Política - Discussão ou algo do género.

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Grimner
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » domingo jan 29, 2012 2:56 pm

Acho que já comentei isso aqui, às tantas já me perco.

Mas sim, a bolha chinesa está prestes a rebentar. Não sei bem qual a reportagem que viste, mas vi uma recente que mostra o sector imobiliário deles a criar cidades fantasma ( com todas as infraestruturas) em que ninguém habita, isto só para manter a industria da construção viva e a funcionar. Têm conseguido exportar algum desse trabalho para países africanos ( nomeadamente Angola), mas estão a criar uma situação completamente insustentável a médio prazo.
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raxx7
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor raxx7 » domingo jan 29, 2012 4:04 pm

Grimner Escreveu:http://economico.sapo.pt/noticias/mercados-estao-a-mudar-o-foco-da-grecia-para-portugal_136882.html


Economista do Commerzbank diz que o agravamento dos juros da dívida antecipa que Portugal é o próximo no radar dos mercados.

"Acho que reflecte uma mudança no foco dos mercados, porque até agora toda a gente estava preocupada com a Grécia", respondeu Peter Dixon, economista do Commerzbank para as acções globais, à Bloomberg, quando questionado sobre o agravamento dos juros dos títulos de dívida de Portugal.


E com o PC, cá estaremos de pernas abertas. Mas alguém duvidava que era isto que ia acontecer quando se começou com a austeridade?


E achas que sem austeridade os juros não iam continuar a subir?
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » domingo jan 29, 2012 4:19 pm

Já tornei a minha posição muito clara em relação a esta crise, às suas origens orquestradas, e às alternativas. Nada vai acalmar os mercados porque os mercados não querem ser acalmados, a despeito das mentiras do Gasparzinho que ainda no acordo de concertação elogiou os "resultados credibilizantes" desse acordo no mesmo dia que os juros disparavam uma vez mais. Enquanto a crise alimentar os mercados e permitir o lucro dos mesmos, vão continuar a ser o agressor. Já o defendia há meses quando dizia que estávamos a olhar para o futuro com a Grécia e que a austeridade não servia para coisa nenhuma.

Mentira, serve para uma coisa, ajudar a destruir isto muito mais facilmente.


mas apenas isso.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » domingo jan 29, 2012 4:43 pm

Grimner Escreveu:Já tornei a minha posição muito clara em relação a esta crise, às suas origens orquestradas, e às alternativas. Nada vai acalmar os mercados porque os mercados não querem ser acalmados, a despeito das mentiras do Gasparzinho que ainda no acordo de concertação elogiou os "resultados credibilizantes" desse acordo no mesmo dia que os juros disparavam uma vez mais. Enquanto a crise alimentar os mercados e permitir o lucro dos mesmos, vão continuar a ser o agressor. Já o defendia há meses quando dizia que estávamos a olhar para o futuro com a Grécia e que a austeridade não servia para coisa nenhuma.

Mentira, serve para uma coisa, ajudar a destruir isto muito mais facilmente.


mas apenas isso.


A devolução da confiança é difícil e árdua. No mundo real, se perdes a confiança em alguém, dificilmente voltas a recuperar essa confiança, por muito boa vontade e ações por parte de quem trai essa confiança. Essa é a única explicação plausível que encontro para tanta austeridade não travar o crescimento da dívida ou mesmo começar a baixá-la. Os resultados "credibilizantes" não passam disso, pois são apenas alguns resultados e não MUITOS resultados.

