eu gosto cumpre, rasgam-se sorrisos em mim). A atitude, as guitarras, a intensidade que foi em crescendo. O baterista, a meu ver, esteve fantástico e contribuiu para a fúria debitada ao longo dos sete temas.
Set list: Chamamento; O reerguer de medos antigos; Lapidis/Sacrificium; Voragem; Do fundo dos abismos; Servo além-dor; Cântico.
https://www.youtube.com/watch?v=tQts7bEf09U&t=6s
- Lubbert Das : foi o concerto de todo o fest. Não desprimorando Dolentia, que muito me agradou, mas estes foram novidade, ansiava vê-los e como cumpriram! Há poucas palavras para descrever. primeiro, ter-se-á de gostar da banda e deste black metal. E gostando... aqueles três músicos em palco encheram-nos e arrasaram. A violência, a soturnidade. Se o baterista, em Turia, já tinha sido uma besta, aqui excedeu-se. O guitarrista de Turia passou a baixista, arrasador, contribuindo também com a voz, gritada (por vezes, até dispensava o micro, era energia pura). O guitarrista, que também contribuía com um gutural cavernoso, tem o ar de um puto de 17 anos e a concentração e entrega de um homem de 40.
Enfim. Assombrosos. E o fecho, com este tema que me apaixona, bastaria para dado por bem empregue o preço de todo o festival.
https://www.youtube.com/watch?v=b_pXuPxqdTw
- ATILA vs Sinter - uma combinação feliz. Conheço ambos os projetos separadamente, já vi amos ao vivo. Resultaram muito muito bem em conjunto. Gostei muito da experiência. Tal como começou, a noite fechou com sintetizadores. A contenção do baterista e de "Atila" constrastava com o frenesi de ANdré Coelho que fazia as partes da voz e da percussão mais alternativa: chapa, correntes, uma "harpa" metálica

https://www.youtube.com/watch?v=zG4KncAEOaY
Ainda houve DJ set mas a noite já ia longa.
Dia 2
Paean - Ora, voltaram tanto a vocalista como o guitarrista de Turia. O estilo mantém-se mais ou menos o mesmo. Não ouvi com muita atenção, confesso.
- DE · TA · US · TO · AS - dupla espanhola com uma sonoridade (e mise-en-scéne) completamente ritualista, quase tântrico, com sintetizadores de fundo e, acima de tudo, vozes. Vozes a encher o espaço. E pés descalços, sangue e muita velas. Achei muito interessante, mas não fiquei até ao fim porque, a um dado momento, já não trazia nada de novo.
https://www.youtube.com/watch?v=0xszHM3ScZE
- Gnaw Their Tongues - não fiquei muito tempo. Too much Noise for me

- GAEREA - concerto de apresentação desta banda portuguesa (com um elemento italiano). Sei que há por aí um misto de mistério (promovido pela banda, por não revelar a nacionalidade) e de mal-entendidos (porque há quem os considere italianos, no MA a origem da banda é italiana, e há quem ache de muito mau tom passarem-se por uma nacionalidade que não é a sua). Como, para mim, tudo isto é ruído desnecessário que perturba aquilo que interessa - a música - prefiro não alimentar nem o mistério nem o mal-entendido. Assim, concerto: já conhecia o álbum e, por isso, não fui "às cegas" para o concerto. Atitude interessante em palco. O vocalista é muito expressivo, o que é curioso de dizer já que tem a cara tapada (como os restantes), mas corporalmente comunicou o desespero que as letras traduzirão. O som saiu mais embrulhado do que nas restantes bandas. Têm temas com um bom trabalho de guitarra, que não se perderam a vivo, mas que em vários momentos não ouvi com a clareza que gostaria. Espero voltar a vê-los num palco maior.
https://www.youtube.com/watch?v=Gqi584gnUSU
- LVTHN - Black Metal satânico avant la lettre, com direito a rituais e banhos de sangue (também sobre o público). Velocidade, intensidade, fúria caraterizaram a atuação destes cinco senhores. A cover de Katharsis, para fechar, foi de uma brutalidade insana! Foi um fecho de noute, e do fest, em beleza!
https://www.youtube.com/watch?v=iphGB-SOEmc&t=78s
Setlist de LVTHN
E o relato vai longo. Que se pronunciem os outros MUsers que por lá andaram, senhores Zyk, Caverna Abismal e Kepler. Se outros por lá andaram, não se manifestaram
