Metal Underground

''Um sinal a não ignorar

Independentemente das razões que lhes possam ou não assistir, a manifestação de protesto promovida pelos professores, de vários níveis de ensino, representa um claro aviso, com grande alcance político, que não permitirá que o governo finja que não viu.

Esta manifestação, pela sua dimensão, é um motivo que deve levar o governo a pensar seriamente no rumo que vai seguir até 2009.

Confesso que não estou à vontade para dizer que os professores têm ou deixam de ter razão. Já me manifestei, em página deste jornal, a favor da avaliação dos professores.

Todos nós fomos ou somos periodicamente avaliados e não vejo razão para que os professores não sejam também. Afinal, os professores são, a par dos magistrados, os profissionais que mais avaliam os outros.

Mas, se defendo que devem ser avaliados, não posso, em consciência, afirmar que modelo proposto é correcto ou incorrecto. Não conheço suficientemente o modelo de avaliação nem tenho qualquer actividade ligada ao ensino que me permitam a sensibilidade que têm os profissionais de educação, de qualquer actividade.

Nem tão-pouco me pronuncio sobre eventuais privilégios porque, a tê-los, não serão os únicos.

Considero que um bom professor desenvolve uma actividade nobre e difícil.

Em causa parecem estar o modelo e o momento da aplicação. Foram afirmações que ouvi com alguma frequência nas últimas semanas.

Há quem entenda tratar-se duma reacção corporativa.

Não lhe chamaria isso que, aliás, considero perigoso. Juntar cem mil pessoas numa manifestação ultrapassa largamente o carácter corporativo de qualquer instituição.

Importa, na minha opinião, analisar as consequências políticas para o governo socialista, que considero um bom governo.

Estou convencido das boas intenções do governo e do ministério que serão para melhorar o ensino. Mas também estou convencido que não existirão condições de avançar tendo uma parte muito significativa dos professores contra o modelo e o momento.

Avançar, com os professores contra, é um risco muito grande e pode condenar o sistema de avaliações a um fracasso que será sempre indesejável.

Também não me parece acertado demitir a ministra que me penso ser competente e interessada.

Se a ministra cair, outro ministro lhe sucederá na lista de figuras a triturar. Desde que "caiu" o anterior ministro da Saúde começaram os maiores problemas da ministra da Educação. Se esta cair, quem se seguirá? Talvez o ministro da Administração Interna. Ou o da Justiça. Ou outro...

Tem sido assim desde que acabou o estado de graça do governo actual.

Não sou analista político, nem pretendo ter tal presunção, mas penso que a única saída é adiar a aplicação deste método e estabelecer pontes de entendimento com os sindicatos sem que isso possa significar vergar-se a radicalismos que pode existir nesta fase a acontecer em consequência do eventual extremar de posições.

Acredito e desejo que o governo saiba ultrapassar esta situação que, reconheça-se, é difícil.

O governo tem-nos habituado a ultrapassar situações difíceis e estou convencido que será capaz de ultrapassar mais uma contrariedade.''

Acho que já cá faltava um tópico sobre a revolta dos professores. Peço desculpa aos moderadores/administradores mas não resisti em criar um tópico sobre este assunto e acho que toda gente tem direito de expressar a sua opinião.

Como toda gente sabe, houve uma revolta por parte dos professores. Gostaria que a comentassem, a noticia e possiveis medidas para melhorar a situação. (Se é que existem)

Ambos os meus pais são professores, não foram à manif por motivos pessoais mas lutam diariamente para que esta situação acabe. Este governo é vergonhoso.

FUZZ Escreveu:Ambos os meus pais são professores, não foram à manif por motivos pessoais mas lutam diariamente para que esta situação acabe. Este governo é vergonhoso.

Por acaso um stôr meu foi a manifestação... acho muito bem que se revoltem... se ninguém se manifestar então aí é que ninguém faz nada...