Pelo menos quero tentar dar uma razão lógica pois, já que falamos de mercado, acho estranho que quem nos tenha comprado dívida não assuma o risco. O risco de um país, empresa ou particular pedir um perdão parcial/total da dívida é pequeno, mas quem compra dívida também deve saber esse risco e, apesar de haver contratos, todos sabem que a subida dos juros de uma dívida só precipita que quem deva fique mais endividado e tudo acaba por resultar mal. Um esforço como o que estamos a fazer ainda só se tem refletido em ir buscar receita e pouco corte na despesa e esforço aos trabalhadores do país, ainda estou à espera que as reais reformas implementadas e as que se querem implementar entrem em vigor. Daqui a 4 anos, se o governo atual tiver implementado as reformas que quer e nada tiver mudado para positivo, não vejo saída possível e esta austeridade de pouco mais de meio-ano (a sério que esperavam ver mudanças drásticas e uma volta de 180º em menos de 1 ano!?!? :|).

Sejamos realistas, as medidas duras são sempre aplicadas nos primeiros 2 anos após posse das pastas, veremos quem até lá vai aguentar o seu cargo sem tremer e veremos se estes irão resistir a aplicar medidas populistas apenas para não perderem o fio dos seus votantes. Até lá, vamos continuar a ser algo "roubados" de todos os "direitos" adquiridos, simplesmente por não produzirmos q.b. e termos tido sucessivos governos incapazes, insuficientes e incompetentes.


PS- Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico, algo que vou passar a usar, embora contrariado. A língua sofre e sempre sofreu evoluções e revoluções, nem sempre para melhor mas ninguém morreu ainda por causa disso :mrgreen:
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » domingo jan 29, 2012 5:38 pm

Ordos, fala-se dos mercados como se fossem completos desconhecidos à dívida, e, como dizes, tenta-se agarrar alguma coisa. Não precisamos de esperar 4 anos aqui. A grécia está em austeridade há 2 anos e não se vê qualquer melhoria. Muito pelo contrário. E Sócrates só não fez foi uso da palavra, porque os PECs eram mini austeridades às prestações. Pelo que austeridade já não vem só do Passos Coelho. Só ficou um pouco mais descarada.

Quanto à confiança dos mercados... os mercados sabem e conhecem perfeitamente bem a conjectura e os actores dos países. Não é preciso ir mais longe que o caso Grécia- Goldman Sachs- BCE. Durante a maior parte da decada de 2000 a Goldman Sachs na altura gerida pelo Mario Draghi era um dos maiores investidores na Grécia. Foi responsável pela crise na Grécia bem como pela sua própria. Agora gere o BCE.

O que leva aos seguintes pontos:

- Os mercados foram os primeiros a necessitar de resgates, bem antes dos países. Aliás, a situação de alguns países deve-se, parcial ou totalmente, à falencia dos mercados. Estes, em muitos casos com indícios criminais de corrupção e gestão danosa, foram resgatados a fundo perdido, os tais "too big to fail" entre os quais se insere a Goldman Sachs. Foi preciso aí alguma confiança? Como tu dizes e bem, fazem investimentos de risco com o dinheiro das nossas poupanças. Quando as perdem são pagos com resgates nossos.

- Qual a lógica que justifica que um banco seja mais "too big to fail" que um país ( e fala-se de função pública, sistema de saúde, ensino, energia, segurança social, tudo "bens essenciais" da sociedade) ?

- Como é possível falar dos países ganharem a confiança dos mercados mas nunca se contestar a confiança que merecem esses próprios mercados ( e aqui entra a parte orquestrada, a que claramente faz lucro com tudo isto. 56 mil milhões de lucro só os 4 maiores de Wall St. Os que estavam em crise e precisaram de resgate, esses mesmos)?

- Com tanta promiscuidade entre os mercados e os governos, seja cá o Catroga que negoceia a Troika e depois trabalha para a EDP milionariamente ( a nosso custo, que não há concorrência à EDP e cumulativo com uma reforma que são 20 salários mínimos) seja o ex CEO da Lehman Brothers ( a que faliu por corrupção) Iberia que agora é ministro das finanças espanhol, seja o já citado Draghi, não têm os mercados já conhecimento mais que íntimo ( e melhor que o nosso) das contas dos países e da capacidade real de cumprir esses objectivos?

