Política - Discussão ou algo do género.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » quarta mar 06, 2013 5:27 pm

Vooder Escreveu:Passos Coelho: Medida mais sensata para combater desemprego seria baixar salário mínimo
http://www.jornaldenegocios.pt/economia ... inimo.html


Ordos, se estava mal quando lá foste, imagina antes...


Eu sei que estava muito mau antes, o meu ponto de vista é um pouco "diferente", pois eu acho apenas que ele podia ter feito muito mais (estava perfeitamente ao alcance dele) com os recursos que tem, tinha a obrigação moral e os meios para isso.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Vooder » quarta mar 06, 2013 6:03 pm

Vooder Escreveu:Passos Coelho: Medida mais sensata para combater desemprego seria baixar salário mínimo
http://www.jornaldenegocios.pt/economia ... inimo.html


Ordos, se estava mal quando lá foste, imagina antes...

Já agora, pegando na minha frase, e no energúmeno do Passos Coelho, se estamos mal agora, imagina daqui a uns tempos :(
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » quarta mar 06, 2013 8:19 pm

Vooder Escreveu:
Vooder Escreveu:Passos Coelho: Medida mais sensata para combater desemprego seria baixar salário mínimo
http://www.jornaldenegocios.pt/economia ... inimo.html


Ordos, se estava mal quando lá foste, imagina antes...

Já agora, pegando na minha frase, e no energúmeno do Passos Coelho, se estamos mal agora, imagina daqui a uns tempos :(


Mas a Venezuela não está bem como está, com preços como os nossos e um salário mínimo de ~200€? Até o desemprego deles está nos 8%, não será a descida do salário mínimo para esses valores a decisão acertada? :lol: :P

Por acaso eu defendo o aumento do salário mínimo para valores mais altos que os subsídios de desemprego, mas não nesta altura que a economia não gera emprego.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quarta mar 06, 2013 11:09 pm

The Iranian president, Mahmoud Ahmadinejad, said Chávez would "return on resurrection day". He said he had "no doubt that Chávez will return to Earth" along with Jesus and Imam Mahdi, the most revered figure among Shia Muslims, to help "establish peace, justice and kindness" in the world.



O vosso momento de zen político.


http://www.guardian.co.uk/world/2013/ma ... hmadinejad
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor devilzerpia » quinta mar 07, 2013 10:45 am

Grimner Escreveu:
The Iranian president, Mahmoud Ahmadinejad, said Chávez would "return on resurrection day". He said he had "no doubt that Chávez will return to Earth" along with Jesus and Imam Mahdi, the most revered figure among Shia Muslims, to help "establish peace, justice and kindness" in the world.



O vosso momento de zen político.


http://www.guardian.co.uk/world/2013/ma ... hmadinejad


De facto :lol:
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http://www.youtube.com/watch?v=zuQK6t2Esng

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor warrior of wisdom » sexta mar 08, 2013 1:36 am

Grimner Escreveu:
The Iranian president, Mahmoud Ahmadinejad, said Chávez would "return on resurrection day". He said he had "no doubt that Chávez will return to Earth" along with Jesus and Imam Mahdi, the most revered figure among Shia Muslims, to help "establish peace, justice and kindness" in the world.



O vosso momento de zen político.


http://www.guardian.co.uk/world/2013/ma ... hmadinejad


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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Indigente » sexta mar 08, 2013 10:41 am

O Presidente da República, Cavaco Silva, divulgou hoje, na sua página pessoal do facebook, o prefácio do livro "Roteiros VII", onde fala sobre a forma como interveio no segundo ano do último mandato. Cavaco Silva salienta ainda que, na edição deste ano, o predácio diz respeito ao modo como deve atuar um Presidente da República em tempos de grave crise económica e financeira. Uma situação que, segundo o Presidente, retrata exatamente a situação em que Portugal tem estado mergulhado nos últimos anos.


http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2013/03 ... s-de-crise

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Cthulhu_Dawn » sexta mar 08, 2013 11:18 am

O que assusta é que sendo ele o tal Presidente com os tais "10 anos de experiência" como 1º Ministro mais os outros 7 de experiência como PR, ache preferível remeter-se a "prefácios" de livros que escreveu ou que vai escrever.

Não se trata de mediatismos mas tão simplesmente de assumir a condição de "mais alto magistrado da Nação".