Sou prof, fui á manifestação, assim como fui a outras realizadas desde que dou aulas, faço e fiz todas as greves desde que dou aulas inclusivé durante o meu ano de estágio e as reinvidicações dos professores não têm só a ver (porque obviamente também tem a ver) com o seu umbigo, mas prende-se com uma das áreas fundamentais do nosso país: a Educação.
É curioso constatar, leia-se triste e também ao mesmo tempo com alegria, que a maioria das pessoas só começou a fazer perguntas acerca do que se passa actualmente com os prof por causa das manifestações, quando deveriam ser parte integrante do sistema educativo já que este tem a ver não só com elas, como partes integrantes da sociedade, mas também em relação ás gerações vindouras - filhos.

Como os professores são também «comuns dos mortais» só reclamam quando a porcaria já lhes chegou ao nariz e lhes tapa a respiração... é prática comum no nosso país deixar-se fazer tudo e reclamar-se ainda mais, como forma de compensação ou catarse sentimental...

É bom que venha a avaliação, quanto antes. Há, realmente, "muita porcaria" para varrer.

Riff Escreveu:É bom que venha a avaliação, quanto antes. Há, realmente, "muita porcaria" para varrer.

x2

(e os meus pais são ambos professores)

Claro! No meu departamento, a cordenadora que vai proceder à avaliação de professores de educação física, tecnológica, geometria, Educação Musical... é docente de Educação Visual do 2º ciclo. Está visto que ela tem formação para avaliar os conhecimentos de professores de tão diversas áreas.
Costuma-se dizer que "depressa e bem à pouco quem", mas pronto, venha lá esta avaliação à portuguesa. De certeza que o ensino vai melhorar muito e o índice de sucesso vai aumentar ainda mais!

Concordo com uma avaliação aos professores, isso sem dúvida!
Não concordo é com os moldes sob os quais essa foi apresentada. Enfim, habituaram-se aos projectos-lei em que 30% é positivo e o resto é feito à pressa porque tem que se decretar mais qualquer coisinha.
De qualquer forma, parece-me a mim que só os maus professores têm a temer um sistema de avaliação bem projectado. Porque haveria um desses continuar a ocupar o seu cargo quando talvez um mais vocacionado/qualificado/whatever está no desemprego?

Nhec Escreveu:Concordo com uma avaliação aos professores, isso sem dúvida!
Não concordo é com os moldes sob os quais essa foi apresentada. Enfim, habituaram-se aos projectos-lei em que 30% é positivo e o resto é feito à pressa porque tem que se decretar mais qualquer coisinha.
De qualquer forma, parece-me a mim que só os maus professores têm a temer um sistema de avaliação bem projectado. Porque haveria um desses continuar a ocupar o seu cargo quando talvez um mais vocacionado/qualificado/whatever está no desemprego?

Subscrevo.

Sou professor há quatro anos, ou dou aulas há quatro anos o que é +/- a mesma coisa.

Ouço muita gente dizer que no privado são constantemente avaliados pelo que depreendo que todos esses trabalhadores devem ter que elaborar projectos pessoais no início do ano, apresentar planos, preencher fichas de auto-avaliação com dezenas de parâmetros, não poder fazer certas coisas na rua inclusive quando são insultados (sim, os funcionários públicos não são completamente livres) etc. Deve ser mesmo assim deve.

Mas a questão aqui não é a avaliação, nem se o modelo ou momento de aplicação é adequado. A questão é: o que fazer para melhorar o ensino? O que implica responder a isto (entre outras coisas):

Como dar melhores aulas?
Que métodos usar?
Que material?
Que condições são precisas nas salas e em casa para se estudar?
Número mínimo de alunos nas turmas?
Misturar alunos com necessidades educativas especiais com os outros (como já vai acontecer no próximo ano!)?
Como responsabilizar os pais (alguns dos quais só se preocupam se o filho fica sem o telemóvel mas pouco se este tem TPCs para fazer, e muitos dos quais nunca metem os pés na escola)?
Como avaliar os professores, mas também os pais?

