Deathspell Omega - "Paracletus"

Demoniac
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Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Demoniac » terça nov 09, 2010 6:39 am

Dado hoje ser a estreia deste álbum e ter lido tanto sobre ele, aqui vai o que eu acho.

Gostava de salientar que eu achei o FAS uma experiência com muito poucos resultados. Era uma montagem de estúdio que não passava de um mar de dissonâncias sem grande direcção ou espinha (tirando a lírica que pelos vistos é o grande forte da banda). Eu sou um gajo que liga às letras e claramente que são uma excelente adição, mas acima de tudo gosto muito de musica e o FAS de musical tinha pouco. Nem era por não ser melódico, dado eu gostar de noise e alguns ambientes extremos e para muitos os "mal" produzidos. Para mim musica é nada mais que uma canalização de emoções e para mim o FAS é uma experiência pretensiosa e falsa (na sua execução) - Claro que não posso provar, mas duvido muito... que aqueles temas tenham sido tocados do principio ao fim numa sala de ensaio(no metal isso chateia-me e simplesmente não funciona). No reino do Death Metal Experimental/Avant-Garde existiu Gorguts com o seu extremo "Obscura", mas nem vamos sequer comparar.

Depois de ter perdido toda a esperança em DsO, no FAS,acabei por reganhar ao ouvir o split com SVEST. Fiquei algo satisfeito dado que o tema tinha contraste e em termos de caos era muito mais natural e fluente (muito ao nível de BaN - no reino do executável e de não perder horas em estúdio a fingir que aquilo é musica).

Ao ouvir este Paracletus só tenho a dizer que a nível musical eles mantiveram a linha apresentada no split com SVEST. Isto nas primeiras 3 músicas foi realmente algo do meu agrado e gostei (embora não achasse as musicas coesas ou marcantes, apenas riffs "engraçados" sem o balanço correcto). Depois começou a enjoar..... dado que os riffs eram semelhantes (demais) e sempre com as mesmas dissonâncias de meio e 1 tom (sempre nas notas mais agudas....)
Aliás existiram momentos em que eu achava que as malhas estavam repetidas e o rip não estava completo. A meio do álbum já estava completamente massacrado com tamanha parede de dissonância sem qualquer tipo de feeling. Lá aguentei até ao final e ainda apanhei uns momentos à lá Gantz e Mono lá para o fim (Scremo e Post-Rock) que podem entreter para quem não conhece estas bandas, mas eu gosto mais de ouvir os riffs originais.

O álbum não pode ser considerado mau e até é algo variado, comparando com o FAS e eles realmente tentam mas a meu ver já estão numa de colar riffs até aquilo funcionar minimamente.
Não posso dizer que estou desiludido pq não tinha expectativas nenhumas e acabei por ouvir apenas por curiosidade face a alguns comentários (De gente com gostos algo semelhantes aos meus).

Claro que para muitos isto é o álbum do ano e fico satisfeito por vocês. Isto para mim já é hype a mais (e sente-se isso um bocado na banda, eles parecem estar a ligar muito ao hype em volta deles. Eles deviam mas é relaxar e fazer o que lhes sai mais naturalmente e não forçadamente serem dissonantes durante 40m - com as mesmas leads de faz 3 anos e afins).

Um bom exemplo foi o que fui ouvir depois - Bethlehem: Stönkfitzchen. Pronto uma banda que está a voltar às suas raízes mas de uma forma muito natural e ainda algo refrescante. Estou a ser um bocado injusto é verdade. Deathspell Omega começou como banda rip-off de Darkthrone e afins (INfernal Battles) e depois começou a fazer coisas mais engraçadas (no talvez o seu melhor álbum) no "Inquisitors of Satan" e sim lá lançaram algo novo no género com o SMRC e tenho que admitir que é um excelente álbum. Depois do Kénôse foi sempre a descer musicalmente e a subir no nível lírico.
Bethlehem pode dar-se ao luxo de voltar às raízes dado que eles sempre tiveram um cunho muito pessoal no seu som. Perderam-se um bocado no meio industrial e estranho que eles lá criaram e foderam o SUIZID todo (na regravação). Este EP deles foi realmente uma bênção, dados os tempos que correm (para bandas do estilo) e nem o NK conseguiu estragar aquilo (a fazer aquilo que faz melhor tb).

