Mal dormi, Dói-me o pescoço, mas tenho a alma lavada. Um gajo mete-se à estranha para fazer 600 quilómetros atrás de um sonho, de uma ilusão. Existe um querer comum diluído entre todos: Ricardo Martins, Rui Puga, Sérgio Alves, Gonçalo Marques. Moita, lá fomos nós. Cinco cabeçudos dentro de um carro. Às vezes a paciência não é muita, mas estávamos todos bem dispostos. Apenas não podíamos bater de frente, senão acabava degolado pela caixa da minha guitarra (alguém vende um atrelado/reboque?).
Seis e tal, chegámos com meia-hora de atraso. Pedimos desculpa e descarregámos o material. Somos uns sortudos, pois disponibilizaram-nos o backline praticamente TODO. Montada a banca do merch - aquilo que muita gente não sabe, mas representa um enorme investimento por parte de uma banda independente, e acaba por ser uma das poucas fontes de lento rendimento -, hora de fazer uma pequena pausa. Os manos Aernus faziam o som. Nós não tivémos essa sorte, mas não me estou a queixar; é a lógica e a logística natural de um evento desta dimensão, tão bem montado pelos manos Hugo Switchtense, Neto Switchtense, Karia Swt, Xines Switchtense e Nuno Pardal Switchtense. Eles merecem tudo. Toda a "sorte" que eles têm provém de muito trabalho. "Trabalho", sim - isto é o trabalho de alguns e espero que nunca tenha deixado de ter a sua pitada de diversão. Recebem-nos sempre bem, falam connosco ao mesmo nível, não há para eles atitudes de rockstar. Por isso estão onde estão e são, para mim, a melhor banda portuguesa da atualidade. Não precisam de estar no Rock in Rio para sê-lo - mais vale um Moita Metal Fest natural do que um RiR enlatado...
Oito horinhas - hora de comer. "Para tudo existe uma hora", já o diz o grande Ednaldo Pereira. Felizmente, ontem houve jantar para as bandas (uma vez mais, não me estou a queixar, estou a agradecer!), e que belo bacalhauzinho à brás. Os Bizarra Locomotiva jantavam com o Emanuel da Hellxis, um man igualmente 5 estrelas. Não adivinhando se viria mais gente jantar ao mesmo tempo, abancámos mesmo em cima deles - o que, para quem conhece Bizarra, não deixa de ser engraçado

há ali gente volumosa, haha. O Gonçalo e o Ricardo não comeram tudo (para não se gregarem em palco), mas os restos não foram para o lixo - nesta banda aproveita-se tudo, e o bacalhau soube-nos mesmo bem às 4 da matina!!
De volta ao backstage, um aconchegador 2x3 que partilhámos com os manos Atentato (Sôr Enginheiro!) e Aernus, um gajo tem de afinar todas as guitarras e baixo, e ir aquecendo. Tenho por norma ficar uns 20/30 minutos a escacar pedra sem som, então vou cantando as notas que supostamente estarão a saír, para grande desconforto do Gonçalo, que diz que estou a tocar dramaticamente mais rápido que o CD - se fosse ao contrário é que ficaria preocupado! Infelizmente, um gajo nunca apanha a banda que toca antes de nós, à pala dos preparativos para a nossa própria atuação.
21:40. Como um relógio suíço, está na hora de subir ao palco. Temos 15 minutos para montar tudo e fazer um line-check. O Pardal ajuda-me - deu cabo da mão direita, num tralho que mandou, desgraçado. As melhoras! Anyway, um cabo novinho em folha (daqueles que te dão aquela confiança para não levar outro), decide jogar às intermitências. Fucker. Ainda me deu cabo da pinha durante a actuação. Toquei com um Marshall, e tive bastantes saudades do meu Peavey 6505. É bom chegar ao palco e ter o "nosso" som, o nosso bicho amestrado a debitar os décibeis da forma que gostamos. Mas, siga, que a malta quer é abanar a cabeça e nós já tivemos a sorte de ter alguém a pré-aquecê-los.
Nunca sabemos como vamos ser recebidos, nem para quantas pessoas tocamos. Nunca. Mas uma coisa sabemos: lá em cima é para escacar pedra da melhor maneira possível, cada pessoa merece isso, sejam 9, sejam 400. Solta-se o acorde inicial e é sempre bom ver caras conhecidas (Bernardes, Novais, Marques, Galamarra) - um gajo fica com o espírito mais quentinho. Penso que eram umas 400 pessoas, ontem - nunca tínhamos tocado para tanta gente. Independentemente de alguns problemas técnicos (e um gajo sabe sempre que há músicos no meio do público; alguns compreensivos, outros a contar com um deslize para comentar com o gajo ao lado), penso que demos a nossa dose tradicional de thrash metal. Abriram-se as primeiras rodas, e viu-se gente a abanar a cabeça. Lindo. É por isto que fazemos o que fazemos.
Meia hora a botar brita e já estava. Às dez e pouco já voltávamos à banca do merch, onde ainda vendemos alguns isqueiros, tshirts e tal. Tirámos a temperatura à nossa atuação, que confirmava aquilo que já deduzíamos - um pouco asalganhada, mas bastante competente e satisfatória, no geral. Haja atitude. Os outros concertos foram vistos acompanhados de umas loiras fresquinhas, entre amigos. Atentado, Process of Guilt, Bizarra Locomotiva - todos tiveram atuações impecáveis.
Depois de contas feitas com a organização - não falham -, ainda comprei uma tshirt do fest. Tiramos umas fotos, dizemos adeus. Siga, que ainda dá para chegar a Coimbra a uma hora decente (antes das 6 da manhã). O Ricardo foi o nosso condutor 100% cool, quem se sacrificou para ir e voltar conduzindo mais 4 gajos tão chatinhos... Mais chatos a voltar, do que a ir. Porque será?

Com Ednaldo Pereira como música de fundo, foi um tirinho.
Obrigado a todos aqueles que fazem parte disto e apoiam quem tanto precisa!
Próximas datas:
20 Abril - Lousã (X-Tus) com Revolution Within
26 Abril - Coimbra (States) com Gates of Hell e Dark Oath
8/9 junho - Areeiro Open Air, Santa Cruz da Trapa.
FACE THE TERROR!!!