
"Em fase de crescente popularidade, os suecos Amon Amarth são uma das bandas mais aguardadas no que toca a lançamentos. Desde do já clássico «Versus the World» de 2002, cada disco acrescenta uma vitória incontestável ao império dos vikings e apenas o morno «Surtur Rising» (2011) refreou a conquista de troféus adicionais. Ainda assim, a invasão alastrou, talvez com menos impetuosidade, mas também pouco menos do que decidida a conquistar o mundo. Daí que «Deceiver of the Gods» se afigure como extremamente importante para os gigantes suecos.
É certo que ao nono álbum de originais dificilmente poderemos esperar dos Amon Amarth algo que não seja o seu bombástico viking death metal, mas até isso tem jogado a seu favor, ajudando a criar em redor do grupo uma imagem de culto semelhante à de uns Iron Maiden. «Deceiver of the Gods» pretende manter esse estatuto inalterado, não desviando um milimetro que seja do caminho trilhado a partir de «Once Sent from the Golden Hall» em 1998.
Liricamente baseado na personagem de Loki, «Deceiver of the Gods» é assim mais uma runa de mitologia nórdica, que tem o aperitivo de conjugar uma estética "metálica" com personagens fantásticas que povoaram o imaginário das culturas norte-europeias. Mitos, guerra, religião (várias letras dos Amon Amarth abordam a chegada do cristianismo ao norte da Europa e respectivos conflitos), realidade e cultura: tópicos interessantissimos para letras heavy metal!
Musicalmente, «Deceiver of the Gods» é um disco que não fugindo muito daquilo que os Amon Amarth têm feito desde do início, apresenta algumas novidades. Desde logo o song writing mais crú e directo. As canções são todas bastante curtas (excepto as épicas «Under Siege» e «Warriors of the North») com estruturas simplificadas de verso-refrão e uma postura mais rock n' roll do que no passado. Se atentarmos aos álbuns mais recentes, os Amon Amarth apostavam num som bruto e compacto que acabou por fazer de «Surtur Rising» um disco monótono. Neste novo trabalho, as canções "respiram" mais, as guitarras abrem espaços a solos e à bateria versátil, não necessariamente rápida, mas muito mais equilibrada, como na brilhante passagem de «Blood Eagle» para «We Shall Destroy».
Também as vocalizações de Johan Egg são mais efectivas, fruto de uma equilibrada gestão de tons que fazem com que esta seja, quanto a mim, a sua melhor performance de sempre. A pérola deste maior foco nos vocais fica patente no dueto de Hegg com Messiah Marcolin (ex-Candlemass) no brilhante tema «Hel» quase no final do alinhamento. Uma canção típica de heavy metal que caberia no repertório de uns Judas Priest.
Mas os hinos acabam por ser muitos, residindo aqui o maior trunfo de «Deceiver of the Gods». As músicas que inicialmente parecem carecer daquele peso monolítico de um «With Oden On Our Side» (2006), desenvolvem uma personalidade muito própria, por culpa dos refrões catchy e dos riffs mais directos e definidos, como em «Father of the Wolf» e «Shape Shifter», só para citar dois dos meus temas preferidos.
Dito isto, é natural que as primeiras impressões possam não ser as melhores (já li reviews pouco abonatórias). Fugindo ligeiramente daquilo que andaram a fazer recentemente, os Amon Amarth arriscam-se a recolher algum feedback menos positivo. Porém, ouvindo «Deceiver of the Gods» com atenção, percebe-se que estamos perante um chamado "grower" ou "sleeper". Daqueles que a pouco e pouco vão ganhando o seu espaço, tal táctica de guerra psicológica, como a utilizada pelos vikings nos seus impiedosos cercos a cidadelas do sul. Lenta, paciente e fria, mas nem por isso menos letal."
9/10
in http://eventhorizon-space.blogspot.pt/2013/06/amon-amarth-deceiver-of-gods_24.html