Política - Discussão ou algo do género.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Isso deu-me umas dores de cabeça de ler ( mesmo apenas na diagonal), que nem te conto.
Eu já vi o raxx num papo seco
Hordes of Yore webpage
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Até que é um bom exercício.
Ah e consegui encontrar a fonte.
http://abibliotecadejacinto.blogspot.co ... h?q=acordo
Ah e consegui encontrar a fonte.
http://abibliotecadejacinto.blogspot.co ... h?q=acordo
- GoncaloBCunha
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Mas os putos de hoje não escrevem já dessa maneira??
CDs/Vinil para venda/troca AQUI [sempre actualizado]
-
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Parque escolar - as novas escolas a crédito.
http://www.parlamentoglobal.pt/parlamen ... redito.htm
Sobre a RTP todos os dias fazem reportagens com o "choradinho" das audiências, se é estratégia ou não do governo, para privatizar, não sei, o que se sabe é que este e outros buracos têm que terminar urgentemente.
590 milhões de euros em 2012??!!!
http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/oe ... 928598.ece

http://www.parlamentoglobal.pt/parlamen ... redito.htm
Sobre a RTP todos os dias fazem reportagens com o "choradinho" das audiências, se é estratégia ou não do governo, para privatizar, não sei, o que se sabe é que este e outros buracos têm que terminar urgentemente.
590 milhões de euros em 2012??!!!

http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/oe ... 928598.ece
Re: Política - Discussão ou algo do género.
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Inte ... t_id=43405
Enternecedor...
Alexandre Soares Santos - ‘Temos de deixar-nos desta porcaria dos populismos’
«Por que é que um ministro tem de andar em classe económica, se tem uma vida desgraçada, chega a casa às duas da manhã? Não é isso que interessa a este país. O que interessa é que os nossos governantes usem o dinheiro dos nossos impostos a nosso favor», defendeu hoje o chairman da Jerónimo Martins, durante a apresentação de resultados anuais da companhia dona do Pingo Doce.
Questionado sobre como aumentar a produtividade nas empresas nacionais, Alexandre Soares dos Santos sublinhou que «é importante que se acabe, uma vez por todas com esta mania nacional dos salários dos ricos e dos salários dos pobres».
«Temos é de ter politicas salariais onde as pessoas que trabalham na companhia, sejam quadros ou não quadros, e qualquer que seja a companhia, sintam que o produto do trabalho também vai para eles», continuou aquele que já foi considerado um dos homens mais ricos do país.
«Chamam reformas milionárias quando uma pessoa que trabalhou toda a vida e por acaso tem uma reforma de 3 ou 4 mil euros. Onde é que é milionário? Andou toda a vida a descontar para essa forma. Não está a roubar ninguém. Está a ter a reforma que o Estado disse que tinha se descontasse. O que temos é de dar ânimo, incentivar as pessoas a mais e a melhor. E deixarmo-nos desta porcaria dos populismos», argumentou ainda Soares dos Santos.
Hoje, a Jerónimo Martins anunciou um aumento de 21% nos lucros de 2011, face a 2010, para 340,3 milhões de euros. As vendas das operações em Portugal, onde tem as insígnias Pingo Doce e Recheio, e na Polónia, onde opera a rede Biedronka, aumentaram 13%, totalizando 9,8 mil milhões de euros.
Enternecedor...
Valfar, ein Windir
- Cthulhu_Dawn
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Enigma Escreveu:http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=43405Alexandre Soares Santos - ‘Temos de deixar-nos desta porcaria dos populismos’
«Por que é que um ministro tem de andar em classe económica, se tem uma vida desgraçada, chega a casa às duas da manhã? Não é isso que interessa a este país. O que interessa é que os nossos governantes usem o dinheiro dos nossos impostos a nosso favor», defendeu hoje o chairman da Jerónimo Martins, durante a apresentação de resultados anuais da companhia dona do Pingo Doce.
Questionado sobre como aumentar a produtividade nas empresas nacionais, Alexandre Soares dos Santos sublinhou que «é importante que se acabe, uma vez por todas com esta mania nacional dos salários dos ricos e dos salários dos pobres».
«Temos é de ter politicas salariais onde as pessoas que trabalham na companhia, sejam quadros ou não quadros, e qualquer que seja a companhia, sintam que o produto do trabalho também vai para eles», continuou aquele que já foi considerado um dos homens mais ricos do país.