- Usando um micro exemplo, empresas como a Cofidis e a Cetelem, interessa-lhes mais um cliente que pague em 3 meses com juros mínimos ou sem juros, ou um que pague em 4 anos com juros a 20%? A quem é credor interessa muito mais o juro que o pagamento.

Por tudo isso a questão da "confiança dos mercados" é pura patranha. Não existe caso de implementação de austeridade que tenha recuperado sem um violentissimo coice no sistema. Essa noção de que "daqui a 4 anos" se vê resultados parece aquele mito da rã na panela. Se aqueces a água aos poucos ela coze sem se aperceber.


Edit: Num acrescento à produtividade, a questão é mais complexa que o simples produzir. A verdade é que os índices alemães mostram que eles têm cerca de 35h semanais contra as nossas 40, mais 2 semanas de férias, e que o salário médio é de 2.200€. Diria que em termos efectivos trabalhamos nós muito mais que eles por muito menos (em neo liberalês: Somos mais produtivos) sem que isso tenha impacto efectivo. Não sendo todos uns calões e uns mandriões, ou outros chavões do género a baixa produtividade tem outras explicações e nenhuma delas a ver com direitos e regalias. Facto é, a Alemanha não tem crise de produtividade simplesmente porque tem mercados para onde exportar. Ou melhor, tinha, porque as periferias europeias eram os seus maiores compradores ( privados e públicos, veja-se o exemplo dos submarinos portugueses, que tem paralelo na Grécia). Com a nossa falta de poder de compra, a Alemanha já se está a ressentir. E aí, serão as regalias sociais o impedimento à produtividade? Serão os alemães afinal preguiçosos à mesma?
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » domingo jan 29, 2012 5:52 pm

(num aparte wtf relativo a toda a questão de direitos de autor...)


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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Brilhando » domingo jan 29, 2012 6:41 pm

Setze jutges d'un jutjat mengen fetge d'un penjat; si el penjat es despengés es menjaria els setze fetges dels setze jutges que l'han jutjat.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » domingo jan 29, 2012 7:04 pm

FTW
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Venøm » domingo jan 29, 2012 7:19 pm

O piratebay é financiado pela CBS, lol. E muitas outras.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor BetinhoDoSludgeDrone » domingo jan 29, 2012 7:32 pm

Finalmente, o Paulo Coelho escreveu alguma coisa de jeito.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor demonseed » domingo jan 29, 2012 7:49 pm

BetinhoDoSludgeDrone Escreveu:Finalmente, o Paulo Coelho escreveu alguma coisa de jeito.

:D
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » domingo jan 29, 2012 8:02 pm

Grimner Escreveu:Ordos, fala-se dos mercados como se fossem completos desconhecidos à dívida, e, como dizes, tenta-se agarrar alguma coisa. Não precisamos de esperar 4 anos aqui. A grécia está em austeridade há 2 anos e não se vê qualquer melhoria. Muito pelo contrário. E Sócrates só não fez foi uso da palavra, porque os PECs eram mini austeridades às prestações. Pelo que austeridade já não vem só do Passos Coelho. Só ficou um pouco mais descarada.

Quanto à confiança dos mercados... os mercados sabem e conhecem perfeitamente bem a conjectura e os actores dos países. Não é preciso ir mais longe que o caso Grécia- Goldman Sachs- BCE. Durante a maior parte da decada de 2000 a Goldman Sachs na altura gerida pelo Mario Draghi era um dos maiores investidores na Grécia. Foi responsável pela crise na Grécia bem como pela sua própria. Agora gere o BCE.

O que leva aos seguintes pontos:

- Os mercados foram os primeiros a necessitar de resgates, bem antes dos países. Aliás, a situação de alguns países deve-se, parcial ou totalmente, à falencia dos mercados. Estes, em muitos casos com indícios criminais de corrupção e gestão danosa, foram resgatados a fundo perdido, os tais "too big to fail" entre os quais se insere a Goldman Sachs. Foi preciso aí alguma confiança? Como tu dizes e bem, fazem investimentos de risco com o dinheiro das nossas poupanças. Quando as perdem são pagos com resgates nossos.

