
Se com o trabalho anterior tinha chegado a um clímax composicional de se lhe tirar o chapéu, aqui explora as texturas cinematográficas numa forma digna dum filme noir, camuflado por um nevoeiro brotado dum cigarro feito de incenso.
Com uma abertura imperial, é desde logo que se sente que algo está diferente no espectro da musicalidade inerente à forma da escrita e som protagonizado: paragens soturnas invadem as paredes solitárias imensamente frias e calorosamente estáticas. A viagem vai-se dando numa toada com toques de brisa noturna ao volante dum carro velho e ferrugento, onde cães se atravessam no caminho por entre as folhas caídas no meio dum pinhal verdejante.
A cor não é feita de arco-íris mas sim de preto e branco. A meio da viagem é preciso abastecer a concentração com tragos de eletricidade que brotam de afinações dignas dum quadro de outono, acompanhados com a batida adjacente dum coração sistemático que nunca sai do rumo certo para atingir essa velocidade constante. Mais à frente, num outra paragem, há um vendaval deslumbrante, uma máquina de fazer chuva ácida onde quem se molha é somente quem quer saborear o resultado do experimentalismo muito bem conseguido por veia da mestria bem delineada. Um caos envolvente.
Com esta obra de arte, chega-se a um patamar onde o black metal está para a inteligência como o fumo está para o fogo. Atiçando a fogueira, cria-se aqui algo que pode ser verdadeiramente um vulcão sonoro oriundo dum cérebro em expansão, que jamais queimará uma mente aberta e sedenta de inovação.
Headphones e uma sala escura é tudo o que se quer. O filme desenrola-se num asfalto com alcatrão cinzento, onde a negritude apenas ajuda a carburar o abismo que nunca chega a ser atingido, antes pelo contrário. Profundidade e emoção num disco arrojadamente vitorioso.