«Chamam reformas milionárias quando uma pessoa que trabalhou toda a vida e por acaso tem uma reforma de 3 ou 4 mil euros. Onde é que é milionário? Andou toda a vida a descontar para essa forma. Não está a roubar ninguém. Está a ter a reforma que o Estado disse que tinha se descontasse. O que temos é de dar ânimo, incentivar as pessoas a mais e a melhor. E deixarmo-nos desta porcaria dos populismos», argumentou ainda Soares dos Santos.
Hoje, a Jerónimo Martins anunciou um aumento de 21% nos lucros de 2011, face a 2010, para 340,3 milhões de euros. As vendas das operações em Portugal, onde tem as insígnias Pingo Doce e Recheio, e na Polónia, onde opera a rede Biedronka, aumentaram 13%, totalizando 9,8 mil milhões de euros.
Enternecedor...
Os lucros devem ter-lhe subido à cabeça, porque essas declarações são de uma confusão de todo o tamanho...Mas enfim, venha de lá o próximo boicote ao Pingo Doce...
- OrDoS
- Ultra-Metálico(a)
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Cthulhu_Dawn Escreveu:Enigma Escreveu:http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=43405Alexandre Soares Santos - ‘Temos de deixar-nos desta porcaria dos populismos’
«Por que é que um ministro tem de andar em classe económica, se tem uma vida desgraçada, chega a casa às duas da manhã? Não é isso que interessa a este país. O que interessa é que os nossos governantes usem o dinheiro dos nossos impostos a nosso favor», defendeu hoje o chairman da Jerónimo Martins, durante a apresentação de resultados anuais da companhia dona do Pingo Doce.
Questionado sobre como aumentar a produtividade nas empresas nacionais, Alexandre Soares dos Santos sublinhou que «é importante que se acabe, uma vez por todas com esta mania nacional dos salários dos ricos e dos salários dos pobres».
«Temos é de ter politicas salariais onde as pessoas que trabalham na companhia, sejam quadros ou não quadros, e qualquer que seja a companhia, sintam que o produto do trabalho também vai para eles», continuou aquele que já foi considerado um dos homens mais ricos do país.
«Chamam reformas milionárias quando uma pessoa que trabalhou toda a vida e por acaso tem uma reforma de 3 ou 4 mil euros. Onde é que é milionário? Andou toda a vida a descontar para essa forma. Não está a roubar ninguém. Está a ter a reforma que o Estado disse que tinha se descontasse. O que temos é de dar ânimo, incentivar as pessoas a mais e a melhor. E deixarmo-nos desta porcaria dos populismos», argumentou ainda Soares dos Santos.
Hoje, a Jerónimo Martins anunciou um aumento de 21% nos lucros de 2011, face a 2010, para 340,3 milhões de euros. As vendas das operações em Portugal, onde tem as insígnias Pingo Doce e Recheio, e na Polónia, onde opera a rede Biedronka, aumentaram 13%, totalizando 9,8 mil milhões de euros.
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Os lucros devem ter-lhe subido à cabeça, porque essas declarações são de uma confusão de todo o tamanho...Mas enfim, venha de lá o próximo boicote ao Pingo Doce...
Só tenho duas coisas a dizer, relativamente aos bolds que coloquei. A 1ª é que políticas salariais e benefícios é que o Sr. Alexandre Soares Santos tem implementadas nas suas empresas que permitam sequer pensar que o fruto do seu trabalho, que trás à empresa os lucros que trás, é para seu benefício e, já agora, que quadros e "não-quadros" é que beneficiam dessas políticas/benefícios.
A 2ª é que técnicas usarão as empresas desse Sr. para dar ânimo e motivação, porque de certo que palavras só não chegam...
Cthulu, não percebi porque consideras as declarações dele confusas, eu percebi-as bem.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Vooder Escreveu:
Haha, muito bom! Só esta
Não qonqordo qom a introdusão
Fez-me sangrar pelo nariz. Aneurisma a caminho
Soul of Darkness Escreveu:Pessoalmente, não gostaria que o mundo acabasse
- Audiokollaps
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Auditoria às PPP não assegura independência e imparcialidade
Iniciativa Cidadã de Auditoria à Dívida Pública denuncia a decisão do governo de atribuir à consultora Ernst & Young a auditoria a 36 parcerias público-privadas e a 24 concessões. A empresa trabalha para grupos privados que são parte interessada nessas PPP.
