Entretanto têm-me dado gozo ler este. São pequenas crónicas de três ou quatro páginas.
TL;DR
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Poucos livros terão, como este, intensificado um constrangimento que, de há um tempo a esta parte, tem andado no meu encalço. Uma condição imprescindível para a passagem à acção, dir-se-á. Ora, a partir deste momento, trata-se, então, de uma questão de responsabilidade — e, como é sabido, a responsabilidade tende a ser uma grande chatice. Mas divago.
Há autores cuja pertinência reside sobretudo na escrita em si — na forma — que quase, ou até mesmo, se sobrepõe ao conteúdo. Não me atrevo a sugerir que seja esse o caso do Prof. Abel Barros Baptista — era o que faltava; e seguramente não o é.
O meu ponto, contudo, é que lê-lo tem sido um exercício de auto-análise e, quem sabe, uma aprendizagem que, com sorte, produzirá efeitos no uso que faço da língua. Autoengano? Talvez. Mas, parafraseando Pedro Mexia: o pessimismo é muito bonito na poesia, mas, na vida real, é apenas inútil.
Mas referia-me a um constrangimento — esse, persistente, incómodo, quase sempre embaraçoso — de carregar um falar e um escrever — mas sobretudo um falar — débil, tosco, por vezes francamente desadequado, que me persegue e faz com que me sinta constantemente na iminência de ser desmascarado por qualquer fiscal do vocabulário, com manifestas dívidas à competência, com que possa privar. E é justamente por isso que a leitura deste livro me prende: porque ilumina, com perspicácia e rigor, mas sem arrogância ou o tão mal-afamado elitismo — acusação fácil quando se nivela por muito baixinho. Resta-me assumir a responsabilidade de o estudar — ainda que assumir, sobretudo responsabilidade, tenda a ser uma grande chatice.
Se os textos aqui coligidos são crónicas, recortes, devaneios satíricos, ou o raio que os parta, pouco importa. Sublinhe-se antes a minúcia com que são desconstruídos momentos, lugares-comuns, conjecturas e, sobretudo, formulações (como quando se diz “cujo detalhe não se conhece em pormenor”) que permanecem camuflados para a generalidade dos que falam, escutam, escrevem e lêem a língua — incluindo os ditos instruídos; E tudo isto sem o paternalismo insuportável do Miguel Esteves Cardoso dos últimos anos (embora o texto “Gosto de Palavrões” seja irrepreensível). Por vezes, servem também para expor certos vaidosos e fraudes com pernas que se pavoneiam por toda a parte — o que não só é de salutar, como deveria ser obrigatório e recompensado.
Há autores cuja pertinência reside sobretudo na escrita em si — na forma — que quase, ou até mesmo, se sobrepõe ao conteúdo. Não me atrevo a sugerir que seja esse o caso do Prof. Abel Barros Baptista — era o que faltava; e seguramente não o é.
O meu ponto, contudo, é que lê-lo tem sido um exercício de auto-análise e, quem sabe, uma aprendizagem que, com sorte, produzirá efeitos no uso que faço da língua. Autoengano? Talvez. Mas, parafraseando Pedro Mexia: o pessimismo é muito bonito na poesia, mas, na vida real, é apenas inútil.
Mas referia-me a um constrangimento — esse, persistente, incómodo, quase sempre embaraçoso — de carregar um falar e um escrever — mas sobretudo um falar — débil, tosco, por vezes francamente desadequado, que me persegue e faz com que me sinta constantemente na iminência de ser desmascarado por qualquer fiscal do vocabulário, com manifestas dívidas à competência, com que possa privar. E é justamente por isso que a leitura deste livro me prende: porque ilumina, com perspicácia e rigor, mas sem arrogância ou o tão mal-afamado elitismo — acusação fácil quando se nivela por muito baixinho. Resta-me assumir a responsabilidade de o estudar — ainda que assumir, sobretudo responsabilidade, tenda a ser uma grande chatice.
Se os textos aqui coligidos são crónicas, recortes, devaneios satíricos, ou o raio que os parta, pouco importa. Sublinhe-se antes a minúcia com que são desconstruídos momentos, lugares-comuns, conjecturas e, sobretudo, formulações (como quando se diz “cujo detalhe não se conhece em pormenor”) que permanecem camuflados para a generalidade dos que falam, escutam, escrevem e lêem a língua — incluindo os ditos instruídos; E tudo isto sem o paternalismo insuportável do Miguel Esteves Cardoso dos últimos anos (embora o texto “Gosto de Palavrões” seja irrepreensível). Por vezes, servem também para expor certos vaidosos e fraudes com pernas que se pavoneiam por toda a parte — o que não só é de salutar, como deveria ser obrigatório e recompensado.