A questão da avaliação entra na solução do problema, mas as reformas deviam começar pelas primeiras questões que são as mais importantes. MAs como esta gente está mais preocupada em poupar $ do que em melhorar o ensino decidiram avançar com o modelo de gestão, da avaliação, do estatuto do aluno. Tudo o que permite poupar $ reduzindo os profs nos quadros (e as primeiras vítimas serão já os contratados!) mas não implica melhorias no ensino - o que devia ser a sua preocupação.

A tragédia é que também não se ouve muitos profs a falarem disto. Foram no engodo e voltaram a passar a imagem de defesa dos interesses da classe quando deviam falar da defesa da escola pública e da qualidade do ensino.

Os trabalhadores do privado só descansarão quando todos forem tão precários como eles e nem se darão conta que um dia os seus filhos vão querer educação gratuita com um mínimo de qualidade e vão dar "com os cornos na parede" (fiem-se no "cheque educação"...)!!! Ou então vão para as poucas escolas públicas que restarem, então transformadas em "escolas-favela".

Nevoeiro Escreveu:Claro! No meu departamento, a cordenadora que vai proceder à avaliação de professores de educação física, tecnológica, geometria, Educação Musical... é docente de Educação Visual do 2º ciclo. Está visto que ela tem formação para avaliar os conhecimentos de professores de tão diversas áreas.
Costuma-se dizer que "depressa e bem à pouco quem", mas pronto, venha lá esta avaliação à portuguesa. De certeza que o ensino vai melhorar muito e o índice de sucesso vai aumentar ainda mais!

Esse é que me parece ser o grande problema. Más avaliações.
Concordo com avaliações, mas deveriam ser feitas por pessoas competentes nessas áreas. Além de terem bastante experiência, deveriam ter mente aberta para uma educação para o século XXI e não para o século XX como a grande maioria de professores tem.

Há cursos de ensino a mais. Fechavam-se alguns e os orientadores de curso, orientadores científicos e professores das disciplinas pedagógicas desses cursos poderiam fazer parte das avaliações, por exemplo. Não chegariam para tudo, mas sempre eram mais fiáveis do que o que referes que não tem qualquer lógica.

O que dizes do indica de sucesso é o lado "negro" de todas estas medidas. É que de certeza que isso vai acontecer, e o que é que fica para o futuro? Dados estatísticos. E o que dirão esses dados daqui a uns bons anos. Ora, por volta das reformas de ensino do ministério do Sócrates, a taxa de sucesso subiu a pique.
Oculto à estatística, fica a realidade: Alunos mal preparados, ou menos bons que o que aparentam ser.

um pouco off-topic, os exames de acesso à carreira docente também vão baixar a pique a taxa de professores não colocados.

Tudo estratégias para que aparentemente as coisas pareçam favoráveis. Vivemos todos em jogos de aparências, até o governo.

Mas do mal o menos, venham as avaliações, porque parece-me "Há, realmente, "muita porcaria" para varrer." E não estou a ser irónico

LeadAether Escreveu:Ouço muita gente dizer que no privado são constantemente avaliados pelo que depreendo que todos esses trabalhadores devem ter que elaborar projectos pessoais no início do ano, apresentar planos, preencher fichas de auto-avaliação com dezenas de parâmetros, não poder fazer certas coisas na rua inclusive quando são insultados (sim, os funcionários públicos não são completamente livres) etc. Deve ser mesmo assim deve.

LOL. São? Estou numa privada e nunca vi. Aliás, se assim fosse, dois dos dinossauros já teriam ido para a rua há muito tempo. Pergunto-me em que mundo vivem as pessoas que dizem isso.



Os meus dois cêntimos:
Os professores já deviam ter começado a ser avaliados há muito tempo, dado que há imensos incompetentes a dar aulas e bons profissionais no desemprego.