"Explicar como actua um Presidente em tempo de crise"...Jeebus

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Audiokollaps » sexta mar 08, 2013 12:12 pm

A Vida Acima da Dívida

A mãe de todas as mensagens das manifestações do passado fim de semana foi a afirmação da vida contra a morte. Uma afirmação com três nomes: dignidade, democracia e patriotismo. E uma canção, onde coube todo o país exceto o governo. Sentindo um perigo e uma ameaça viscerais, os portugueses recusam-se a deixar de gostar de si e do seu país. Vivem um momento de intensa inteligência intuitiva que está além e aquém do que os discursos e representações oficiais dizem deles. Recusam-se a aceitar que uma vida honesta feita de muito trabalho e estudo possa ser apelidada de preguiçosa, leviana e aventureira, que os impostos e os descontos pagos ao longo da vida tenham sido em vão, que quem menos pagou seja quem é mais protegido num momento de dificuldade coletiva. Recusam-se a aceitar que a democracia seja uma máquina de triturar a esperança, um moinho que só sabe moer o moleiro, uma farsa onde só são reais os fios que sustentam as marionetas, uma engrenagem encalhada num parlamento à beira-mar enterrado. Recusam-se a aceitar que os representantes eleitos pelo povo representem exclusivamente os interesses de credores predadores, que os governantes tenham outra pátria que não a dos governados, que a riqueza do país e o bem-estar dos cidadãos se transformem em penhora de um futuro hipotecado, que o roubo deixe de o ser apenas por estar institucionalizado e cotado internacionalmente. Recusam-se a aceitar que um governo nacional se comporte como a comissão liquidatária do país, reduza a história e a cultura a números, de que aliás retira tantas previsões quantas imprevisões, viaje às escondidas pelo país e só fale em público quando o público é estrangeiro.

Esta inteligência intuitiva, que afirma a dignidade, a democracia e o patriotismo, permite entender o que parece inexplicável: que o governo seja indigno, apesar de ocupar instituições dignas; antidemocrático, apesar de ter sido eleito democraticamente; e antipatriótico, apesar de se dizer nosso ante outros países. A inteligência intuitiva não dispensa razões nem desconhece riscos, mas tem com umas e outros uma relação indireta ou fractal. Tem assim uma leveza traiçoeira que torna o seu tratamento político complexo. Eis algumas das razões. Cerca de 20% da receita fiscal vai para pagar juros (por cada 100 euros, 20 vão para os credores); pagamos em juros mais do que gastamos com a educação (108%) e 86% do que gastamos com a saúde; os juros representam 15% da despesa efetiva total do Estado; a política de austeridade aniquila os devedores até ao ponto de nada mais lhes poder tirar senão a vida nua que ainda lhes restar; se propuséssemos uma renegociação da dívida e não pagássemos juros durante o período de negociação (moratória), o nosso orçamento estaria equilibrado e seria possível libertar recursos para investimento e criação de emprego.

Quais os riscos? Se a política atual se mantiver, os portugueses passarão os próximos trinta anos a transferir a sua poupança para o exterior; com o ritmo migratório de 40.000 pessoas por ano, na grande maioria jovens e muitos deles altamente qualificados, daqui a dez anos Portugal será um imenso deserto com balões Google de resorts para turistas. Mais do que riscos, estas são certezas. Contra elas, há que ponderar os riscos da moratória. Portugal ficará sem acesso aos mercados? Mas não é esta a situação atual? O que aconteceu com a Islândia? Os credores, confrontados com uma ameaça credível de moratória, serão rígidos ou negociarão receber alguma coisa em vez de nada? A UE deixará cair definitivamente a periferia, como tem vindo a fazer, ou entenderá finalmente que a crise do sul da Europa só é grave porque há um norte que se alimenta dela e dispõe de uma moeda apenas coerente com a sua economia? Ante riscos de desastre e certezas desastrosas, a inteligência intuitiva não hesita. O hino à vida que se ouviu pelo país inteiro foi uma moção popular pela demissão do governo. Parafraseando o que Humberto Delgado disse sobre o que faria de Salazar se ganhasse as eleições: obviamente, demitam-se!


