Público Escreveu:O Presidente russo, duramente criticado pelo Ocidente depois de ter reconhecido a independência das regiões separatistas da Ossétia do Sul e Abkházia, avisou hoje que Moscovo “não tem medo de nada”, nem mesmo de uma nova “Guerra Fria”.
Um coro de protestos seguiu-se ao anúncio feito esta manhã por Dmitri Medvedev, com vários países a lamentar a iniciativa russa, outros a denunciar a “violação deliberada do direito internacional”, e outros a alertar ainda que, com este passo, a Rússia põe em causa a cooperação internacional, correndo o risco de ficar isolada.
“Não temos medo de nada e isso inclui uma [nova] Guerra Fria. Mas é evidente que não a queremos”, afirmou o chefe de Estado, em entrevista ao canal de notícias russo em língua inglesa, Rusia Today.
Questionado sobre as consequências da crise no Cáucaso para as relações externas da Rússia, Medvedev disse que “tudo depende da comunidade e dos parceiros da Rússia no Ocidente”. “Se os ocidentais quiserem manter as boas relações com a Rússia, vão compreender as razões da nossa decisão” de reconhecer as duas regiões pró-russas, formalmente parte do território da Geórgia desde a divisão de fronteiras que se seguiu à dissolução da URSS.
Medvedev sublinhou ainda que a Rússia aplicou na íntegra o plano de paz patrocinado pela presidência francesa da União Europeia, fazendo recuar as suas tropas para a Ossétia do Sul, apesar de manter uma zona tampão em redor da região separatista.
O trunfo dos recursos energéticos:
Também o chefe da diplomacia de Moscovo reagiu às críticas ocidentais, garantindo que apesar da pressão internacional, a Rússia não ficará isolada. “Se todas as partes seguirem os interesses dos respectivos países não creio que haverá congelamento de relações”, afirmou Sergei Lavrov, numa referência implícita à dependência energética de vários países europeus em relação a Moscovo.
Mais pessimista, o representante russo na NATO, Dmitri Rogozin, disse que a atmosfera política que se vive na Europa “recorda os tempos que antecederam a I Guerra Mundial”, responsabilizando o Presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, pela actual crise.
Na altura, “por causa de um único terrorista, as potências dominantes entraram em guerra”, afirmou o enviado, numa referência ao nacionalista sérvio que matou o arquiduque austro-húngaro Francisco Fernando, desencadeando a I Guerra Mundial. “Espero que Saakashvili não entre na história como o novo Gavrilo Princip”, acrescentou.
Estaremos perante uma (nova) Guerra Fria?