Claro que qualquer segundo do Paracletus é superior a tudo o que Portal fez (tb não é preciso muito), mas pronto é como se fala por ai "Diz o roto ao nu!"

Se DsO é o futuro da musica extrema eu começo realmente a ficar preocupado. Eu adoro experimentação e sou a favor de se misturar todos os estilos e fazerem o que bem entenderem, mas ao o fazerem respeitem o momento e o que estão a fazer, no mínimo sejam honestos para com vocês mesmos (quem mais interessa tb).
O problema de DsO não está na dissonância (extrema) nem em se repetirem (dado que eu gosto muito do T. Hunger e não existe nada mais repetitivo que isso), está sim em não terem feeling nenhum nas passagens e na escolha de riffs para fazerem uma música. Tudo funciona se tiver o balanço correcto.

Claro que se o que querem é apenas abanar a carola e qualquer dissonância (quase ao calhas) de meio tom vos faz o dia isto é mais que apropriado e até é "giro" para se ouvir numa viagem e até recolher algumas ideias (dado que estes senhores são bons músicos a todos os níveis menos no mais importante - aquele que não existe nos livros nem se paga para alcançar).
Tudo na vida tem o seu propósito. Se depois de Deathspell Omega e 1 década de xerox bands (elas 'andem' ai) aparece algo realmente forte e interessante...tudo bem! Lá estarei.

Para resumir e não deixar muita complicação no ar. Eu acho que estes gajos têm as ideias no sitio e claramente eles estão a tentar algo e eu só espero que em 2013 saia algo interessante, mas algo se passa de muito errado ali também. Não sei se é por não ser uma one-man-band que musicalmente as coisas ficam assim tão dispares e chatas, mas eles que ouçam mais BaN e Drastus que até devem estar perto da casa de muitos deles.
Contudo acredito que vá ser o álbum do ano, pelo hype e por hj em dia as pessoas se contentarem com pouco. Quem acha isto extremamente original que oiça Gorguts (a partir do Obscura) com calma e Drastus (duvido que muitos conheçam em Portugal e deviam!).

Aliás não é as pessoas se contentarem com pouco, cada um tem o direito de gostar do que quiser e para muitos isto deve ter feeling e vai-vos dar "tesão" e pronto o incapaz sou eu aqui. Eu sou dos paranóicos, eu acho que o hype não é criado por aqueles que sentem algo a ouvir estas bandas e acredito que muitos por aqui(p.e) gostem a sério disto e só tenho que respeitar, mas a nível global eu cá acho que as pessoas nem gostam de arte a sério, elas gostam é das aparências e de se divertir, ligam muito a estórias que se repetem com mascaras diferentes e eles pronto vivem para isso.
Pensar e sentir para que ? o que importa é que todos gostam do que eu gosto :)


Melhor álbum do ano ? Clair Cassis, Burzum e outras que prefiro guardar para mim.

paulo figueiredo [RIP 2011/02/27]

Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor paulo figueiredo [RIP 2011/02/27] » terça nov 09, 2010 11:52 am

Concordo com 90% do que disseste.

Tenho dito com alguma ironia que este vai ser o álbum do ano pelo hype à volta da banda, mas não se pode tirar mérito à sonoridade desenvolvida pelos DO, que é sem dúvida muito acima da média no que toca ao BM actual. Traço um paralelismo com os Kylesa: é muito bom, mas também não é genial como os pintam.

De qualquer forma, ainda estou a digerir isto e depois faço uma review mais elaborada.

Clair Cassis não conheço, mas acho que o novo dos Svart Crown vai merecer destaque aqui no fórum (assim como Burzum).

Vooder [RIP 2011/01/03]

Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Vooder [RIP 2011/01/03] » terça nov 09, 2010 12:13 pm

Eu como não conhecedor desta banda posso confirmar o hype crescente que tenho notado à volta da mesma.
Estarei mesmo tentado a ouvir este disco por causa da "dissonância" que o Demociac referiu...

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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Grimner » terça nov 09, 2010 1:28 pm

É uma banda cujo impacto principal já foi feito no SMRC e no Kenôse. Por consequência, vão sempre ter o seu trabalho comparado a essas duas obras e, dado que houve um afastamento da sonoridade feita no SMRC, quem goste e quem não goste. A questão resume-se a se conseguir ou não encontrar método na sua loucura. E apreciar o dito.