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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Brunhu » sexta mar 08, 2013 2:00 pm

E o caminho vai ser este:

Anúncio de emprego oferece quarto e comida. Nada de salário

«Quarto e comida para o trabalho». É este o título de uma oferta de trabalho para uma propriedade em Guadalajara, Espanha, em que se deixa no ar a «possibilidade de salário futuro». Este anúncio, publicado num site de empregos, é visto como «servidão» pela Confederação Sindical de Comissões de Trabalhadores (CCOO).

A CCOO denunciou já o caso ao Ministério Público para que identifique o anunciante e não descarta denunciá-lo ela própria à Inspeção do Trabalho, caso «a relação de servidão que se oferece chegue a produzir-se», cita o jornal «El Mundo».

A proposta especifica que se pretende alguém do «sexo masculino, entre 20-40 anos» para ajudar a cuidar de animais. Não poupa nas exigências: o candidato tem de ser «sério, responsável e com bons hábitos» e são «imprescindíveis conhecimentos em construção e eletricidade».

O anunciante diz então que o trabalho será feito «em troca de alojamento e manutenção, facilidades de deslocação e possibilidade de um salário no futuro».

Uma proposta que merece ainda «mais repúdio», segundo a confederação sindical, porque o site a apresenta como uma «oportunidade de negócio em Guadalajara».

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » sexta mar 08, 2013 2:17 pm

Brunhu Escreveu:E o caminho vai ser este:

Anúncio de emprego oferece quarto e comida. Nada de salário

«Quarto e comida para o trabalho». É este o título de uma oferta de trabalho para uma propriedade em Guadalajara, Espanha, em que se deixa no ar a «possibilidade de salário futuro». Este anúncio, publicado num site de empregos, é visto como «servidão» pela Confederação Sindical de Comissões de Trabalhadores (CCOO).

A CCOO denunciou já o caso ao Ministério Público para que identifique o anunciante e não descarta denunciá-lo ela própria à Inspeção do Trabalho, caso «a relação de servidão que se oferece chegue a produzir-se», cita o jornal «El Mundo».

A proposta especifica que se pretende alguém do «sexo masculino, entre 20-40 anos» para ajudar a cuidar de animais. Não poupa nas exigências: o candidato tem de ser «sério, responsável e com bons hábitos» e são «imprescindíveis conhecimentos em construção e eletricidade».

O anunciante diz então que o trabalho será feito «em troca de alojamento e manutenção, facilidades de deslocação e possibilidade de um salário no futuro».

Uma proposta que merece ainda «mais repúdio», segundo a confederação sindical, porque o site a apresenta como uma «oportunidade de negócio em Guadalajara».



Só assim a título cínico, qual é a diferença entre essa oferta e passar 2 anos a estagiar num consultório de advogado, a trabalhar como mouro, sem ser remunerado e com umas ajudas de custo de rir? A mesma pergunta para qualquer estágio não-remunerado :roll: :mrgreen:
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » sexta mar 08, 2013 3:41 pm

Além da ilusão de que o estágio é indispensável para o currículo e o estagiário deixar lá couro e cabelo de graça na esperança de ser notado e não substituido pelo recém licenciado que se segue... absolutamente nenhumas. Por isso mesmo esta notícia já não me é de todo surpreendente.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » sexta mar 08, 2013 4:15 pm

Grimner Escreveu:Além da ilusão de que o estágio é indispensável para o currículo e o estagiário deixar lá couro e cabelo de graça na esperança de ser notado e não substituido pelo recém licenciado que se segue... absolutamente nenhumas. Por isso mesmo esta notícia já não me é de todo surpreendente.


A única forma que eu vejo deste tipo de "estágio" ser minimamente justo para reconhecer competências, seria ter um conjunto de objectivos mínimos a cumprir num período de pelo menos 1 mês (ou 3 a 6 meses, dependente do tipo de emprego), com subsídio de alimentação e despesas de transporte pagas, em que já estaria implícito a renovação automática do contrato do mínimo 1 ano com um valor de salário fixo (ou mesmo com retroactivos ou prémio de assinatura) caso o funcionário cumprisse com os objectivos propostos (o salário final até podia depender da % de objectivos cumpridos). Assim seria pelo menos transparente para o trabalhador que após o período de estágio com sucesso teria absorvido conhecimento suficiente teria a segurança de ter contrato no fim do estágio.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor spiegelman » sexta mar 08, 2013 4:47 pm