- Qual a lógica que justifica que um banco seja mais "too big to fail" que um país ( e fala-se de função pública, sistema de saúde, ensino, energia, segurança social, tudo "bens essenciais" da sociedade) ?

- Como é possível falar dos países ganharem a confiança dos mercados mas nunca se contestar a confiança que merecem esses próprios mercados ( e aqui entra a parte orquestrada, a que claramente faz lucro com tudo isto. 56 mil milhões de lucro só os 4 maiores de Wall St. Os que estavam em crise e precisaram de resgate, esses mesmos)?

- Com tanta promiscuidade entre os mercados e os governos, seja cá o Catroga que negoceia a Troika e depois trabalha para a EDP milionariamente ( a nosso custo, que não há concorrência à EDP e cumulativo com uma reforma que são 20 salários mínimos) seja o ex CEO da Lehman Brothers ( a que faliu por corrupção) Iberia que agora é ministro das finanças espanhol, seja o já citado Draghi, não têm os mercados já conhecimento mais que íntimo ( e melhor que o nosso) das contas dos países e da capacidade real de cumprir esses objectivos?

- Usando um micro exemplo, empresas como a Cofidis e a Cetelem, interessa-lhes mais um cliente que pague em 3 meses com juros mínimos ou sem juros, ou um que pague em 4 anos com juros a 20%? A quem é credor interessa muito mais o juro que o pagamento.

Por tudo isso a questão da "confiança dos mercados" é pura patranha. Não existe caso de implementação de austeridade que tenha recuperado sem um violentissimo coice no sistema. Essa noção de que "daqui a 4 anos" se vê resultados parece aquele mito da rã na panela. Se aqueces a água aos poucos ela coze sem se aperceber.


Edit: Num acrescento à produtividade, a questão é mais complexa que o simples produzir. A verdade é que os índices alemães mostram que eles têm cerca de 35h semanais contra as nossas 40, mais 2 semanas de férias, e que o salário médio é de 2.200€. Diria que em termos efectivos trabalhamos nós muito mais que eles por muito menos (em neo liberalês: Somos mais produtivos) sem que isso tenha impacto efectivo. Não sendo todos uns calões e uns mandriões, ou outros chavões do género a baixa produtividade tem outras explicações e nenhuma delas a ver com direitos e regalias. Facto é, a Alemanha não tem crise de produtividade simplesmente porque tem mercados para onde exportar. Ou melhor, tinha, porque as periferias europeias eram os seus maiores compradores ( privados e públicos, veja-se o exemplo dos submarinos portugueses, que tem paralelo na Grécia). Com a nossa falta de poder de compra, a Alemanha já se está a ressentir. E aí, serão as regalias sociais o impedimento à produtividade? Serão os alemães afinal preguiçosos à mesma?


Não acredito na austeridade tal como está a acontecer, mas acho que era impossível fugir dela, nem que fosse para dar um abanão ao país, como ele precisava. Acho que estávamos estagnados e ainda estamos algo parados no tempo no que toca a aplicar formas práticas de aumentar a produtividade e manter os trabalhadores felizes e a relação com os patrões saudável.

Quando falo dos 4 anos, falo do mandato do governo que espero que até lá se mexa com o estado das coisas de forma a modernizar o mercado, de equilibrar a balança da dívida, de se mentalizar as pessoas para mudar os processos de trabalho. Espero que daqui a 3,5 anos possamos todos olhar para a situação do país e poder ver que a austeridade serviu para alterar alguma da mentalidade que não leva o nosso tecido empresarial e público a lado algum. Não acho que ainda estejamos num ponto de não retorno, mas estamos lá perto, apenas acredito que se nesse tempo não se inverter muita coisa que está mal e que toda a gente sabe que está mal, vou pensar dar uma hipótese à emigração, a não ser que esteja bem e muito confortável na vida (e vou tentando fazer isso porque não queria sair daqui).
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » domingo jan 29, 2012 9:06 pm

Desculpa, mas essa é uma forma um pouco enviesada de ver as coisas.