Acho o álbum extraordinariamente bem composto, mais imaginativo que o FIM, e ao mesmo tempo mais "lógico" a nível de estrutura. As dissonâncias são bem menos massacrantes, sem que com isso estejamos a falar de um álbum menos intenso, pelo contrário. A musica (sim, porque apesar de dividida em 10, é uma única musica que aqui ouvimos) consegue o trabalho difícil de se manter coesa através das reviravoltas. É um trabalho difícil, labirintico, abrasivo, mas que para mim é uma aposta ganha e muito bem ganha por conseguir encontrar no meio de todo esse caos um fio condutor e em nenhuma altura me ocorrer "esta parte foi aqui metida a martelo".

E se as comparações a BaN, Gorguts, Ulcerate ou mesmo Abigor mais recente fazem inteiramente sentido, mencionar aqui Burzum é laranjas e maçãs. Uma banda usa a complexidade como arma, a outra o minimalismo extremo. E ambos os albums estariam a lutar pelo pódio das minhas preferências se os senhores Enslaved já não me tivessem facilitado a vida e a escolha para este ano. Mas o top 10 ninguem lhes tira.
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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Grimner » terça nov 09, 2010 1:36 pm

Vooder Escreveu:Eu como não conhecedor desta banda posso confirmar o hype crescente que tenho notado à volta da mesma.
Estarei mesmo tentado a ouvir este disco por causa da "dissonância" que o Demociac referiu...



Como em grande parte dos casos, o hype vai cair a bandas que até merecem reconhecimento dentro do seu determinado nicho e que acabam virtualmente endeusadas. O mal só está quando o hype polariza o discurso de tal forma que não dá qualquer espaço a permitir a opinião razoável. Neste caso, nada como ouvir e decidir por ti mesmo:


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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor BlackwaterPark » terça nov 09, 2010 2:16 pm

Até agora estou a achar o álbum magnifico e até algo inovador para a banda em algumas músicas, mas obviamente que vai ser preciso ouvir mais vezes para apanhar o efeito total.

Demoniac Escreveu:O problema de DsO não está na dissonância (extrema) nem em se repetirem (dado que eu gosto muito do T. Hunger e não existe nada mais repetitivo que isso), está sim em não terem feeling nenhum nas passagens e na escolha de riffs para fazerem uma música.

Não concordo, se calhar não têm é o feeling que estás à procura... a escolha de riffs é muito especifica de modo a serem contra-producentes propositamente, a arte destes gajos é conseguir juntar peças que não fazem muito sentido juntas e mesmo assim construir passagens com progressão melódica que fluem de uma forma não natural, de certa forma o feeling deles é um anti-feeling. Referiste Portal que fazem algo semelhante, e Virus também, que penso que já li algures que não deves gostar muito, que são bandas que aprecio em especial precisamente pelo mesmo motivo, entre outras bandas fora do metal que conseguem executar o mesmo tipo de sonoridade claro.
Mas até diria que aqui conseguem ser bastante mais melódicos e menos interessados em se submergirem na dissonãncia do que estava à espera.

Vaargseth [RIP 2012/04/25]

Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Vaargseth [RIP 2012/04/25] » terça nov 09, 2010 6:22 pm

Quando criaram o Metal, a regra era: não há regras.
A meu ver, os DsO quebram até as regras inexistentes. A música deles para mim não tem classificação, apenas podemos dizer que soa a DsO.
Com o FAS em 2007 os DsO criaram um bichinho em mim... com Paracletus, apenas digo que a seguir ao Summit de Thou, este é o álbum do ano.
DsO não desiludem...

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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Demoniac » terça nov 09, 2010 7:40 pm

BlackwaterPark Escreveu:Até agora estou a achar o álbum magnifico e até algo inovador para a banda em algumas músicas, mas obviamente que vai ser preciso ouvir mais vezes para apanhar o efeito total.

Demoniac Escreveu:O problema de DsO não está na dissonância (extrema) nem em se repetirem (dado que eu gosto muito do T. Hunger e não existe nada mais repetitivo que isso), está sim em não terem feeling nenhum nas passagens e na escolha de riffs para fazerem uma música.

