Portanto o meu dia de concertos em Paredes começa com:
Portugal. The Man. - Esta banda que sofreu muitos trocadilhos ao longo da tarde ('Há aqui muito pessoal que acha que esta banda é portuguesa... Portanto irão ficar na tenda') deu um concerto engraçado, suave e com bom ambiente. Bom para estar sentadinho e resguadar energias para a máquina industrial da noite. Estes rapazes do Alaska têm um som agradável, embrenhado num classic rock com uns jams psicadélicos que caiem bem naquele anfiteatro.
Blood Red Shoes - Bom concerto de uma daquelas bandas que só resulta ao vivo. Fui ao myspace e não vi nada de original, nada demais, mediano mesmo. Ao vivo conseguiram potencializar muito bem o seu trabalho musical e arrancaram ao público alguns movimentos corporais. A certas alturas parecia estar a ouvir Placebo, dadas as semelhanças vocais do baterista com o Molko.
Peaches - Desci um pouco para ficar bem localizado para NIN. Esta Peaches é +/- uma versão 'Hardcore XXX' da Madonna. Gosta de provocar com músicas do estilo 'boys shake your dicks, girls shake your tits', com roupas excêntrico-sexuais, acompanhada de uma teclista/guitarrista também ela desnudada. Espectáculo engraçadote... O seu som 'upbeat' é mediano, nada de mais, mas deu para passar o tempo, já que a moça fez questão de subir pelas colunas ou a fazer um mini crowdsurf em que foi apalpada por um puto. Foi, então, um concerto que valeu mais pelo que se passou extra-música, como era de esperar.
Nine Inch Nails - Lá estava eu bem no meio pronto para o meu 4º encontro com o Trent Reznor. Dizia à minha namorada que iriam abrir com a cavalona 'Somewhat Damaged' e assim foi. Escusado será dizer que a confusão foi total, com poeira por todo o lado, encontrões, esmagamentos... Muita energia acumulada, acompanhada por álcool e estupefacientes só poderia dar naquilo. Esta toada intensa manteve-se até à Piggy, onde a coisa acalmou um pouco com esta slow-motion épica do Downard Spiral.
O espectáculo de luzes não estava nem de perto nem de longe tão magnânimo quanto o da Tour LiTS nos EUA o ano passado, mas metia respeito. Enquanto as luzes brilhavam e ofuscavam muitos de nós, altura para uma cover do David Bowie: 'I'm Afraid of Americans', precedida pela The Becoming. Mais uma sessão de ondas de choque, seguidas pelas agressivas Burn e Gave Up, duas das minhas músicas favoritas de NIN. Headbang até não poder mais, agora num sítio mais tranquilo.
Trent também fez questão de mandar uma farpa à Peaches dizendo: 'Playing after Peaches. Fuck!' e enquanto isto entrávamos na parte mais calma do espectáculo: La Mer, Frail/Wretched, The Way Out is Through, Gone Still, Non-Entity... Para muitos foi um ponto morto, para mim foi memorável, adoro aquelas passagens melancólicas de álbuns como o Still ou este b-side Non-Entity. Aqueles teclados, xilofones e afins dão uma textura diferente e re-inventada à perfomance de NIN.
A GRANDE I Do Not Want This (uma das melhores da noite) precedeu a onda de hits: Wish, Survivalism, Hand That Feeds, Head Like a Hole e Hurt no encore. Foi o fecho habitual, com tudo a ser cantado em uníssono, até porque são algumas das faixas mais emblemáticas da carreira de Trent.
Em suma:
Muito bom concerto, a máquina de NIN continua impecávelmente oleada e a constante alteração de músicos contribui para essa revitalização.
A energia e raiva do Trent são assinaláveis, tocando cada faixa como se fosse a primeira vez, rangendo os dentes e cuspindo ódio. Ontem não falou quase nada, granjeou a plateia com um 'great audience' e pouco mais.
Robin Finck bem ao seu estilo, talentoso e versátil, com uma naturalidade e simpatia que agradaram ao público. Grande bicho de palco.
Nunca gostei muito do Justin Meldal-Johnsen e ontem também não foi excepção. Prefiro bem mais o Twiggy ou o Löhner, JMJ parece-me desenquadrado, apesar de uma boa perfomance.
Quanto ao puto Ilan Rubin: impecável. Josh Freese deixou a fasquia muito alta mas este jovem não se fez rogado e aproveitou com toda a garra esta oportunidade única na sua carreira. E ainda foi tocar a Frail no piano do Trent.
Não gostei que não tivessem incluído qualquer faixa do Slip. Echoplex, Head Down, Letting You, 1,000,000 e Lights in the Sky eram muito bem vindas. Bem como uma Me, I'm Not do Year Zero. Pareceu um setlist à Coliseu.
Valeu a pena o tempo, dinheiro e energia despendidos e espero que não seja mesmo a Tour Wave Goodbye.