No que diz respeito à produtividade, em especial. Conforme já disse aqui, em toda a UE, Portugal é o país onde se trabalha MAIS. Em termos de horas, em termos de menos tempo de férias, e é inversamente o país com os salários mais baixos ( abaixo da Grécia, até). Logo por aí, a questão da produtividade merece uma análise mais profunda, e não é trabalhando mais horas que se produz mais. Aliás, os países do Norte mostram de facto o quão errado esse paradigma é. Repito, os alemães, a maior indústria europeia trabalham menos uma hora por dia, pelo triplo do salário médio, com 6 semanas de férias. Se o factor tempo de trabalho/salários baixos resultasse em produtividade, éramos garantidamente os primeiros. A não ser que por produtividade defendas o modelo chinês de trabalho escravo. Já se introduziu na lei as corveias, que são um conceito medieval, porque não ir mais além?

Mais: há uma correlação directa entre produtividade e competitividade. Há vários exemplos que mostram precisamente que um ambiente com boas condições de trabalho fomenta produtividade. Más condições, pelo contrário, desmotivam. Num país em que se assassinou a indústria têxtil, se subsidiou a não produção agrícola e pesqueira, e se vende todo o património e riqueza natural a consórcios estrangeiros, é natural que a produção ande em baixo, digo eu.

Quanto à inevitabilidade, ou necessidade de austeridade... esta não aumenta a produtividade pelas razões que disse acima. Aliás, faz o contrário. É a norma na grande maioria das empresas a "troca" de funcionários em fim de contrato, independentemente da sua produtividade, por estagiários que aceitam só o subsidio de refeição. Mas a questão mais grave da austeridade? É que nunca, nunca funcionou em nenhum dos países que foi implantada. Basta olhar para os comportamentos da Argentina e de outros países quando estavam na mesma situação que nós. A Argentina viveu cerca de 10 anos de austeridades sucessivas, em espiral, sem fim à vista até à expulsão do FMI e uma série de revoltas populares. Os indicadores e a situação eram os mesmos: uma dívida soberana altissima, em que os pagamentos e os empréstimos só chegavam para pagar os juros do pagamento anterior. Entretanto tudo o resto se deteriorava. Como não aprendemos nesse erro explica-se pelo facto de que a austeridade interessa a quem a impõe. APENAS a quem a impõe. Ou seja, a alternativa não surge da austeridade e o que estamos a ver é o colapso da Argentina. Mas a título europeu. E aparentemente sem tirar lições disso.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Audiokollaps » domingo jan 29, 2012 9:58 pm

Grimner Escreveu:Desculpa, mas essa é uma forma um pouco enviesada de ver as coisas.

No que diz respeito à produtividade, em especial. Conforme já disse aqui, em toda a UE, Portugal é o país onde se trabalha MAIS. Em termos de horas, em termos de menos tempo de férias, e é inversamente o país com os salários mais baixos ( abaixo da Grécia, até). Logo por aí, a questão da produtividade merece uma análise mais profunda, e não é trabalhando mais horas que se produz mais. Aliás, os países do Norte mostram de facto o quão errado esse paradigma é. Repito, os alemães, a maior indústria europeia trabalham menos uma hora por dia, pelo triplo do salário médio, com 6 semanas de férias. Se o factor tempo de trabalho/salários baixos resultasse em produtividade, éramos garantidamente os primeiros. A não ser que por produtividade defendas o modelo chinês de trabalho escravo. Já se introduziu na lei as corveias, que são um conceito medieval, porque não ir mais além?