Não concordo, se calhar não têm é o feeling que estás à procura... a escolha de riffs é muito especifica de modo a serem contra-producentes propositamente, a arte destes gajos é conseguir juntar peças que não fazem muito sentido juntas e mesmo assim construir passagens com progressão melódica que fluem de uma forma não natural, de certa forma o feeling deles é um anti-feeling.


Demoniac Escreveu:Aliás não é as pessoas se contentarem com pouco, cada um tem o direito de gostar do que quiser e para muitos isto deve ter feeling e vai-vos dar "tesão" e pronto o incapaz sou eu aqui. Eu sou dos paranóicos, eu acho que o hype não é criado por aqueles que sentem algo a ouvir estas bandas e acredito que muitos por aqui(p.e) gostem a sério disto e só tenho que respeitar, ....


Quanto à estória de eles serem anti-feeling isso já é relativo e parte de ti.

BlackwaterPark Escreveu:Referiste Portal que fazem algo semelhante, e Virus também, que penso que já li algures que não deves gostar muito, que são bandas que aprecio em especial precisamente pelo mesmo motivo, entre outras bandas fora do metal que conseguem executar o mesmo tipo de sonoridade claro.
Mas até diria que aqui conseguem ser bastante mais melódicos e menos interessados em se submergirem na dissonãncia do que estava à espera.


Virus não faz algo semelhante......... Virus é outra estirpe (bem agradável). Até eu uso dissonâncias e não me estou a comparar a BaN e afins.

Portal para mim é uma comédia. Nem os levo a sério minimamente. É um disco de BaN tocado ao contrário com buracos pelo meio.
Se queres "barulho dissonante" e intenso vai ouvir Masonna que é no mínimo honesto (aviso-te desde já que é bastante perturbante o som dele) ou então vai ouvir a Maja Ratkje (o Voices), mas pronto não vamos estar a discutir gostos. Apenas te respondi a esta parte pq disseste que eu não gostava de uma das minhas bandas favoritas (Virus).



Senhor Grimner não sabia que o álbum era um malha dividida. Se assim o é já entendo o re-usar de alguns riffs (tão semelhantes durante o processo), mas sinceramente não mudou muito a minha opinião. Se eu já fiquei massacrado com apenas 2 audições do mesmo riff.....imagino com mais.

(peço desculpa por estar a extraviar o main-course deste tópico, mas acho que é uma discussão importante e que se passa muito no mundo do Metal hoje em dia)
Spoiler: Mostrar
Eu gosto de ambientes caóticos e dissonantes, mas algo aqui não funciona para mim. Não deixo de concordar com o Grimner que eles tiveram algum cuidado nas estruturas e foram mais "melódicos" que no FAS/FIM.
Leviathan no "Massive Conspiracy Against All Life" tem ambientes semelhantes e funcionam a diversos níveis, creio que eles(DsO) saturam demais o ambiente com pormenores técnicos que não fazem a mínima diferença.

Para mim isto é um estudo social bastante interessante. Dado que tenho falado com alguns músicos e eles ficam todos excitados com o facto de na musica X aos xxm:xxm:xxs ele faz um swinganço no ride, nem é um swing dos parolos até parece bem feito, mas isso para mim só funcionaria se ele fizesse sentido na musica e não pq eles o puseram para serem mais eclécticos musicalmente.

Claro que isto é uma discussão bastante interessante e relativa. Aliás o álbum é bastante bom por isso, realmente aqui encontra-se de tudo (misturado e numa algazarra que só será assimilada daqui a anos lol).
Talvez a chave do sucesso deles esteja mesmo aqui. Creio que seja a opinião de muitos, eles só por terem determinados pormenores são músicos geniais (em termos criativos) e que é difícil por estes pormenores todos numa musica. Para mim esta linha de pensamento é falsa a vários níveis. Em qualquer tipo de arte, a técnica em nada valida a criatividade sendo apenas uma extensão da mesma. Muitos confundem este facto.

É relativamente fácil para um "musico" que não vale nada na composição e apenas é comparado a uma biblioteca de técnica e pomposidades que só lhe interessam quase por desporto e puder dizer "isto é fodido pá!" - fazer uma "malha" que englobe toda a sua frieza técnica. Eu conheci bastantes músicos assim.