Basicamente isso, principalmente em Advocacia. Eu estagiei num editor (Dom Quixote pré Leya)a só com ajudas de custo durante 6 meses mas porra, não tinha horário, não tinha obrigações de me apresentar. era um estágio mesmo. Não era o que muitos advogados são obrigados.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Francis » sexta mar 08, 2013 4:56 pm

Audiokollaps Escreveu:A Vida Acima da Dívida

A mãe de todas as mensagens das manifestações do passado fim de semana foi a afirmação da vida contra a morte. Uma afirmação com três nomes: dignidade, democracia e patriotismo. E uma canção, onde coube todo o país exceto o governo. Sentindo um perigo e uma ameaça viscerais, os portugueses recusam-se a deixar de gostar de si e do seu país. Vivem um momento de intensa inteligência intuitiva que está além e aquém do que os discursos e representações oficiais dizem deles. Recusam-se a aceitar que uma vida honesta feita de muito trabalho e estudo possa ser apelidada de preguiçosa, leviana e aventureira, que os impostos e os descontos pagos ao longo da vida tenham sido em vão, que quem menos pagou seja quem é mais protegido num momento de dificuldade coletiva. Recusam-se a aceitar que a democracia seja uma máquina de triturar a esperança, um moinho que só sabe moer o moleiro, uma farsa onde só são reais os fios que sustentam as marionetas, uma engrenagem encalhada num parlamento à beira-mar enterrado. Recusam-se a aceitar que os representantes eleitos pelo povo representem exclusivamente os interesses de credores predadores, que os governantes tenham outra pátria que não a dos governados, que a riqueza do país e o bem-estar dos cidadãos se transformem em penhora de um futuro hipotecado, que o roubo deixe de o ser apenas por estar institucionalizado e cotado internacionalmente. Recusam-se a aceitar que um governo nacional se comporte como a comissão liquidatária do país, reduza a história e a cultura a números, de que aliás retira tantas previsões quantas imprevisões, viaje às escondidas pelo país e só fale em público quando o público é estrangeiro.

Esta inteligência intuitiva, que afirma a dignidade, a democracia e o patriotismo, permite entender o que parece inexplicável: que o governo seja indigno, apesar de ocupar instituições dignas; antidemocrático, apesar de ter sido eleito democraticamente; e antipatriótico, apesar de se dizer nosso ante outros países. A inteligência intuitiva não dispensa razões nem desconhece riscos, mas tem com umas e outros uma relação indireta ou fractal. Tem assim uma leveza traiçoeira que torna o seu tratamento político complexo. Eis algumas das razões. Cerca de 20% da receita fiscal vai para pagar juros (por cada 100 euros, 20 vão para os credores); pagamos em juros mais do que gastamos com a educação (108%) e 86% do que gastamos com a saúde; os juros representam 15% da despesa efetiva total do Estado; a política de austeridade aniquila os devedores até ao ponto de nada mais lhes poder tirar senão a vida nua que ainda lhes restar; se propuséssemos uma renegociação da dívida e não pagássemos juros durante o período de negociação (moratória), o nosso orçamento estaria equilibrado e seria possível libertar recursos para investimento e criação de emprego.

Quais os riscos? Se a política atual se mantiver, os portugueses passarão os próximos trinta anos a transferir a sua poupança para o exterior; com o ritmo migratório de 40.000 pessoas por ano, na grande maioria jovens e muitos deles altamente qualificados, daqui a dez anos Portugal será um imenso deserto com balões Google de resorts para turistas. Mais do que riscos, estas são certezas. Contra elas, há que ponderar os riscos da moratória. Portugal ficará sem acesso aos mercados? Mas não é esta a situação atual? O que aconteceu com a Islândia? Os credores, confrontados com uma ameaça credível de moratória, serão rígidos ou negociarão receber alguma coisa em vez de nada? A UE deixará cair definitivamente a periferia, como tem vindo a fazer, ou entenderá finalmente que a crise do sul da Europa só é grave porque há um norte que se alimenta dela e dispõe de uma moeda apenas coerente com a sua economia? Ante riscos de desastre e certezas desastrosas, a inteligência intuitiva não hesita. O hino à vida que se ouviu pelo país inteiro foi uma moção popular pela demissão do governo. Parafraseando o que Humberto Delgado disse sobre o que faria de Salazar se ganhasse as eleições: obviamente, demitam-se!


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