slavesofpain Escreveu:capacidade do vinil de assumir mais graves e agudos em comparação ao CD.
Uma gravação moderna passa, quase sempre, por pelo menos um equipamento digital. Ao fazê-lo, perdem-se os tais graves e agudos que teoricamente poderiam estar presentes no vinil, e portanto uma prensagem em vinil de uma gravação que não seja 100% analógica já não tem nenhuma dessas frequências presentes. Pôr um vinil a tocar numa aparelhagem que faça qualquer tipo de transição para digital antes de chegar às colunas vai dar exactamente ao mesmo. Era a isso que o Indigente se referia.
Sim, é possível que vinil de qualidade, bem prensado com uma gravação feita 100% em material topo de gama completamente analógico, possa conter algumas frequências acima e abaixo do espectro que está presente numa gravação digital. Mas não estamos a falar de uma diferença abismal, de ter frequências subsónicas e ultrasónicas nos vinis por artes mágicas; simplesmente têm um alcance dinâmico um pouco maior que o digital, mas a diferença é negligível.
De qualquer modo, desafio-vos a encontrar um equipamento, moderno ou antigo, que conseguisse fazer chegar essas frequências aos vossos ouvidos e que não custe/custasse uma brutalidade de dinheiro nem seja equipamento especializado de laboratório. Podem ir procurar, que eu espero sentado.
Moral da história, duvido mesmo muito que alguém possa ter tido em sua casa um gira-discos + agulha + amplificador + colunas em que a presença dessas frequências no disco tenham realmente feito alguma diferença. Algures pelo meio do material comprado na feira que a maior parte da malta usa ou usava para ler vinis, lá se fode o perfeccionismo todo...
Para mais, o próprio material de que são feitos os discos de vinil (ou seja, vinil... duh) distorce o som que lhe é impresso. Já há décadas que os estúdios que se focavam primariamente no vinil tinham de distorcer propositadamente as gravações antes de prensar os discos, para compensar a distorção que o próprio material aplicava ao som. Ou seja, se sabemos que o material vai distorcer o som numa certa direcção, vamos antes de prensar distorcê-lo na direcção oposta, para que ambas as distorções se cancelem no final.
A conclusão a que a malta que estuda estas coisas tem chegado é que é exactamente essa distorção "flutuante" e algo caótica que dá um som particular aos vinis, e que apraz a tanta gente. Não faço juízos de valor sobre se é mais certo ou mais errado gostar mais da música assim - cada qual ouve a música como quiser, quero lá saber, especialmente num fórum em que tanta gente ouve bandas de "bedroom blackmetal" da trampa em leitores de MP3 comprados nos ciganos com phones de 2€ - mas a verdade é que já vi vários módulos de software (VSTs, para quem sabe o que são) que emulam essa distorção dos vinis em músicas gravadas digitalmente. Ou seja, já se chega ao ponto de pegar em gravações o mais fiéis possível dos instrumentos e escarrapachar-lhes uma distorção fodida em cima para lhe dar um ar mais vintage.
Dito isto, eu próprio gosto bastante de comprar vinis. Tenho vários que nunca ouvi nem vou ouvir num gira-discos - comprei-os porque gosto mais do formato do que de CDs, mas a música que lá está, ouço-a em mp3 que dão mais jeito.
Ah, e já havia por aí outro tópico em que se discutiam os méritos e deméritos do vinil. Este é redundante.