Mais: há uma correlação directa entre produtividade e competitividade. Há vários exemplos que mostram precisamente que um ambiente com boas condições de trabalho fomenta produtividade. Más condições, pelo contrário, desmotivam. Num país em que se assassinou a indústria têxtil, se subsidiou a não produção agrícola e pesqueira, e se vende todo o património e riqueza natural a consórcios estrangeiros, é natural que a produção ande em baixo, digo eu.

Quanto à inevitabilidade, ou necessidade de austeridade... esta não aumenta a produtividade pelas razões que disse acima. Aliás, faz o contrário. É a norma na grande maioria das empresas a "troca" de funcionários em fim de contrato, independentemente da sua produtividade, por estagiários que aceitam só o subsidio de refeição. Mas a questão mais grave da austeridade? É que nunca, nunca funcionou em nenhum dos países que foi implantada. Basta olhar para os comportamentos da Argentina e de outros países quando estavam na mesma situação que nós. A Argentina viveu cerca de 10 anos de austeridades sucessivas, em espiral, sem fim à vista até à expulsão do FMI e uma série de revoltas populares. Os indicadores e a situação eram os mesmos: uma dívida soberana altissima, em que os pagamentos e os empréstimos só chegavam para pagar os juros do pagamento anterior. Entretanto tudo o resto se deteriorava. Como não aprendemos nesse erro explica-se pelo facto de que a austeridade interessa a quem a impõe. APENAS a quem a impõe. Ou seja, a alternativa não surge da austeridade e o que estamos a ver é o colapso da Argentina. Mas a título europeu. E aparentemente sem tirar lições disso.


X2!

Claro e mais transparente é impossível.

Agora, o que eu não entendo é o facto de os portugueses aceitarem isto tudo como uma inevitabilidade, como se fossemos todos culpados de algum crime.

Ou se calhar até entendo....

Estratégias de manipulação

Estratégias e técnicas para a manipulação da opinião pública e da sociedade


1- A estratégia da diversão

Elemento primordial do controle social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e da mutações decididas pelas elites políticas e económicas, graças a um dilúvio contínuo de distracções e informações insignificantes.

A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.

"Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por assuntos sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar, voltado para a manjedoura com os outros animais" (extraído de "Armas silenciosas para guerras tranquilas" )

2- Criar problemas, depois oferecer soluções

Este método também é denominado "problema-reacção-solução". Primeiro cria-se um problema, uma "situação" destinada a suscitar uma certa reacção do público, a fim de que seja ele próprio a exigir as medidas que se deseja fazê-lo aceitar. Exemplo: deixar desenvolver-se a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público passe a reivindicar leis securitárias em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia do esbatimento

Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, de forma gradual, ao longo de 10 anos. Foi deste modo que condições sócio-económicas radicalmente novas foram impostas durante os anos 1980 e 1990. Desemprego maciço, precariedade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não asseguram um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se houvessem sido aplicadas brutalmente.


4- A estratégia do diferimento

Outro modo de fazer aceitar uma decisão impopular é apresentá-la como "dolorosa mas necessária", obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação no futuro. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque a dor não será sofrida de repente. A seguir, porque o público tem sempre a tendência de esperar ingenuamente que "tudo irá melhor amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Finalmente, porque isto dá tempo ao público para se habituar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento.

Exemplo recente: a passagem ao Euro e a perda da soberania monetária e económica foram aceites pelos países europeus em 1994-95 para uma aplicação em 2001. Outro exemplo: os acordos multilaterais do FTAA (Free Trade Agreement of the Americas) que os EUA impuseram em 2001 aos países do continente americano ainda reticentes, concedendo uma aplicação diferida para 2005.
5- Dirigir-se ao público como se fossem crianças pequenas

A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens e um tom particularmente infantilizadores, muitas vezes próximos do debilitante, como se o espectador fosse uma criança pequena ou um débil mental. Exemplo típico: a campanha da TV francesa pela passagem ao Euro ("os dias euro"). Quanto mais se procura enganar o espectador, mais se adopta um tom infantilizante. Por que?