Aliás é o que mais me chateia em qualquer arte - acontece só pq sim e não por qualquer outro fundamento mais relevante que a necessidade de estatuto através daquilo que eu crio.


As pessoas quando criam algo gostam de mostrar algum poder e gostam sempre de mostrar que o sabem fazer. Tudo bem aqui. Eu num trabalho cientifico o que mais quero é mostrar que sei a papinha toda e com sorte aponto para uma nova direcção.
Arte não é lógica é emocional /espiritual ou o que vocês lhe quiserem chamar. Claro que a maior parte das pessoas levam a música como divertimento e não pensam nela como arte. O maior problema do Death Metal (hoje em dia) é mesmo este - "olha para mim! olha para mim! eu sei, eu posso, eu faço!", "isto dá trabalho, é complicado/complexo"

E existem bandas que ganham estatuto com isto. O estatuto da técnica. Pegando na estória (pequenina) do Death Metal. O Death Metal começou como algo simples e sem grandes aparatos, leia-se: Atrocity, Possessed, Death (no inicio) e etc...
Aliás Death é o melhor exemplo no uso de técnica como extensão da sua arte.

Como eu disse previamente, existem pessoas que gostam de apenas ouvir isto numa música. Determinados detalhes são suficientes e uma pessoa tem que respeitar isso e pronto cada um vê e sente o que quer ao olhar para uma parede branca - Para muitos é um sinal de liberdade para outros é um sinal de nacionalismo e etc...

É claramente impossível existir uma formula que determine "hey isto não tem sentido aqui" é tudo relativo.

Existem bandas que têm bastante técnica e precisam da mesma para estender a sua arte(o Jazz e a musica clássica são Reis aqui) e no caso do Death Metal temos os Spawn of Possession (p.e.) e os Necrophagist.

No entanto existe algo aqui de interessante. Eu não gosto de Necrophagist e não consigo ouvir mais que 2x num ano. Já os vi ao vivo e tive que bazar a meio. No entanto em Necrophagist eu consigo entender o pq daquilo tudo. Existe feeling ali e não é do que eu ando à procura (parafraseando o BlackwaterPark) no caso de DsO eu acho que não existe nada ali.

Se querem caos demente e cheio de pormenores que realmente valem a pena (e pormenores bem mais técnicos e fodidos que em DsO - se é que isso significa algo para alguém) vão ouvir um senhor chamado Scott Fields.

o Scott Fields é um dos reis do free-jazz -> http://www.myspace.com/scottfieldsensemble (aviso desde já que ele varia bastante, não é bem uma formula. Oiçam o álbum Beckett)

Num mundo utópico todos iriam ouvir Scott Fields e iriam entender que eu não tenho problemas com musica caótica e que através das dissonâncias criam-se padrões de progressão amelódicos e esta é a sua arte e eu gosto muito.

Claro que isto não vai acontecer e muitos irão achar isto um esterco ou lixo sonoro.

Mas eu fui buscar o Scott Fields pq achei piada a muitos dizerem (lá fora, não aqui no forum) que este novo de DsO tinha momentos de Free-Jazz. É aqui que reside o problema.

As pessoas misturarem conceitos e palavras só pq um gajo qualquer no mundo decidiu misturar num saco pormenores ao calhas. É como jogar na roleta.....as vezes sai a cor que nós gostamos e noutras ficamos chateados por ter saído a mesma cor durante 60m.

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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor BlackwaterPark » terça nov 09, 2010 11:43 pm

Demoniac Escreveu:
Demoniac Escreveu:Aliás não é as pessoas se contentarem com pouco, cada um tem o direito de gostar do que quiser e para muitos isto deve ter feeling e vai-vos dar "tesão" e pronto o incapaz sou eu aqui. Eu sou dos paranóicos, eu acho que o hype não é criado por aqueles que sentem algo a ouvir estas bandas e acredito que muitos por aqui(p.e) gostem a sério disto e só tenho que respeitar, ....


Quanto à estória de eles serem anti-feeling isso já é relativo e parte de ti.