LOL
Iniciativa Cidadã de Auditoria à Dívida Pública denuncia a decisão do governo de atribuir à consultora Ernst & Young a auditoria a 36 parcerias público-privadas e a 24 concessões. A empresa trabalha para grupos privados que são parte interessada nessas PPP.
A Iniciativa Cidadã de Auditoria à Dívida Pública divulgou um comunicado em que põe em causa a decisão do governo de atribuir à consultora Ernst & Young a auditoria a 36 parcerias público-privadas e a 24 concessões, num valor de 250 mil euros. Esta auditoria é prevista no Memorando de Entendimento com a Troika.
Para a Iniciativa Cidadã de Auditoria à Dívida Pública, esta adjudicação não assegura critérios de independência e imparcialidade. “A Ernst & Young trabalha actualmente para os grupos José de Mello Saúde, Somague e Águas de Portugal, ENDESA e IBERDROLA, entre vários outros. Estes grupos são parte interessada, isoladamente ou em consórcios, em várias das PPP e concessões sujeitas à auditoria adjudicada à Ernst & Young”, afirma a Iniciativa.
A Ernst & Young presta serviços, entre outros, aos consórcios da Lusoponte, à Auto-Estradas do Atlântico, à Auto-Estradas Túnel do Marão, ao Hospital de Braga e Hospital de Vila Franca, Barragens de Gouvães, Alto Tâmega, Daivões e Girabolhos.
O comunicado recorda as diretrizes do Tribunal de Contas para auditorias externas a PPP que determinam: “o consultor externo que venha a prestar serviços ao parceiro público não poderá prestar assessoria ao parceiro privado ou a qualquer entidade que se apresente como concorrente no âmbito dessa parceria”. Trata-se assim, afirma a Iniciativa Cidadã de Auditoria, de um caso flagrante do conflito de interesses.
“As quatro maiores empresas multinacionais de consultoria — Ernst & Young, Pricewaterhouse Coopers, KPMG e Deloitte — lideram, juntamente com bancos e empresas de construção, o sector das parcerias público-privadas em todo o mundo”, afirma o comunicado.
E conclui: “Para a IAC, uma auditoria feita pela mesma entidade que prestou e presta serviços aos grupos beneficiários de PPP não reúne condições de independência. E a independência e isenção são critérios incontornáveis neste contexto. A IAC exige uma auditoria urgente às parcerias público-privadas em condições de isenção e de independência.”
LOL
- aftermath
- Metálico(a) Supremo(a)
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
"A culpa é dos desempregados, pá!
Pacheco Pereira escreveu um interessante artigo no Publico, no final de fevereiro, intitulado "A nova luta de classes". Nele apresentava as duas classes atualmente em contenda: os descomplexados competitivos (aqueles que arriscam, são ambiciosos e não estão à espera que tudo lhes caia do céu) e os preguiçosos autocentrados (os que não arriscam e estão presos a velhas ideias). A classificação nasceu no célebre discurso do "piegas" que Passos Coelho fez no Instituto de Odivelas.
As palavras de Passos, e que Pacheco Pereira reproduz para ilustrar o pensamento que guia muitas das políticas do atual governo, têm eco em largos setores da sociedade portuguesa. Há, em particular, duas áreas em que esta questão dos preguiçosos tem especial relevo: os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção (RSI).
Muitos portugueses - os que não estão desempregados, naturalmente - continuam genuinamente a acreditar que um dos grandes males do mercado de trabalho é a excessiva generosidade do subsídio de desemprego que incentiva os desempregados a ficar de braços cruzados. O governo e a troika também acreditam. Este é um dos pontos do memorando e está já em andamento.
O outro ponto clássico nesta discussão é o RSI. É frequente ouvir dizer que muitas pessoas não trabalham precisamente porque vivem do rendimento mínimo. Não faltam empresários a queixar-se desta situação argumentando serem obrigados a recrutar no estrangeiro por falta de mão-de-obra portuguesa. Resta saber as condições desse recrutamento.
Dois terços dos desempregados sem subsídio
Talvez o melhor seja começar por alguns factos. No quarto trimestre de 2011, segundo os últimos números do INE, contavam-se 771 mil desempregados para uma taxa de desemprego de 14%. Se somarmos os inativos disponíveis (pessoas sem emprego mas que não procuraram) e os inativos desencorajados (que não procuraram por achar que não teriam sucesso), o total de desempregados é já de um milhão.