Contudo, este modelo de avaliação é a coisa mais absurda desde... Sei lá. Não percebo muito bem como vão pôr uma coisa destas na rua sem experiências, quando se nota que foi feito à pressa e sem pensar em todos os parâmetros. Interessa avaliar, sim. Desta maneira? Não. Não creio que o medo dos professores seja ser avaliado, mas sim ser avaliado por alguém que tem menos habilitações do que eles, que nem sequer é da mesma área, que o fará ou cedendo a interesses, ou de modo a não ficar mal visto - independentemente de ser justo ou não, de deliberadamente favorecer ou prejudicar o professor avaliado.
Mas que importa ter professores com o 11.º ano ou bacharéis a avaliar licenciados e mestres? Porque é que havíamos de dar relevância a interesses que podem favorecer ou prejudicar? O que interessa é avaliar! Vamos avaliar sem pensar nas consequências, porque é bom, porque dá a impressão de que estamos a limpar o ensino! É uma pena que "nem tudo o que parece, é..." como nas estatísticas que ali o Inmist referiu.

As estatísticas... Leva-me a outra coisa gira. Avaliar os professores segundo as notas dos alunos. Vai ser bonito, vai. Toca a passar tudo com cincos no básico e desassetes no secundário, para os alunos chegarem aos exames e chumbarem vezes sem conta.


Agrada-me ver esta união na classe dos professores. É uma profissão muito cansativa, muito ingrata. Trabalham que se fartam e as pessoas ainda dizem que têm mais férias, que não fazem nada, que ganham muito, etc. Quantas dessas pessoas são obrigadas a ir buscar exames às escolas, ficar uma semana em casa a corrigir dezenas deles e sem serem pagas por isso? Sim, porque os exames do nono ano não são remunerados, e os do 12.º é pela simbólica quantia de €4,99. E quantas são obrigadas a ficar em reuniões até mais tarde, sem poder ir buscar os filhos à escola? Quantas se deitam às três da manhã porque estão a trabalhar? Quantas mal têm tempo para dar atenção aos filhos porque há testes para fazer, para corrigir, planos de aulas a fazer? Não digo que não haja, mas parece-me que poucos se apercebem da realidade da profissão de um professor.

Os meus pais também são ambos professores e estou plenamente de acordo com a avaliação dos professores mas acho que o problema da educação nao passa só por aí.
Sinceramente o que me revolta mais neste momento é o poder que está a ser dado aos alunos. Actualmente é quase impossível um aluno chumbar. A minha mãe tem alunos no 9º ano que NÃO sabem escrever. Isto sim é grave. Os alunos não respeitam os professores, os casos de indisciplina aumenta de dia para dia. Mas como os meninos sabem que ninguém lhes pode fazer mal estão-se a marimbar.
Quem vai pagar é o país. Estes putos de agora vão dar uma rica força laboral dentro de alguns anos. Cada vez sabem menos e cada vez lhes é exigido menos.
Eu acabei o curso superior no ano passado e fico revoltado em ver que a média do meu curso desceu 2 valores em apenas cinco anos... A culpa será só dos professores?? Não me parece...

A culpa obviamente não é só dos professores. O problema é que de há uns anos para cá os nossos governantes tem passado a ideia de que a culpa para este estado da educação é unicamente dos professores, quando na realidade não é. Actualmente é mesmo muito complicado chumbar alunos, não havendo grande espaço para o rigor que deveria ser necessário no processo educativo. E depois temos que ver que enquanto questões ligadas à saúde tem efeito a curto prazo e mobilizam as populações com mais facilidade, na educação o efeito destas medidas é a médio longo prazo. A grande maioria dos encarregados de educação já ficam satisfeitos por ver que os filhos tem positiva não questionando sequer se os conhecimentos deles são suficientes e de qualidade. O certo é que o bom professor é aquele que dá boas notas, se o insucesso é muito elevado a culpa será sempre do docente e não dos alunos que não estudam.

O que é revoltante é a passividade da ministra da educação... ela diz que não há soluções... como pode dizer que não há soluções sem saber a opinião dos professores? É fantástico... enfim...