Cthulhu_Dawn Escreveu:Ele até consegue intercalar um ou outro argumento que até podem ser considerados válidos ou, pelo menos, susceptíveis de poderem ser um contributo interessante numa discussão deste género.
Claro que fica tudo borrado com esse género de declarações.
A entrevista, em si, até é interessante e nem é imbecil por aí além, como algumas no "i" têm tendência para ser.
Terão a sua pertinência num vácuo, ou num ambiente "estéril" onde não se ataque activamente o emprego. Mas, pegando na entrevista, acaba de novo por se resumir tudo à mesma meia dúzia de lugares comuns pontuados por desconhecimento da realidade laboral do país. E aqui interrogo-me de facto se alguém que é CEO de uma empresa é burro e ignorante que chegue para revelar o desconhecimento tão gritante da realidade do mercado de trabalho que ele revela nesta entrevista, ou seja assim tão desconhecedor da realidade política que ele defende (e por muito que o negue e alegue "ingenuidade", há uma componente extremamente ideológica no que ele afirma).
O que se poderia tirar de positivo é a conclusão auto-evidente de que em muitos casos, o ensino quer obrigatório quer superior têm deficiências na preparação para a integração no mercado laboral. O resto vacila pelo Hubris típico dos self made men que acham que o que resulta para um, pode resultar para 100 (esquecendo-se claramente dos 100 a quem esse discurso não se aplica até porque nenhuma sociedade acomoda 100 Mark Zuckerbergs), numa espécie de pensamento formatado que é tão mais pernicioso por se mascarar de inovador. E salta, na sua análise acessória, por cima das questões essenciais do desemprego, do que são condições dignas para trabalhar ou até mesmo o facto de que estamos no topo (acho que em 4º) da lista no que a trabalhadores por conta própria diz respeito. Esse dado é uma de duas: Ou temos uma brutal taxa de empreendedorismo, ou temos uma brutal taxa de trabalhadores a recibos verdes mantidos nesse estatuto indefinidamente e sem qualquer tipo de apoios ou salvaguardas sociais. É que isto do desemprego elevado é excelente para as empresas que podem assim reduzir drasticamente os custos do factor trabalho. E aquilo que fica aqui em causa nem é tanto o não se querer trabalhar, mas porque é que se quer trabalhar em condição de recibos verdes, deixando 50% do que se ganha em impostos, sem que a empresa desconte TSU pelos nossos serviços, e sem se ter direito a baixa por doença, férias, descontos para a reforma ou sequer à garantia que o empregador nos não despeça sem justa causa. mas claro, pensar nisso é de novo aquela mania absurda dos direitos.
Como também tem o seu quê de irónico e de ignorante as comparações à Dinamarca ( que tem políticas de flexibilização laboral, sem dúvida, mas que são acompanhadas de um forte apoio e rede de segurança para que dessa flexibilização não resultem trabalhadores desprotegidos ) ou aos EUA ( que curiosamente foram vendo a sua hegemonia produtiva esboroar-se à medida que foram largando as medidas de apoio à sua classe média e foram adoptando esta filosofia do cada um por si).
Mas enfim, realmente revelador é o momento em que o entrevistador pergunta com alguma pertinência se o modelo do Impulso jovem não pode ser uma perversão do mercado de trabalho, alimentando a preço de saldo as empresas com mão de obra qualificada e facilmente substituivel e a resposta se resume essencialmente a um isso não interessa nada. É que até interessa, resta é ver a quem.