Para quem acredita que a culpa é da generosidade dos subsídios, nada como olhar para as estatísticas da Segurança Social. Em dezembro, foram pagos 317,1 mil subsídios (já incluindo o subsídio social de desemprego). Ou seja, mais de metade dos desempregados 'oficiais' e mais de dois terços do total de desempregados (incluindo os tais inativos) não tem subsídio. É estranho que sejam os subsídios de desemprego os culpados.
Isto não é o mesmo que dizer que o maior ou menor nível de proteção no desemprego não interfere com o emprego. É óbvio que tem influência, como vários trabalhos académicos já o demonstraram. Por exemplo, o economista Pedro Portugal (Banco de Portugal e Universidade Nova) tem estudado o assunto com bastante atenção no caso português. Num artigo publicado pelo Banco de Portugal em 2007, em co-autoria com John Addison, analisou os efeitos da duração do subsídio na probabilidade de regresso ao mercado de trasbalho e concluiu que a redução em três meses se traduz num aumento da probabilidade em 50% a 100%.
O que não cola é a tese do subsídio de desemprego como causa do próprio desemprego numa altura em que a economia está a destruir emprego à velocidade da luz. Numa recessão desta dimensão, o desemprego só se pode agravar e o papel do Estado deveria ser apoiar quem cai nesta situação porque do desemprego à pobreza vai apenas um piscar de olhos. Olhar para o lado e, sob a capa da eficiência, dizer que é tudo uma questão de incentivos é desafiar a lógica.
E o que dizer dos beneficiários do RSI? Eram em dezembro passado 317,4 mil (118 mil famílias) e tinham uma prestação média de 90 euros. Cerca de um terço dos beneficiários eram menores e, por isso, grande parte não conta para os desempregados cujo cálculo começa aos 15 anos e apenas para quem faz parte da população ativa. Se estiverem a estudar, mesmo com idades entre 15 e 18 anos, não são desempregados.
Vamos admitir que todos os beneficiários de RSI eram desempregados. Juntamente com os subsídios de desemprego, haveria 634 mil apoiados. Mesmo assim, seriam apenas dois terços do total de desempregados reais (e 137 mil abaixo dos oficiais). Também custa a admitir que seja esta a razão que o desemprego sobe.
E ninguém acaba com os impostos?
É claro que há abusos em ambas as prestações. Como há abusos nos impostos e ninguém fala em acabar com eles. É preciso fiscalizar para garantir que apenas quem merece recebe e o Estado não está a subsidiar indevidamente ninguém. Mas convém não esquecer também aqui o princípio da presunção de inocência: tal como é mais grave prender um inocente do que soltar um culpado, também é mais grave cortar a prestação a quem precisa do que pagar indevidamente a quem não precisa.
Há ainda que lembrar que são duas prestações completamente diferentes e com objetivos distintos. O subsídio de desemprego resulta das contribuições mensais de quem trabalhou e do empregador (através de uma fração da taxa social única) e visa, por um lado, proteger o rendimento de quem ficou sem trabalho e, ao mesmo tempo, defender o seu capital humano, isto é, permitir que possa procurar um trabalho que se adeque às suas qualificações e experiência para não as destruir. Já o RSI é uma prestação não contributiva que visa apenas combater a pobreza que em Portugal - nunca é demais repetir - é das mais altas da Europa.
O preocupante deste pensamento dos "descomplexados competitivos" vs "preguiçosos autocentrados", além da óbvia desproteção a que são votados muitos dos que hoje sofrem com a maior recessão das últimas décadas em Portugal, é que quem assim pensa não acredita que nada possa fazer para inverter este estado de coisas.
Chegam-se mesmo a níveis de caricatura. Pedro Santa Clara, da Universidade Nova, citado na última edição da revista The Economist, dizia que os jovens queriam estudar Sociologia ou Cinema e depois trabalhar para o Estado. Da sociologia não sei, mas no cinema encontro pelo menos dois "descomplexados competitivos" que deram cartas recentemente em Berlim."
João Silvestre, Expresso, 06-03-2012
Muito bom!!!