Too long, didn't read everything, sorry. O que queria dizer com "anti-feeling" era que do mesmo modo que se pode considerar que é necessário ter um certo feeling para conseguir boas passagens melódicas, poderia considerar então que seria necessário um anti-feeling para conseguir o oposto, neste boas passagens não melódicas. Relativo ou não, é perceptível da minha parte quando esse anti-feeling existe e transpira pela música afora.

O não gostares de Virus, devo ter feito confusão com outra pessoa, que raio... Eles fazem algo semelhante em relação ao que pretendem obter das guitarras a nível atmosférico de um modo geral (estavas a referir a escolha de riffs na quote), não estou a dizer que têm sonoridades totalmente iguais.

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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Zyklon » quarta nov 10, 2010 1:11 pm

"It is a dreadful thing to fall into the hands of the living God!"

"Paracletus" é o final da trilogia iniciada no "Si Monumentum Requires, Circumspice" e continuada no "FAS-Ite, Maledicti, in Ignem Aeternum".
Está assim encerrada uma das propostas mais marcantes e originais surgidas nos ultimos anos dentro da musica extrema..
Falar de DsO e daquilo que conseguiram obter ao longo dos ultimos anos não é tarefa facil, chega por vezes a ser dificil de entender a forma como eles conseguiram usar e transformar um estilo que ainda é visto como um bicho de sete cabeças, tanto pelo lado de fora como pelo seu proprio interior.
Primeiro na forma sublime como conseguem enrolar passagens biblicas e dar-lhe uma volta completamente invertida transformando o lado cristão num conto de horror ao qual adicionam por cima uma camada de "filosofia teologica" que mesmo que não se compreenda na sua plenitude consegue ser cativante o suficiente..
Segundo, a forma como conseguiram dissolver a "teologia satanica" numa sonoridade que acabou por transformar praticamente todo o movimento Extremo, igualando a complexidade lirica com o lado instrumental criando um universo tão dificil de encarar como de absorver.
Os trabalhos da fase pos SMRC continuam a ser considerados por mim como autenticos marcos dentro da musica seja ela de que genero for e não reconhecer é cair no lado idiota do trvismo ou então não compreender nada da musica que se ouve e supostamente nos toca cá dentro.
Apesar de ser um filho bastardo desta trilogia o Kenose foi na minha opinião a Maria Madalena que se veio envolver sexualmente com Ele, isto usando metaforas biblicas.
Dessa união nasce o aborto FAS, bastante incompreendido diga-se, cru e horroroso (talvez o mais mesmo deles), mas que retrata o lado mais demoniaco e humano depois da exploração inicial dada á entidade criadora..
Finalmente o "Paracletus" é o elo condutor que liga e fecha toda a trilogia, tal como no cristianismo o "Espirito Santo" (derivação|significado do titulo grego) é a base que une espiritualmente Deus e o Homem, transformando ambos numa entidade unica, ou seja a Santissima Trindade ("Pai, Filho e Espirito Santo") a que a banda se propos criar está finalmente revelada embora aqui DsO (como escrevi) invertam a teologia biblica.
Explicado o lado mais "teologico" a musica criada por DsO atualmente mostra uma banda ainda muito á frente de todos os seus parceiros ou seguidores.
È natural que se encontrem semelhanças com muita coisa e com nada, mas a formula criadora desta entidade consegue ainda deixar qualquer um de cabeça completamente baralhada..seja por bons seja por maus motivos.
Falar de musica Extrema mais vanguardista nos ultimos anos e não ter em conta aquilo que esta banda ajudou a desenvolver quase não tem sentido, já que juntamente com Blut Aus Nord, Funeral Mist ou Leviathan (principalmente no MCAAL) vieram como que dar um toque de genialidade que não tem paralelo e mais nada que se ouça dentro lado mais "feio" do Metal, tendo inclusive força suficiente para entrar noutros dominios, como acontece com Ulcerate ou Pyramids (por exemplo).
O Paracletus é de tal forma bem construindo que a a propria banda desce ao lado mais natural das coisas e mostra aos seus seguidores como se faz.
Temos por exemplo uma faixa como a surpreendente "Apokatastasis Pantôn" que agarra naquilo que se faz de mais interessante atual Post, levando-o e sentando-o á direita do Pai (usando mais uma metafora biblica).
Aliás este lado mais "luminoso" é bastante retratado ao longo do album, tendo ficado inclusive com a ideia que este album é o mais aberto e liberto deles até hoje, embora sem com isso se perca aquela aura mais agressiva que tão bem conseguem implementar nos temas.
Muito labirintico e complexo a forma como usam a dissonância (por vezes até em demasia) continua a ser uma imagem de marca o que juntado com a excelencia instrumental torna este album num dos mais dificeis e absurdos para tentar digerir, um pouco como acontece com os bons albuns de Math (outro ponto onde DsO desce do seu pedestal e vem mostrar como se faz).
Talvez achem estranho ter falado de Post e Math, mas se ouvirem bem o album talvez entendam o porquê de falar nisto é que isto a dada altura torna-se num compendio musical digno de ser estudado.
O uso de vocalizações duplas (mais audiveis em phones) e as declamações em francês (que se misturam com o inglês) são outro ponto não de viragem mas de envolvencia que trazem um pouco á tona certos momentos de Gantz e se misturam com o movimento BM francês.
A voz aqui acaba por ter um papel primordial já que a forma como se serpenteia ao longo das faixas sejam elas tocadas de uma forma anti-celestial ou não, atua como o complemento exato para aquilo que se ouve ou sente (consultar e acompanhar letras).
Outro aspeto que achei curioso (e já não é a primeira uma vez) é a forma como conseguem usar a distorção das guitarras, escutem com atenção a "Apokatastasis Pantôn" ou a "Wings of Predation" (por ex) e vejam se não notam ali uma sonoridade bem ao estilo do Carlos Paredes?
Estranho?
Talvez sim talvez não, mas é nestes curtos pormenores que este album é grandioso, na forma como brinca com a musica atual de todos os generos ou estilos, os viola, disseca, espalha, repete e junta de novo como se a musica não fosse mais do que um quadro de beleza (num sentido literal) sinistro e horroso e onde DsO são apenas a ponto mais infinito daquilo que ouvimos nos dias de hoje.
Perfeito?
Deixo ao vosso criterio...mas por enquanto continuem a olhar feitos burros para o palácio.

