Bosque - A expectativa de ver Bosque em palco era enorme, tal é o meu respeito e apreciação por aquilo que eu considero ser uma das bandas mais singulares e felizmente desconhecidas da actualidade. Esperava que fosse ouvir faixas mais "objectivas", por assim dizer, mas fui brindado com uma actuação menos directa que me permitiu fechar os olhos e divagar ao som das ondas de distorção, que juntamente com pausadas batidas de bateria e com os expressivos prantos do DM, deram origem a uma realidade paralela no tempo em que durou o concerto. Um dos grandes trunfos foi sem dúvida a imagética (tal como em Defuntos), que ajudou e muito a criar um ambiente misterioso, ocultista e inacessível ao ser humano comum. Testemunhar a actuação de Bosque foi como assistir a um filme em contínua tensão crescente, um incessante tour-de-force, que chegou ao fim de maneira discreta, no meu caso resultando brilhantemente e deixando-me ainda mais sequioso pela seguinte actuação.
Inverno Eterno - Apesar de não ter propriamente uma componente visual programada e destinada a criar um determinado ambiente, a verdade é que a maior parte das pessoas já deve saber o quão poderoso a nível de impacto um concerto de Inverno Eterno costuma resultar, não só a nível visual mas obviamente e mais relevantemente a nível sonoro. Mais uma setlist completamente livre de falhas e um punhado de convidados especiais (um sincero cumprimento ao último convidado, pessoa que na minha sincera opinião tem das melhores, senão mesmo a melhor voz dentro do espectro do BM português). As faixas não perderam nenhuma da sua magia e demonstraram mais uma vez porque foi o "Póstumo" um dos melhores CDs de BM provenientes deste pedaço de terra, o ano passado. Impossível meter em palavras as sensações que vivenciei ao assistir a este concerto, mais vale relembrar estas ainda vívidas memórias comigo mesmo.
Defuntos - Primeiro que tudo, palmas para o enfoque dado na criação da atmosfera, patente em todos os registos deste duo (nesta noite, trio), uma mise-en-scéne inesquecível e um verdadeiro triunfo na capacidade de relembrar tempos idos de porta volta da segunda metade do séc.XIX/início do séc.XX. Todos os elementos cénicos reunidos (cadeiras, livro, incenso e o próprio estilo dos intervenientes; creio ter visto um candelabro ou algo parecido também, mas não tenho a certeza) fizeram renascer por momentos um Passado não exageradamente distante, conferindo-lhe uma aura lúgubre e mortuária, potenciada pela sonoridade imediatamente reconhecível da banda, induzindo num transe profundo todos os que tiveram a oportunidade de experienciar o concerto junto ao palco. Gostaria de voltar a assistir a um concerto desta banda que tanto prezo, a ver se no Futuro terei esse desejo concedido.

Quem constantemente, concerto após concerto, durante as actuações se encontrava no fundo da sala a rir, conversar e conviver, deveria de Futuro repensar a hipótese de comparecer a este tipo de eventos. Façam um favor a toda a gente, incluindo vocês próprios e não apareçam da próxima vez se não tencionam ver as bandas. Poupam dinheiro, não incomodam a plateia e não desrespeitam as bandas.