Pacheco Pereira escreveu um interessante artigo no Publico, no final de fevereiro, intitulado "A nova luta de classes". Nele apresentava as duas classes atualmente em contenda: os descomplexados competitivos (aqueles que arriscam, são ambiciosos e não estão à espera que tudo lhes caia do céu) e os preguiçosos autocentrados (os que não arriscam e estão presos a velhas ideias). A classificação nasceu no célebre discurso do "piegas" que Passos Coelho fez no Instituto de Odivelas.
As palavras de Passos, e que Pacheco Pereira reproduz para ilustrar o pensamento que guia muitas das políticas do atual governo, têm eco em largos setores da sociedade portuguesa. Há, em particular, duas áreas em que esta questão dos preguiçosos tem especial relevo: os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção (RSI).
Muitos portugueses - os que não estão desempregados, naturalmente - continuam genuinamente a acreditar que um dos grandes males do mercado de trabalho é a excessiva generosidade do subsídio de desemprego que incentiva os desempregados a ficar de braços cruzados. O governo e a troika também acreditam. Este é um dos pontos do memorando e está já em andamento.
O outro ponto clássico nesta discussão é o RSI. É frequente ouvir dizer que muitas pessoas não trabalham precisamente porque vivem do rendimento mínimo. Não faltam empresários a queixar-se desta situação argumentando serem obrigados a recrutar no estrangeiro por falta de mão-de-obra portuguesa. Resta saber as condições desse recrutamento.
Dois terços dos desempregados sem subsídio
Talvez o melhor seja começar por alguns factos. No quarto trimestre de 2011, segundo os últimos números do INE, contavam-se 771 mil desempregados para uma taxa de desemprego de 14%. Se somarmos os inativos disponíveis (pessoas sem emprego mas que não procuraram) e os inativos desencorajados (que não procuraram por achar que não teriam sucesso), o total de desempregados é já de um milhão.
Para quem acredita que a culpa é da generosidade dos subsídios, nada como olhar para as estatísticas da Segurança Social. Em dezembro, foram pagos 317,1 mil subsídios (já incluindo o subsídio social de desemprego). Ou seja, mais de metade dos desempregados 'oficiais' e mais de dois terços do total de desempregados (incluindo os tais inativos) não tem subsídio. É estranho que sejam os subsídios de desemprego os culpados.
Isto não é o mesmo que dizer que o maior ou menor nível de proteção no desemprego não interfere com o emprego. É óbvio que tem influência, como vários trabalhos académicos já o demonstraram. Por exemplo, o economista Pedro Portugal (Banco de Portugal e Universidade Nova) tem estudado o assunto com bastante atenção no caso português. Num artigo publicado pelo Banco de Portugal em 2007, em co-autoria com John Addison, analisou os efeitos da duração do subsídio na probabilidade de regresso ao mercado de trasbalho e concluiu que a redução em três meses se traduz num aumento da probabilidade em 50% a 100%.
O que não cola é a tese do subsídio de desemprego como causa do próprio desemprego numa altura em que a economia está a destruir emprego à velocidade da luz. Numa recessão desta dimensão, o desemprego só se pode agravar e o papel do Estado deveria ser apoiar quem cai nesta situação porque do desemprego à pobreza vai apenas um piscar de olhos. Olhar para o lado e, sob a capa da eficiência, dizer que é tudo uma questão de incentivos é desafiar a lógica.
E o que dizer dos beneficiários do RSI? Eram em dezembro passado 317,4 mil (118 mil famílias) e tinham uma prestação média de 90 euros. Cerca de um terço dos beneficiários eram menores e, por isso, grande parte não conta para os desempregados cujo cálculo começa aos 15 anos e apenas para quem faz parte da população ativa. Se estiverem a estudar, mesmo com idades entre 15 e 18 anos, não são desempregados.
Vamos admitir que todos os beneficiários de RSI eram desempregados. Juntamente com os subsídios de desemprego, haveria 634 mil apoiados. Mesmo assim, seriam apenas dois terços do total de desempregados reais (e 137 mil abaixo dos oficiais). Também custa a admitir que seja esta a razão que o desemprego sobe.
E ninguém acaba com os impostos?
É claro que há abusos em ambas as prestações. Como há abusos nos impostos e ninguém fala em acabar com eles. É preciso fiscalizar para garantir que apenas quem merece recebe e o Estado não está a subsidiar indevidamente ninguém. Mas convém não esquecer também aqui o princípio da presunção de inocência: tal como é mais grave prender um inocente do que soltar um culpado, também é mais grave cortar a prestação a quem precisa do que pagar indevidamente a quem não precisa.