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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Vooder [RIP 2011/01/03] » quarta nov 10, 2010 2:39 pm

Grimner Escreveu:
Vooder Escreveu:Eu como não conhecedor desta banda posso confirmar o hype crescente que tenho notado à volta da mesma.
Estarei mesmo tentado a ouvir este disco por causa da "dissonância" que o Demociac referiu...



Como em grande parte dos casos, o hype vai cair a bandas que até merecem reconhecimento dentro do seu determinado nicho e que acabam virtualmente endeusadas. O mal só está quando o hype polariza o discurso de tal forma que não dá qualquer espaço a permitir a opinião razoável. Neste caso, nada como ouvir e decidir por ti mesmo:



Interessante, eh pah se calhar vou dizer uma blasfémia aos olhos dos fãs, mas ouvi aqui algo do 1º disco de Dillinger Escape Plan...

Vou "comprá-lo" para ouvir melhor

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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Grimner » quarta nov 10, 2010 2:54 pm

O "princípio" inerente à musica é o mesmo, sem dúvida, a construção e a aplicação é que estão adaptadas para reflectir a temática. Que como o Zyk disse, é tão "vanguardista" quanto a música.
Eu já vi o raxx num papo seco

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paulo figueiredo [RIP 2011/02/27]

Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor paulo figueiredo [RIP 2011/02/27] » sexta nov 12, 2010 1:38 pm


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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor Grimner » sábado nov 13, 2010 2:30 am

Só para dizer, o sistema de pontuação do Metal storm é muito pateta.
Eu já vi o raxx num papo seco

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BlackwaterPark
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Re: Deathspell Omega - "Paracletus"

Mensagempor BlackwaterPark » sábado nov 13, 2010 2:42 pm

Grimner Escreveu:Só para dizer, o sistema de pontuação do Metal storm é muito pateta.

Porquê?

Neste momento é álbum para cair no meu top 15 do ano no minimo, não sei vai ao top10 porque a concorrência até é forte. Por mais que goste da fase 1, a fase 2 a partir da Epiklesis II é especialmente assombrosa, não me canso de a ouvir.


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