"Se se dirige a uma pessoa como ela tivesse 12 anos de idade, então, devido à sugestibilidade, ela terá, com uma certa probabilidade, uma resposta ou uma reacção tão destituída de sentido crítico como aquela de uma pessoa de 12 anos". (cf. "Armas silenciosas para guerra tranquilas" )

6- Apelar antes ao emocional do que à reflexão

Apelar ao emocional é uma técnica clássica para curtocircuitar a análise racional e, portanto, o sentido crítico dos indivíduos. Além disso, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para ali implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos...

7- Manter o público na ignorância e no disparate

Actuar de modo a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o seu controle e a sua escravidão.

"A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser da espécie mais pobre, de tal modo que o fosso da ignorância que isola as classes inferiores das classes superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes inferiores". (cf. "Armas silenciosas para guerra tranquilas" )

8- Encorajar o público a comprazer-se na mediocridade

Encorajar o público a considerar "fixe" o facto de ser idiota, vulgar e inculto...

9- Substituir a revolta pela culpabilidade

Fazer crer ao indivíduo que ele é o único responsável pela sua infelicidade, devido à insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, ao invés de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo se auto-desvaloriza e auto-culpabiliza, o que engendra um estado depressivo que tem como um dos efeitos a inibição da acção. E sem acção, não há revolução!...


10- Conhecer os indivíduos melhor do que eles se conhecem a si próprios

No decurso dos últimos 50 anos, os progressos fulgurantes da ciência cavaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dirigentes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" chegou a um conhecimento avançado do ser humano, tanto física como psicologicamente. O sistema chegou a conhecer melhor o indivíduo médio do que este se conhece a si próprio. Isto significa que na maioria dos casos o sistema detém um maior controle e um maior poder sobre os indivíduos do que os próprios indivíduos.

O original encontra-se emhttp://perso.wanadoo.fr/metasystems/Manipulations.html

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Venøm » domingo jan 29, 2012 10:21 pm

Hear Ye Hear Ye!
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Pelos vistos nem tudo está perdido:

<<European Parliament Official In Charge Of ACTA Quits, And Denounces The 'Masquerade' Behind ACTA>>

This is interesting. Kader Arif, the "rapporteur" for ACTA, has quit that role in disgust over the process behind getting the EU to sign onto ACTA. A rapporteur is a person "appointed by a deliberative body to investigate an issue." However, it appears his investigation of ACTA didn't make him very pleased:

I want to denounce in the strongest possible manner the entire process that led to the signature of this agreement: no inclusion of civil society organisations, a lack of transparency from the start of the negotiations, repeated postponing of the signature of the text without an explanation being ever given, exclusion of the EU Parliament's demands that were expressed on several occasions in our assembly.

As rapporteur of this text, I have faced never-before-seen manoeuvres from the right wing of this Parliament to impose a rushed calendar before public opinion could be alerted, thus depriving the Parliament of its right to expression and of the tools at its disposal to convey citizens' legitimate demands.”

Everyone knows the ACTA agreement is problematic, whether it is its impact on civil liberties, the way it makes Internet access providers liable, its consequences on generic drugs manufacturing, or how little protection it gives to our geographical indications.

This agreement might have major consequences on citizens' lives, and still, everything is being done to prevent the European Parliament from having its say in this matter. That is why today, as I release this report for which I was in charge, I want to send a strong signal and alert the public opinion about this unacceptable situation. I will not take part in this masquerade.

Pretty rare to find such direct honesty in political circles. That's quite a direct and clear condemnation of the entire process. In terms of process, it will be interesting to see if this has an impact. While the EU did sign on to ACTA today, it still needs to be ratified by the European Parliament (more on that in a little while). Having Arif quit makes a pretty big statement, and hopefully makes it easier for Parliament Members to speak out loudly against ACTA... Still, this is an uphill battle. The supporters of ACTA have been working to get ACTA approved for years. To them, this is basically a done deal.


Fonte: http://www.techdirt.com/articles/201201 ... acta.shtml


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