Há ainda que lembrar que são duas prestações completamente diferentes e com objetivos distintos. O subsídio de desemprego resulta das contribuições mensais de quem trabalhou e do empregador (através de uma fração da taxa social única) e visa, por um lado, proteger o rendimento de quem ficou sem trabalho e, ao mesmo tempo, defender o seu capital humano, isto é, permitir que possa procurar um trabalho que se adeque às suas qualificações e experiência para não as destruir. Já o RSI é uma prestação não contributiva que visa apenas combater a pobreza que em Portugal - nunca é demais repetir - é das mais altas da Europa.
O preocupante deste pensamento dos "descomplexados competitivos" vs "preguiçosos autocentrados", além da óbvia desproteção a que são votados muitos dos que hoje sofrem com a maior recessão das últimas décadas em Portugal, é que quem assim pensa não acredita que nada possa fazer para inverter este estado de coisas.
Chegam-se mesmo a níveis de caricatura. Pedro Santa Clara, da Universidade Nova, citado na última edição da revista The Economist, dizia que os jovens queriam estudar Sociologia ou Cinema e depois trabalhar para o Estado. Da sociologia não sei, mas no cinema encontro pelo menos dois "descomplexados competitivos" que deram cartas recentemente em Berlim."
João Silvestre, Expresso, 06-03-2012
Muito bom!!!
"Now before my demons roll the night across my eyes
I tremble as I wait perhaps to sin
Yield unto temptation and be ruler of the world
And all I do is let the beast come in"
RONNIE JAMES DIO
I tremble as I wait perhaps to sin
Yield unto temptation and be ruler of the world
And all I do is let the beast come in"
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- HFVM
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Cavaco ataca.
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"A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que os seus animais são tratados."
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
HFVM Escreveu:Cavaco ataca.
O Cavaco é um idiota.
"Sim, esta veio do silêncio E livres habitamos a substância do MU!" (HumbertoBot)
- Grimner
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Falando em idiotas, eis um varrido para debaixo do tapete tão cedo quanto possível.
http://www.ionline.pt/portugal/alvaro-s ... or-na-ocde
Em teoria não seria mau, porque o Álvaro Santos Pereira é uma nódoa.
O mal é que isto representa o seu ministério ser retalhado por um Vitor Gaspar cada vez mais reforçado e pela quase certa iminência da vinda do António Borges para o lugar deste.
http://www.ionline.pt/portugal/alvaro-s ... or-na-ocde
A demissão de Álvaro Santos Pereira foi estancada na segunda-feira pelo primeiro-ministro, mas a saída do governo do ministro da Economia do cargo é irreversível a prazo.
Segundo soube o i, o próximo destino político de Álvaro Santos Pereira poderá ser o cargo de embaixador da OCDE, vago há quase um ano, quando o socialista Eduardo Ferro Rodrigues abandonou Paris para regressar à política activa e integrar as listas do PS para a Assembleia da República.
Em teoria não seria mau, porque o Álvaro Santos Pereira é uma nódoa.
O mal é que isto representa o seu ministério ser retalhado por um Vitor Gaspar cada vez mais reforçado e pela quase certa iminência da vinda do António Borges para o lugar deste.
- Venøm
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
Já devem estar fartos de ouvir falar deste tema.
Mas vale a pena ler:
Source: http://www.cihablog.com/whats-wrong-wit ... -campaign/
Tenho mais coisas relativamente ao tema. Quem tiver interessado eu posto mais a frente para não estar a saturar o tópico. Tenho também um mail em resposta ao vídeo do FPA (Friends for Peace in Africa).
Mas vale a pena ler:
Adam Branch
Senior Research Fellow
Makerere Institute of Social Research
abranch2@mail.sdsu.edu
By Adam Branch, Makerere Institute of Social Research
March 8, 2012
Kampala, Uganda
From Kampala, the Kony 2012 hysteria is easy to miss. I’m not on Facebook or Twitter, and I don’t watch YouTube—but over the last twenty-four hours, I have received dozens of emails from friends, colleagues, and students in the US about the video by Invisible Children and the massive on-line response to it.
I have not watched the video. As someone who has worked in and done research on the war in northern Uganda for over a decade, much of it with a local human rights organization based in Gulu, the Invisible Children organization and their videos have infuriated me to no end—I remember one sleepless night after I watched their “Rough Cut” film for the first time with a group of students, after which I tried to explain to the audience what was wrong with the film while on stage with one of the filmmakers.
My frustration with the group has largely reflected the concerns expressed so eloquently by those individuals who have been willing to bring the fury of Invisible Children’s true believers down upon themselves in order to point out what is wrong with what this group of young Americans is doing: the warmongering, the self-indulgence, the commercialization, the reductive and one-sided story they tell, their portrayal of Africans as helpless children in need of rescue by white Americans, and the fact that civilians in Uganda and central Africa may have to pay a steep price in their own lives so that a lot of young Americans can feel good about themselves, and a few can make good money. This, of course, is sickening, and I think that Kony 2012 is a case of Invisible Children having finally gone too far. They are now facing a backlash from people of conscience who refuse to abandon their capacity to think for themselves.
But, as I said, I wouldn’t have known about Kony 2012 if it hadn’t been for the emails I’ve been receiving from the US. I have heard nothing about Kony 2012 here in Kampala because, in a sense, it just does not matter. So, as a response to the on-line debate that has been going on for the last couple days, I want to explain why, from here, Kony 2012 can be ignored.
First, because Invisible Children is a symptom, not a cause. It is an excuse that the US government has gladly adopted in order to help justify the expansion of their military presence in central Africa. Invisible Children are “useful idiots,” being used by those in the US government who seek to militarize Africa, to send more and more weapons and military aid, and to build the power of military rulers who are US allies. The hunt for Joseph Kony is the perfect excuse for this strategy—how often does the US government find millions of young Americans pleading that they intervene militarily in a place rich in oil and other resources? The US government would be pursuing this militarization with or without Invisible Children—Kony 2012 just makes it a bit easier. Therefore, it is the militarization we need to worry about, not Invisible Children.
Second, because in northern Uganda, people’s lives will be left untouched by this campaign, even if it were to achieve its stated objectives. This is not because things have entirely improved in the years since open fighting ended, but because the very serious problems people face today have little to do with Kony. The most significant problem people face is over land. Land speculators and so-called investors, many foreign, in collaboration with the Ugandan government and military, are trying to grab the land of the Acholi people, land that they were forced off of a decade ago when they were herded into camps. Another prominent problem is nodding disease—a deadly illness that has broken out among thousands of children who grew up in the government’s internment camps, subsisting on relief aid. Indeed, the problems people face today are the legacy of the camps, where over a million Acholi were forced to live, and die, for years by their own government. Today’s problems are the legacy of the government’s counterinsurgency, which received full support from the US government and international aid agencies.
Which brings up the question that I am constantly asked in the US: “what can we do?”, where “we” tends to mean American citizens. In response, I have a few proposals. The first, perhaps not surprising from a professor, is to learn. The conflict in northern Uganda and central Africa is complicated, yes—but not impossible to understand. For several years, I have taught an undergraduate class on the conflict, and although it takes some time and effort, the students end up being well informed and able to come to their own opinions about what can be done. I am more than happy to share the syllabus with anyone interested! In terms of activism, I think the first thing we need to do is to re-think the question: instead of asking how the US can intervene in order to solve Africa’s conflicts, we need to ask what we are already doing to cause those conflicts in the first place. How are we, as consumers, contributing to land grabbing and to the wars ravaging this region? How are we, as American citizens, allowing our government to militarize Africa in the name of the War on Terror and securing oil resources? That is what we have to ask ourselves, because we are indeed responsible for the conflict in northern Uganda—however, we are not responsible to end it by sending military force, as Invisible Children tells us, but responsible for helping to cause and prolong it. In our desire to ameliorate suffering, we must not be complicit in making it worse.
Source: http://www.cihablog.com/whats-wrong-wit ... -campaign/
Tenho mais coisas relativamente ao tema. Quem tiver interessado eu posto mais a frente para não estar a saturar o tópico. Tenho também um mail em resposta ao vídeo do FPA (Friends for Peace in Africa).
- Cthulhu_Dawn
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Re: Política - Discussão ou algo do género.
A Foreign Policy e a Atlantic também têm uns artigos interessantes sobre esse "fenómeno".
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